Morrem dois cavalos por dia por maus-tratos em Buenos Aires, na Argentina
Mais de 100 mil cavalos são submetidos a uma situação de trabalho e maus-tratos em centros urbanos do país, a maioria deles em municípios da província de Buenos Aires, onde se registra uma média de duas mortes por dia, além da atividade estar associada ao trabalho infantil.
Uma das referências da organização No más Tracción a Sangre (TAS), Eliana Couso, disse que “não há um censo oficial sobre o número de famílias com cavalos submetidos à tração” e acrescenta que “os números surgem a partir de um levantamento das organizações”. “Fizemos um levantamento a partir de ONGs de diferentes pontos do país e calculamos que há mais de 100 mil animais em situação de trabalho na República”, expressou a advogada.
Nesse sentido, ela afirmou que a raiz dos maus-tratos “se registra em uma média de duas mortes desses animais por dia somente na província de Buenos Aires”.
“Os centros urbanos mais comprometidos pela tração animal são a província de Buenos Aires, Santa Fe, Córdoba e Salta”, manifestou, e expressou que “em Salta o intendente está tentando fazer cumprir a lei que proíbe a tração animal desde 2010”.
Couso afirmou que os distritos bonaerenses “onde mais se registra a tração animal e maus-tratos são La Matanza, Quilmes e La Plata”. “Em Quilmes há uma lei municipal que proíbe a tração animal desde 2012 e não é cumprida. Em La Plata há uma lei desde a década de 60 contra a tração animal que tampouco é cumprida”, advertiu.
A advogada susteve que “há uma federação de carroceiros que reclama pelos seus direitos” e explicou que “o que nós queremos é que todos continuem trabalhando, mas mediante a substituição de animais por outros meios”. “As cidades não são aptas para que os cavalos continuem circulando como parte do trânsito, com ruídos e às vezes envolvidos em acidentes”, advertiu.
Mesmo assim, explicou que na cidade de Buenos Aires “está proibida a tração animal, mas você vê carros puxados por cavalos. Os funcionários dizem que eles vem desde Lanús e Avellaneda”. “Deveriam controlar isso e, de ofício, pará-los. Se há maus-tratos contra animais, é um delito que está penalizado pela Lei de Proteção Animal 14.346 e que deve ser aplicado”, advertiu.
A advogado do No más Tracción a Sangre afirmou que a organização, que participou da elaboração do projeto de lei que se encontra na Câmara de Deputados para proibir a atividade, procura “uma lei nacional”.
“A realidade demonstra que os municípios, por mais esforços que façam, acabam precisando do apoio da província ou da Nação para implantar um plano sustentável para o mercado formal e substituição dos animais”, afirmou. “Os cavalos, burros e mulas são submetidos à tração nos centros urbanos e queremos que sejam substituídos por veículos motorizados”. “Queremos uma lei nacional para que haja política pública nesse tópico”, disse.
Mesmo assim, ela advertiu que “a tração animal está vinculada ao trabalho infantil, porque com frequência as crianças vão em cima e conduzem os carros, normalmente sozinhas, mas parece que a polícia não as enxerga”.
“Elas fazem trabalho de coleta de resíduos sólidos urbanos e frete”, afirmou, e advertiu sobre a importância de “prevenir as enfermidades que derivam da atividade laboral precária por estarem expostas a resíduos perigosos e inclusive patogênicos”.
A organização apoia a criação de granjas/hortas orgânicas para alojar os equinos que sejam substituídos e a proibição da tração animal depois de quatro anos de sancionada a norma.
Tradução de Alice Wehrle Gomide