Atiçam cães contra outros: arte ou maus-tratos?
O museu Guggenheim de Nova York desistiu de exibir três obras de artistas de origem chinesa que deveriam fazer parte de uma exposição devido a uma grande mobilização. A mostra que será inaugurada no dia 6 de outubro e fará sem que os visitantes vejam um vídeo de cães correndo em esteiras frente a frente e sem parar, atiçados até a exaustão, outro vídeo de dois porcos copulando e uma instalação em que insetos e répteis são forçados a viver juntos (e a de devorar). Entre outras demonstrações de protesto, uma petição no Change.org conseguiu mais de 600.000 apoios. Nesta segunda-feira o museu anunciou, não sem antes demonstrar sua “consternação por ter que retirar obras de arte”, e reafirmou que a liberdade de expressão faz parte de sua essência.
A polêmica está servida. A instituição iria apresentar as três obras da discórdia na mostra Arte e China depois de 1989: O Teatro do Mundo, um ambicioso panorama do trabalho dos criadores experimentais de origem chinesa entre 1989 e 2008. Uma das peças retiradas é exatamente, a que dá nome a grande exposição de arte conceitual, com 71 artistas e 150 obras. A marca de Huang Yong Ping se chama Teatro do Mundo (1993). Trata-se de una urna no formato de um casco de tartaruga feita de metal e madeira, na que convivem insetos e répteis. De acordo com o The New York Times, “durante os três meses da exposição, alguns dos animais serão devorados, outros poderão morrer de estresse. Os fortes sobreviverão. De vez em quando, uma loja de animais de Nova York fornecerá novos exemplares”.
Dogs That Cannot Touch Each Other (2003) é um vídeo no qual oito cães pitbull correm sem parar sobre esteiras em duplas um de frente ao outro, de tal maneira para que haja enfrentamento e queiram brigar, são incitados com gritos e palmas, mas não chegam a poder tocar-se, pois estão presos por correntes. O filme de sete minutos, mostra o cansaço progressivo dos animais durante uma performance realizada pelos artistas Peng Yu and Sun Yuan em Pequim no ano de 2003. O casal considera que esta é uma de suas peças menos radicais. “É uma obra deliberadamente desafiadora e provocadora que busca examinar e criticar os sistemas de poder e controle” sustentou museu diante das críticas, “reconhecemos que este trabalho pode incomodar. Os curadores da mostra esperam que os visitantes considerem o porquê dos artistas conceberem e o que podem estar manifestando sobre as condições sociais da globalização e a complexa natureza do mundo que compartilhamos.
A última delas é A Case Study of Transference (1994), do artista chinês residente em Nova York, Xu Bingen. Nela dois porcos com caracteres chineses impressos em suas costas copulam. O museu tinha exigido que somente fosse mostrada a gravação de uma performance realizada em Pequim. O artista, de 62 anos, trabalhou em fazendas com estes animais em seu país natal durante a Revolução Cultural e assim explica seu trabalho ao The New York Times: “Os animais estão completamente incivilizados e os caracteres chineses são a expressão da suprema civilização”.
Por Ana Alfageme / Tradução de Flavia Luchetti