Cozinheira é conduzida até a delegacia após dar água a cachorros de rua no Largo, em Manaus, AM

Cozinheira é conduzida até a delegacia após dar água a cachorros de rua no Largo, em Manaus, AM
Cozinheira Ana Paula Barbosa. | Fotos: Divulgação

A cozinheira Ana Paula Barbosa, 40, decidiu dar água na tarde desta quarta-feira (17) para cachorros de rua que estavam no Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus, e acabou sendo conduzida por policiais militares até o 24° Distrito Integrado de Polícia (DIP), também no Centro, para prestar esclarecimentos.

Segundo Ana Paula, a gestora da praça, uma funcionária da Secretaria de Estado de Cultura do Amazonas (SEC), disse que era proibido oferecer qualquer tipo de alimento aos animais, mesmo o espaço sendo público.

“Avistei três cachorros de rua e fui colocar água em uma marmita para eles. Uma servidora perguntou quem havia colocado aquilo ali e derrubou a água com a vassoura. Então, fui até ela, e disse que eu tinha colocado a água para os animais. Fui andando e a questionando se a praça era pública ou privada? Ela então chamou a coordenadora da praça”, relatou a cozinheira.

“A gerente veio até mim e disse que era proibido colocar água ali. Perguntei novamente se a praça era pública ou privada, e ela respondeu que era pública, mas que eu não podia colocar água ali. Falei que, enquanto estivesse ali, ia continuar colocando água para os cachorros. Em seguida, ela chamou a polícia e o sargento Nunes (da Polícia Militar) me ameaçou dizendo que, caso não fosse à delegacia por livre e espontânea vontade, seria algemada”, complementou.

Ela informou ainda que o delegado do 24° DIP a liberou por não considerar crime o seu ato, mas que a coordenadora do Largo de São Sebastião teria relatado que estava cumprindo ordens e que os cachorros atacavam pessoas que utilizam o local.

Cachorros que estavam sendo alimentados por Ana Paula.

A advogada e vereadora Joana D’Arc (PR), que possui um trabalho de proteção aos animais, foi acionada por Ana Paula para acompanhá-la na delegacia. “Conversei com a gestora do largo e ela disse que é norma que não se alimente e nem dê água aos animais que ficam na praça. Expliquei que não existe nenhuma lei que proíba qualquer pessoa que seja de alimentar ou dar água aos animais, até porque eles são protegidos por lei e também são tidos como cães comunitários. Essa proibição já se tornou comum nos parques de Manaus e temos que denunciar”, declarou Joana, que na próxima semana irá protocolar um Projeto de Lei (PL) sobre o tema.

“A Ana resolveu dar água aos animais que estavam com sede e sofreu tudo isso. Ela foi levada como uma criminosa para a delegacia e a Polícia Militar atendeu prontamente o pedido da gestora do largo. Isso não deve acontecer. Vou lutar e tomar todas as providências para que não aconteça mais”, finalizou.

Marmitas com água colocadas por Ana Paula para os cachorros no Largo de São Sebastião.

A assessoria de imprensa da PM, por meio do capitão Saif, informou que a equipe foi acionada pelo Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) para atender uma ocorrência de furto que estaria acontecendo no Largo de São Sebastião, mas, chegando ao local, se depararam com a gestora da praça e a cozinheira discutindo sobre ser proibido ou não alimentar animais na localidade.

Como ambas não entraram em um denominador comum foram conduzidas até a delegacia. Segundo o capitão, os policiais não agiram com truculência e nenhuma das mulheres foi algemada. “Opiniões diferentes, mas acaba que a polícia é chamada para resolver tudo. Essa situação não cabia a nós, mas sim a um defensor público”, disse Saif.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da SEC, mas não teve a sua demanda respondida até o fechamento desta edição.

Por Rafael Seixas

Fonte: A Crítica


Nota do Olhar Animal: Mais um absurdo. Uma pessoa que ajuda os animais é constrangida por uma que nada faz. E a que nada faz ainda age de forma ilegal, alegando uma proibição que não existe na lei. Que a funcionária pública e própria prefeitura sejam acionadas judicialmente pelo fato. E que a Prefeitura se apresse em informar aos seus gestores que não há ilegalidade alguma em se fornecer água e alimentação aos animais de rua que, por responsabilidade em grande parte da própria Prefeitura, vagam pela cidade. A omissão da Prefeitura, sim, é que é criminosa.

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