O inferno

O inferno

Recentemente (final de março de 2013), a foto acima trouxe desconforto para muitos, algum senso estético para outros, veneração por processos para mais alguns e demais reações diversas.

A notícia ilustrada contava sobre um roedor sendo devorado por uma cobra enquanto outro roedor estaria tentando livrar o vitimado do destino aterrorizante. No final, ambos foram devorados por cobras distintas.

Contudo, temos aqui revelado também um conteúdo que incomoda: não existe vilão, mas seres que vieram ao mundo com características determinadas. Não pediram para nascer assim e precisam seguir o que o ‘acaso’ (evolução, seleção natural, criação etc) determinou. Porém, para os seres do tipo que são capazes de sofrer e de desfrutar, não faz diferença se o mal tem origem num “Einstein”, numa rocha rolando montanha abaixo ou tal como na agonia inimaginável dessa foto. É ruim igual.

Revela também que nossa visão ‘romântica’ da natureza como algo ‘bom’ é algo duvidoso do ponto de vista desse tipo de seres vitimados. Talvez estejamos enganados nessa interpretação da natureza. Mas, se tais processos naturais garantem o ‘equilíbrio’ e se concordamos que o equilíbrio tem valor ‘acima de qualquer suspeita’, isso pressupõe o equilíbrio como algo bom. Mas para algo ser bom ou ruim, é preciso um ser capaz de valorizar o bem e o mal. Nós e a grande maioria dos animais somos seres desse tipo. Mas que sentido faz um ‘equilíbrio’ que tem um custo tão alto justamente para os seres que são capazes de atribuir valor para isso?

Isso revela mais um aspecto: o ‘equilíbrio’, aparentemente, só tem valor porque seria bom para seres capazes de valorizar (seres capazes de experimentar o sofrimento e a felicidade). Caso contrário, não seria nem bom nem mal. Simplesmente ‘seria’, assim como a natureza é: o que chamamos de ‘natureza’ apenas é. Se algo é bom ou ruim no mundo natural é assim porque existem seres capazes dessa distinção.

Então, se nós e a grande maioria dos animais somos seres desse tipo, deveríamos continuar com a mentalidade de venerar a natureza, o equilíbrio, a evolução, a seleção natural, o gene egoísta, a carreira, o Currículo Lattes etc e whatever com tanta paixão cega? Não seria o momento de imaginar um mundo com intervenções responsáveis que eliminasse esses ‘acasos naturais’ que mais parecem uma caricatura do inferno, tal como a foto em questão? Já fazemos isso em alguns casos quando lutamos contra um câncer, vírus, enchente, verminose, etc. É preciso ampliar.

E se tudo der errado? Se tudo der errado, talvez (talvez) seja o fim da continuação daquilo de ruim que nenhum leitor aqui jamais experimentou. A eutanásia, em alguns casos, é um dever. Mas, antes dela, dar as costas para o sofrimento alheio deve ter algum nome inconveniente.

Quem tiver interessado em pensar mais sobre isso, sugiro esse texto.

Fonte: ANDA


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Olhar Animal – www.olharanimal.org


 

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