Porque os animais nos zoológicos estão nus

Por Leonardo Maciel

Após os últimos acidentes em zoos, o assunto volta à tona. Muito tem se falado sobre a extinção destas instituições que acredito vão acontecer um dia porque ainda acredito que a nossa espécie vai evoluir e não voltar às cavernas.

Vejo vários aspectos sendo discutidos sobre todas as razões que justificariam o fechamento de zoos, e para fornecer mais argumentos, coloco olhar veterinário, como médico especialista em animais silvestres e exóticos.

Em primeiro lugar, um animal em exposição normalmente vem da natureza ou de outro zoológico. A retirada de um indivíduo de seu meio familiar é um processo danoso e traumático que não é de conhecimento das pessoas. Um exemplo rápido e prático, através de uma espécie que todos conhecemos são os calitriquídeos (micos) que hoje estão cada vez mais urbanizados mas vale o exemplo. A organização destes animais segue padrões rígidos há milhares de anos. São grupos familiares grandes, onde apenas os pais se reproduzem. As filhas não engravidam, não há acasalamento entre irmãos, o pai carrega e cuida dos filhos cabendo à mãe apenas amamentar. Após uma certa idade, os pequenos são cuidados pelos irmãos mais velhos que os carregam e cuidam até a independência. Depois de adultos, os filhos mais velhos são afastados pelos pais e as filhas mais velhas são afastadas pelas mães, tornando-se solteiros sozinhos até que encontrem outros solteiros e formem nova família. Os papéis de cada indivíduo na família são bem estabelecidos e a quebra de um elo desta corrente pode trazer consequências desastrosas para o grupo, e mesmo o desaparecimento do mesmo. Este comportamento social é aprendido, ou seja, o indivíduo não nasce sabendo e aprende tudo com os pais. Nem tudo são rosas e claro ocorrem disputas, desentendimentos e problemas familiares. Cada espécie tem sua organização social característica. A retirada de um animal do seu grupo, pelo menos no momento errado, pode trazer consequências desastrosas para o indivíduo, para o grupo e para os animais das outras espécies com as quais se relacionava.

Um animal em exposição, além da óbvia falta de liberdade, torna-se um zumbi com comportamento estereotipado, uma sombra do que realmente seria. Não há comportamento social ou familiar, ou se a vida é em grupo, está totalmente alterada pela constante observação e intervenção humana. A visitação não é ” educativa” porque os animais que ali estão não são eles mesmos, e sim uma tentativa de adaptação ao cativeiro.

Os zoos possuem normalmente um chamado “setor extra”, que é um local separado da visitação pública onde ficam definitiva ou temporariamente os que não devem ser expostos, ou seja: os mutilados, os doentes físicos, os doentes mentais como um primata que perdeu a sanidade mental e se masturba 24 horas por dia, os altamente estressados pela visitação pública e aqueles que se entregam a um torpor e prostração depois de anos de prisão e falta de expectativa (incentivo/ estímulo).

Outro fator a ser considerado são as enormes quantias em dinheiro investidas em zoológicos por algumas prefeituras, mesmo que insuficientes para o bom andamento do local. Os valores investidos são voltados para as condições de visitação, passeios, jardins públicos, grades de proteção e embelezamento dos recintos para visualização das pessoas, quando a prioridade seria a remuneração adequada dos funcionários, biólogos, veterinários, tratadores e alimentação adequada dos animais. Uma opinião é que os zoos sejam fechados à visitação pública e transformados em centros de triagem e reabilitação. Existem excelentes profissionais trabalhando nos zoológicos, tentando corrigir os problemas advindos do estresse causado pela visitação, enquanto poderiam estar desenvolvendo estudos que poderiam realmente colaborar para o conhecimento e a minimização dos danos que temos causados aos outros habitantes do planeta.

Os recintos de exposição são na maior parte das vezes sem vegetação adequada, sem esconderijos imitando o natural. É comum uma grama rala ou chão batido pelo andar em círculos, sem local para que o animal possa se esconder quando não quisesse ser visto e ter sua privacidade. Se eles ficam escondidos as pessoas reclamam que não conseguem vê-los; assim eles têm que estar constantemente expostos, psicologicamente nus para o deleite dos que ainda têm o prazer doentio de ver alguém preso.

Dizem que, o que não é escolha, não é mérito nem derrota, então acho importante a discussão e a difusão de informações sobre a realidade dos zoológicos, porque a partir disto só haverá dois caminhos para as pessoas: serem contra ou serem coniventes. 


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Olhar Animal – www.olharanimal.org


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