Macaco guigó que vivia em cativeiro é reintroduzido à Mata do Junco, em Capela, SE

Macaco guigó que vivia em cativeiro é reintroduzido à Mata do Junco, em Capela, SE
Governo e pesquisadores iniciam a reintrodução de macaco Guigó que vivia em cativeiro à Mata do Junco (Foto: Sedurbs)

O trabalho de conservação dos biomas sergipanos tem resultado em números positivos para o estado. Um bom exemplo disso são os estudos de preservação e monitoramento do guigó de Coimbra (Callicebus coimbrai), primata endêmico das matas de Sergipe e norte da Bahia que tem uma população significativa no Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco, no município de Capela. Nesta segunda-feira (29), os pesquisadores começaram o trabalho de reinserção do primeiro animal dessa espécie que vivia em cativeiro. Se trata de um jovem macaco, que vivia ilegalmente como animal de estimação na região metropolitana de Salvador (BA), e que foi devolvido voluntariamente por uma moradora.

“Esse animal chegou ao Cetas Salvador com cerca de oito meses de vida e, lá, começou o processo de reabilitação. Ele havia passado cerca de seis meses em cativeiro. De lá para cá começamos o processo de reabilitação e solicitamos o retorno dele ao Refúgio. Pedimos isso porque aqui vamos treinar o reconhecimento e uso dos alimentos locais que ele vai utilizar assim que estiver solto”, conta a cientista ambiental, Marialina Ribeiro.

O local escolhido para reintrodução do animal é uma unidade de conservação criada pelo governo de Sergipe e administrada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade (Sedurbs), por meio da Superintendência dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SRH). A reserva é o segundo maior remanescente de Mata Atlântica do estado e único bioma onde a espécie vive.

O processo de reabilitação é gradual e também demanda respeito às outras famílias da mesma espécie que vivem na reserva. “É uma soltura branda. Vamos treiná-lo a reconhecer e usar os alimentos locais. A reintrodução social precisa ser feita de modo cuidadoso, porque o animal pode ser recusado pelo grupo. A nossa ideia é que ele seja adotado pelo grupo, por ainda ser jovem. Por isso faremos treinos contra predadores naturais também. Esse aprendizado vai ocorrer por espelhamento e, através dos pares, ele vai aprender a se defender. A conclusão do processo de reabilitação dele vai ser o suprassumo de todo o trabalho. Ele tem aspectos de domesticação que vamos reverter. Mas em termos comportamentais precisa haver singularidade com os demais membros da população local para que a soltura e sobrevida sejam garantidas”, explicou a pesquisadora Marialina Ribeiro.

A cientista não esconde a ansiedade com o trabalho de reintrodução desse animal. E ressalta que, por ser a primeira vez que a ação é feita no País, tudo precisa ser muito estudado. “É a primeira vez que é feita a reintrodução dessa espécie no Brasil. O tempo da reintrodução ainda não pode ser definido porque cabe a cada espécime. Então, faremos monitoramento em campo. O animal que será reintroduzido ficará em espaços montados dentro da mata, para se acostumar ao local e aos outros animais. A aproximação e socialização dos outros grupos de guigós a esses pontos vai definir o momento exato para a soltura definitiva dele”, acrescenta.

Monitoramento da espécie

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), classifica a espécie como crítica, no quadro de animais ameaçados de extinção. Mas, apesar dessa classificação, o animal já apresentou certa evolução. Isso porque, no ano de 2005, eram cerca de mil animais vivendo na natureza, atualmente a população é de cerca de dois mil indivíduos. E grande parte deles habita a Mata do Junco. O macaco tem porte médio e mede até 39 centímetros. Sua cauda chega a ter um terço do comprimento. Seu corpo é bege acinzentado, possui cauda alaranjada e coloração preta na testa e orelhas.

Udemário Maia é mestrando em Ecologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi ele o responsável por receber o animal e encaminhar a Sergipe. Para o estudioso da espécie, que também é membro do Laboratório de Ecologia Acústica e Comportamento Animal da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), participar de todo o processo é bastante significativo. “O animal já possui um chip para auxiliar no monitoramento e já percebemos que houve uma evolução no comportamento dele em relação à humanização. O animal já não está tão amigável com as pessoas, o que consideramos como o ideal. Porque é preciso haver distanciamento do ser humano”, relata.

O gerente de Meio Ambiente da SRH, Elísio Marinho, revela que a parceria do Estado com as instituições de pesquisa e ensino é primordial para o sucesso dos resultados. “Temos duas unidades que são exemplos para todo o Brasil. Inclusive, ambas recebem pesquisadores de todos os lugares. Então, essa troca de experiências é muito positiva para todos nós. Mas, principalmente, para a conservação das nossas espécies”, concluiu.

Fonte: ASN via Infonet

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.