Mesmo “sem rosto as plantas querem viver”?

Por Sônia T. Felipe em Galactolatria: mau deleite 

Quem tem muita dó de planta precisa parar imediatamente de comer carnes, queijos, manteiga, requeijão, creme de leite, leite condensado, leite em pó, sorvete, tortas, biscoitos e tudo o que contenha derivados do leite de vaca, porque extrair leite de vacas é devastar plantas que “mesmo sem rosto querem muito viver”.

Vejamos alguns números: 1 kg de queijo contém 10 a 12 litros de leite. Para extrair essa quantidade de leite foi preciso dar água, plantas, grãos e cereais para a vaca comer, pois nenhuma vaca secreta 10 litros de leite naturalmente. Para que secrete leite é preciso haver excesso de calorias concentradas e armazenadas na forma de gordura que vai então se transformar em leite, carreando os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bezerro.

Então, para extrair 12 litros de leite foram necessários 100 litros de água, dada de beber às vacas, 6 kg de grãos e cereais e pelo menos 24 kg de plantas que a vaca comeu! Se alguém tem muita pena de plantas, não coma laticínios, pois eles são grandes devoradores de plantas.

Quanto ao fato de as plantas serem sensíveis, é verdade que elas o são. Nossos cabelos também são sensíveis à seca ou ao sol, ou à carência de nutrientes. Nossa pele também é sensível aos mesmos interferentes, endógenos ou exógenos. Nem por isso, porque nossos cabelos ou nossas unhas são sensíveis, deixamos de cortá-los de vez em quando. E quando o fazemos, nunca ouvimos seus gritos de dor, porque eles podem até ser sensíveis, mas não são “sencientes”.

Por isso temos a palavra senciência na ética animalista. Sensibilidade pode haver até em matéria inorgânica e isso é tão verdade que muitos equipamentos pifam caso sejam submetidos a temperaturas acima ou abaixo da resistência dos materiais que os compõem.

Agora, para ter consciência e consciência de si é preciso ter um lugar onde todas as imagens e experiências sejam armazenadas, o cérebro, e um sujeito que faça a filtragem de tudo, com o único propósito de se orientar, ou de orientar os outros que dependem de sua experiência, em seus movimentos seguintes.

Essas capacidades, a da senciência e a da consciência de si, só existem em seres vivos que têm como tarefa contínua manter-se vivos em movimento, porque, ao se moverem no ambiente natural ou social, os elementos que precisam ser ingeridos para dar continuidade ao processo vital não estão fixados num mesmo lugar, como acontece com as plantas, que, por não se deslocarem no ambiente, não precisam do aparato necessário para levarem consigo o arquivo de utilidades, as imagens requeridas para se moverem com segurança.

Animais são seres sencientes. Incluem-se aí os humanos, justamente por sua condição animal. As experiências de todos os indivíduos que nascem na condição animal precisam ser armazenadas com critério por esse animal, porque ele depende desse arquivo super bem organizado quando se move por aí, no mundo. Os animais vertebrados têm um cérebro e áreas bem especializadas no cérebro para processar as imagens que ficam de cada experiência vivida, olfativas, visuais, táteis, gustativas, palatares. Essas imagens são usadas pela memória (que trabalha em vigília e durante o sono) para que o animal não cometa erros que ponham sua vida em risco.

No caso das plantas, sua sensibilidade contribui para a manutenção do metabolismo básico. Mas elas não têm em sua natureza evolutiva a proposta de se tornarem aptas à sobrevivência, com os mesmos mecanismos mentais dos animais humanos e não humanos.

É certo derrubar as árvores para comer o que está nelas? Não acho. Palmito, por exemplo. É preciso matar a planta toda para arrancar sua “carne”. Mas comer o que as plantas produzem, grãos, sementes, frutas e frutos, ou mesmo tubérculos, comer alimentos vegetais que são produtos das plantas, mas que não fazem mais falta alguma a elas quando amadurecem e podem ser colhidos, não vejo erro algum nisso. É certo que o ideal seria nos alimentarmos apenas da luz solar, fazendo a fotossíntese que as plantas fazem. Mas até elas se alimentam de matérias orgânicas para obterem todos os nutrientes, além de serem capazes da fotossíntese.

De qualquer modo, porque na criação de animais para abate e extração de leite ou coleta de ovos é preciso usar muito alimento de origem vegetal e isso implica em matar muita planta mesmo, ser vegano é a única forma de evitar tamanha matança e destruição de plantas cultivadas com o único propósito de serem ceifadas para virarem ração animal.

De todas as dietas, a vegana e as crudívoras são as menos devastadoras do planeta. E, sendo brasileira, tenho o privilégio que a maioria dos humanos ao redor do planeta não tem: o de poder me alimentar só de matérias colhidas da horta, do pomar e da lavoura, em todos os tons e texturas, sem precisar tirar a vida de nenhum animal não humano nem devastar a vida de tanta planta.

Faço isto, ser vegana, há 15 anos. Sem deficiência alguma. Os médicos olham meus exames e não acreditam, porque foram treinados sob a ótica do agronegócio que vendeu a ideia de que só é possível obter proteínas comendo carnes, laticínios e ovos. Não é verdade.
Todos os aminoácidos que formam a cadeia de 20 elementos necessários para compor a proteína, estão nos alimentos vegetais.

Basta raciocinar. Se para produzir proteína fosse necessário comer carnes, a vaca teria que ser alimentada com churrascos, o elefante com salsichas, o hipopótamo com queijos e as girafas com frango assado, não é mesmo? Venderam essas ideias para todos nós. Mas elas são mitos do agronegócio. Depois venderam a ideia de que temos que tomar remédios para tratar das doenças. Podemos curá-las com a dieta abolicionista vegana.


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