Galgos britânicos e irlandeses são vendidos como ‘máquinas de fazer filhotes’ para criadores chineses
Dezenas de galgos campeões irlandeses e britânicos estão sendo vendidos para centros horríveis de reprodução na China, revela uma fonte do jornal Sunday Mirror.
Os cães de raça são usados implacavelmente como máquinas de fabricar filhotes, e alguns deles terminam sendo vendidos para o comércio de carne de cachorro quando não são mais férteis.
Um treinador de corridas horrorizado disse que parou de exportar para a China depois que viu um vídeo de um cão jogado vivo em água fervente.
Podemos revelar que, ao invés de desfrutar de um lar amoroso, os animais aposentados são vendidos por dezenas de milhares de libras.
Eles então são exportados para centros de reprodução de filhotes para a multimilionária indústria ilegal de corridas.
Com preços de até £10,000 (mais de 50 mil reais) por ninhada, os criadores extraem o esperma dos cães machos repetidamente e o congela, e então podem obter vantagem financeira sobre os cães por anos sucessivos depois que eles morrem.
Nossa investigação mostra que ao menos 40 antigos cães de corrida do Reino Unido e Irlanda estão atualmente enjaulados na China.
Um ativista dos direitos dos animais que nos alertou sobre o comércio doentio disse: “estas belas criaturas estão sendo tratadas como mercadoria”.
“Depois de correr em volta de uma pista por anos, ao final eles são enviados para um país onde as leis de bem-estar animal são lendas. Eles são completamente sugados até secarem”.
“O que é assustador é a falta do bem-estar animal na China, pois qualquer apostador pode acumular o dinheiro para um cão de raça e usá-lo como uma roleta de dinheiro sem qualquer obrigação de cuidar dele”.
“As pessoas pensam que os galgos aposentados vivem uma vida lenta e confortável no sofá, mas para esses sem sorte, a realidade é mais do que brutal”.
Embora não ilegal, a exportação de galgos para países com baixa proteção aos direitos dos animais, como a China, tem sido criticada por ativistas como “abominável” e “antiética”.
Dizem que os cães podem desenvolver problemas de saúde e comportamentais, como alguns ex-corredores que morrem nas instalações.
Nossa investigação descobriu anúncios retratando 44 ex-corredores do Reino Unido nos centros asiáticos, juntamente com seus cartões de corrida e detalhes do microchip.
Dois, Frisby Barney e Droopy’s Dale, foram resgatados. Ambos foram treinados na Irlanda e correram no Reino Unido.
Infelizmente, dois outros, incluindo um que correu 31 vezes em uma pista de prestígio, são dados como mortos.
Kerry Lawrence, da Birmingham Greyhound Protection, ajuda a coordenar os resgates de cães ex-corredores.
Ela disse que as condições dentro das instalações chinesas são sombrias, e que os cães são retirados de suas jaulas ao menos uma vez por dia para produzir esperma.
Kerry disse: “Meus voluntários têm me falado sobre as jaulas imundas, desnutrição e camas precárias. Os músculos dos galgos atrofiam pela falta de exercício, sem caminhadas e apenas compartilham um espaço confinado como banheiro. Eles são lugares infernais”.
“Os cães são nada mais do que reprodutores de filhotes, sem receber amor ou atenção”.
Enganchados aos cateteres, os machos produzem o esperma que é usado para a inseminação artificial ou congelamento.
Em outros situações, cães machos e fêmeas são mantidos em uma posição por até três horas enquanto manipuladores tentam fazê-los acasalar.
Kerry disse: “Os métodos não são necessariamente cruéis ou desumanos, mas a abordagem implacável, a chocante falta de cuidado e as circunstâncias sombrias em torno do processo são”.
Mas houve uma boa notícia esta semana, como Kerry falou, o resgate de duas doces criaturas.
O ex-campeão Frisby Barney, que correu nos nove estádios britânicos e definiu o recorde da corrida de Peterboroug Derby em 2013, foi salvo.
O cão da raça irlandesa foi enviado para um canil de criação de gado perto de Beijing, nordeste da China em 2014. Acredita-se que ele teve milhares de filhotes.
Kerry levantou mais de 110 mil reais para garantir o retorno de Frisby, e ele desembarcou no Reino Unido em 6 de abril.
Uma equipe de voluntários de sua organização na China, a Candy Cane Rescue, comprou Frisby por 86 mil reais depois de verificar a sua orelha tatuada e o microchip.
Mais de 25 mil reais foram gastos em voos e em contas do veterinário. Veterinários britânicos tiveram que castrar o cão de oito anos de idade depois que seus testículos encolheram após anos de reprodução.
Ele estava severamente abaixo do peso, coberto de feridas e 38 de seus 42 dentes foram removidos pois apodreceram.
Kelly disse: “Frisby foi extremamente respeitado durante sua carreira de corrida e vale milhões, mas uma vez na China, usaram e abusaram dele. Ele estava em um estado horrendo, que partiu meu coração”.
Compreende-se que um terceiro o levou para a China, já que o antigo dono de Frisby Barney disse que esta semana vendeu o galgo aposentado para um comprador americano há cinco anos.
Ele viu fotos dos cães e canis do comprador antes da venda, dizendo: “Eles pareciam estar em excelente condição.”
“Eu não tive nenhum problema na época. Se for verdade, estou triste ao saber disso.”
Depois de ouvir que Frisby estava de volta ao Reino Unido, o antigo proprietário contatou o comprador de Frisby e disse: “Ele me informou que Frisby Barney foi roubado e uma investigação policial está acontecendo”.
Um corredor irlandês chamado Droopy’s Dale, que também correu no Reino Unido, foi resgatado do mesmo canil sombrio em dezembro, a um custo de cerca de 15 reais, mais voos e contas do veterinário.
O cachorro foi treinado no Droopy’s Stud em Ballyvalican, Co Waterford.
O diretor Sean Murphy disse que ele e seu irmão Michael venderam seis cães em 2013 a um homem estabelecido em Hong Kong.
Eles imediatamente pararam de vender animais para a China depois de ver um vídeo horrível de outro cão de corrida sendo atirados dentro da água fervente cerca de cinco anos atrás.
Sean disse que ele conhecia os cães que tinham sido encontrados, mas não sabia que Droopy’s Dale era um deles.
Ele disse: “Alguns anos atrás, um companheiro se aproximou de nós para comprar cães”.
“Nós temos amigos procurando por nossos cães de todo o mundo: Portugal, Brasil, França, Alemanha. Eles queriam, através do departamento, obter os papéis deles em ordem. Nos asseguraram que que eles estariam”.
“Mas… Começou a aparecer na internet que os cães eram maltratados, alguns cães, não nossos cães, não aqueles que nós conhecíamos de alguma maneira”.
“Eu vi um cão vivo em um vídeo sendo colocado na água fervente. Quem faz isso, para ser honesto? Quando aquilo aconteceu, então foi o fim da [venda para] China”.
“Nós não sabíamos a quem os cães pertenciam, mas o vídeo apareceu e isso foi o fim”.
“Nós não temos exportado para a China há quatro ou cinco anos. Nós os criamos, alimentamos e cuidamos deles e fazemos o melhor possível com eles”.
“Nós gostaríamos de pensar que qualquer um faria o mesmo. Eu não gostaria que isso acontecesse com qualquer cão. Se aconteceu de ser nosso, torna tudo pior”.
Michael e Rita James, que dirigem a organização sem fins lucrativos Campaign Against Greyhound Exploitation and Death (CAGED), sabe de ao menos uma dúzia de centros de criação chineses após a denúncia dos denunciantes.
O casal trabalhou com Kerry por dois anos.
Michael disse: “Estas belas criaturas, algumas com focinheiras de fita adesiva, em instalações sombrias, reduzidas a uma mercadoria para gerar dinheiro”.
Dizem que um cão foi enviado para a China depois de quebrar suas pernas enquanto corria em uma corrida no Reino Unido.
Michael disse que os filhotes são vendidos por cerca de 4 mil reais cada se tiverem potencial para correr.
Embora o último estádio de galgos da China, o Canidrome em Macau, tenha fechado o ano passado, os ativistas acreditam que ao menos 25 pistas ilegais operam no país.
A corrida de galgos é o sexto esporte mais popular no Reino Unido, com 21 pistas regulamentadas.
Rita, que criou uma petição assinada por 50.000 pessoas até agora, acrescentou: “Nós nunca poderíamos reaver os belos cães enviados para serem maltratados no exterior, mas nós podemos introduzir uma legislação para garantir que isso não aconteça para qualquer outro”.
- Para assinar a petição de Rita, procure por “SAY ‘NO’ TO ALL LIVE GREYHOUND EXPORTS FOR COMMERCIAL ‘USE’” no Google ou na plataforma www.change.org.
- Doe para a Birmingham Greyhound Protection aqui.
Órgãos de corrida “abominam a crueldade”
O órgão regulador The Greyhound Board of Great Britain (GBGB) assumiu seu compromisso com o bem-estar dos cães, incluindo os aposentados, um ano atrás.
Respondendo a nossa investigação, o GBGB disse que apenas poderia intervir se entregasse a prova de que um dos titulares da licença enviou um galgo diretamente para a China.
Apesar de não ser proibida a exportação lá, o órgão disse que iria reprimir por motivos de bem-estar animal.
Ele disse: “Nosso mandado cobre a vida de corrida de um galgo e sua entrada para o que nós esperávamos que fosse uma longa e saldável aposentadoria.
“Infelizmente não se estende além disto”.
“Então, se, por exemplo, um galgo aposentado é então vendido para uma terceira parte (mesmo no Reino Unido ou na Irlanda) e então exportado para a China, nós não temos nem a responsabilidade de regular isso nem a habilidade para intervir”.
Ele acrescentou o GBGB abomina crueldade com galgos e tem diretrizes rigorosas sobre o bem-estar dos animais.
No Reino Unido, proprietários de galgos corredores registrados devem informar ao GBGB quando seus cães se aposentarem.
Ele disse que a grande maioria se torna animal de estimação.
A CAGED apela ao GBGB e à Irish Greyhound Board para tornarem as exportações ilegais, com uma exceção para instituições de proteção animal legítimas.
O IGB disse: “Estamos cientes dos relatórios que sugerem a crueldade horrível aos galgos na China e condenamos tais práticas terríveis nos mais altos termos possíveis”.
Ele acrescentou que está lançando um banco de dados digital para “rastrear” cães de corrida a partir do registro e está trabalhando com o Governo Irlandês como parte da sua Lei da Indústria do Galgo, que visa a garantir o bem-estar dos cães.
SAY ‘NO’ TO ALL LIVE GREYHOUND EXPORTS FOR COMMERCIAL ‘USE’
Por Amy Sharpe e Trevor Quinn / Tradução de Fátima C G Maciel
Fonte: Mirror