Adicção aos opioides dos laticínios
Por Sônia T. Felipe
Se uma pessoa já viveu 21 anos, descontando-se o primeiro ano de amamentação, essa pessoa já ingeriu 21.900 refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e pelo menos 14.600 lanches. Temos, no total, 36.500 ingestões.
Segundo o filósofo grego Aristóteles, nascemos com uma certa bagagem genética, um éthos que não define de todo o que fomos, somos ou seremos. Além desse éthos biológico, forjamos um segundo éthos e esse sim define nosso caráter, tanto do ponto de vista das nossas necessidades físicas, quanto das afetivas, emocionais e morais.
Hoje, na ponta da biogenética, os estudiosos se voltam para o estudo da marca ambiental sobre nossos genes, a ponto de nenhum dos cientistas da epigenética crer que nossos genes determinam o que somos ou até mesmo nossas doenças. O que comemos ou respiramos e as emoções e pensamentos que acalentamos têm uma força antes não imaginada pela ciência, embora afirmada por todas as tradições espiritualistas, sobre cada uma das células do nosso corpo.
Fiz essa digressão sobre o número de refeições ingeridas ao longo de duas décadas, fui até à Grécia para ter presente a tese de que a ética depende dos hábitos morais e cheguei no que há de mais avançado na epigenética, para falar da influência dos alimentos sobre nossa mente e de como a conhecida frase: “somos o que comemos” tem mais sentido do que imaginávamos até há pouco tempo.
Voltemos à ética na alimentação. Se os alimentos que colocamos para dentro do nosso organismo levam consigo o poder de marcar nossas células em sua estrutura genética e molecular, e se essas marcas podem ser da ordem da energia quântica ou mesmo além dela, não devemos menosprezar o hábito de ingerir certos alimentos e a adicção que eles podem produzir em nosso cérebro, a ponto de, quando estamos com fome olharmos imediatamente para certos alimentos e não para outros nunca ingeridos quando sentimos fome.
Entre os alimentos que mais viciam o cérebro e formatam a mente estão o açúcar, os estimulantes que contêm cafeína, teína e caseína e as moléculas de gordura animal. Chegamos, com a caseína, aos alimentos derivados do leite de vaca. Muitas pessoas afirmam ter parado de comer carnes sem drama, mas não conseguem parar de ingerir queijos ou derivados do leite de vaca.
O leite de vaca tem má fama, no senso popular e mesmo entre os profissionais de saúde, por conta da lactose, composta de duas moléculas, uma de glicose outra de galactose, que só pode ser digerida quando o organismo produz a lactase, uma enzima que na maior parte da população mundial, por uma herança evolutiva, deixa de ser produzida quando se forma a arcada dentária nos mamíferos, pois os dentes são os instrumentos para macerar os alimentos e obter os nutrientes presentes no leite materno. Isso vale para todas as espécies mamíferas, razão pela qual nenhum mamífero continua a usar leite materno após se formarem os dentes, apenas os humanos, especialmente os que sofreram a colonização europeia, o fazem. Todos os mamíferos começam imediatamente a comer os alimentos sólidos comidos por suas mães, assim que têm seus próprios dentes.
No leite de vaca tem algumas proteínas em menor quantidade, e uma bastante concentrada, chegando a 83% do total delas: a caseína. As vacas descendentes da espécie Bos indicus, conforme o nome sugere, o gado hindu, não produzem a proteína A1 no leite, mas as vacas europeias, as Bos taurus a produzem. Essa proteína que mal e mal é digerida pelo sistema digestório humano, quebra-se em um peptídeo conhecido como BCM7, ou betacasomorfina-7.
Conforme o nome indica, há morfina nesse peptídeo. O efeito dessa morfina no cérebro humano pode ser bem devastador, pois essa BCM7 se liga a 43 áreas diferentes do cérebro, roubando dele a recepção dos opioides que ele produz para restituir o equilíbrio das funções neuromentais diárias. Com o cérebro sujo de betacasomorfina-7, o indivíduo pode se sentir cansado, mau humorado, ter sono agitado, sintomas aguçados de autismo, esquizofrenia, hiperatividade, bipolaridade. Mas os efeitos da ingestão do leite de vaca por pessoas sem condições de digestão dessa matéria animal também podem causar transtornos fisiológicos e outras doenças, como o intestino preso, as diarreias, o colesterol LDL elevado, a litíase, ateromas, diabetes tipo 1, obesidade, enxaquecas e câncer.
Voltemos agora ao número de refeições às quais uma pessoa com 21 anos de idade já se submeteu. Em todas essas refeições, sem exceção, a menos que essa pessoa tenha sido alimentada com a dieta vegana, havia mais de um alimento contendo derivados do leite de vaca. O cérebro foi, portanto, bombardeado com a betacasomorfina-7 pelo menos 36.500 vezes em apenas 20 anos dessa dieta galactômana. Imaginemos agora que a pessoa tenha 40, 60 ou 90 anos.
Com o opioide do leite dominando a função do cérebro não podemos esperar que para um galactômano ocorra a mudança da dieta galactômana para a dieta abolicionista vegana sem algum impacto, especialmente de ordem emocional. Os médicos que tratam da questão da abolição do leite e seus derivados da dieta de um galactômano chegam a falar de “síndrome de abstinência” nos dias de desintoxicação dos laticínios.
Tirar o leite e os laticínios da dieta é uma decisão pessoal de foro íntimo, pois é preciso que a área do cérebro responsável pelos neurônios que contribuem para nossas escolhas morais seja colocada em ação, enfrentando o condicionamento opiáceo que a dieta galactômana exerce sobre ele ao longo de décadas.
Todo esforço, entretanto, vale a pena. Ao se limpar dos resíduos deixados no corpo pelos laticínios, o sujeito se sente mais leve, mais disposto, mais alegre e, assim, mais apto a ajudar a abolir o sofrimento animal, a devastação alimentar e ambiental causada pela extração e consumo de leite e as mazelas e doenças que afetam o próprio organismo.
Custa tentar? Faça a experiência de forma radical por 10 dias. Vai querer prolongar para sempre!
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