A dignidade dos cadáveres e lugares sagrados

Por Sônia T. Felipe

Enterrar animais de estimação em seu próprio jazigo é tirar a dignidade humana, segundo autoridade da Igreja Católica no Brasil, contrária ao projeto de lei que autoriza o enterro de animais eleitos para estima em cemitérios humanos. Agora, enterrar cadáveres de animais não estimados, porcos, galinhas, bois, vacas, ovelhas, perus etc em seu próprio corpo, tão sagrado, ah! isso pode, não é mesmo D. Odilo?

Cemitérios são lugares sagrados, em todos os cantos do mundo. E em lugares sagrados devemos guardar tudo o que há de mais sagrado. Jamais devemos conspurcar um lugar sagrado levando para ele lixos ou matérias imundas, matérias que carregam sujeira, toxina, contaminação e causam destruição da área sagrada. Isso é o que aprendi, quando aprendi a respeitar lugares sagrados. E olha que não sou tão espiritualizada como desejaria ser, apenas me esforço para que meu espírito não seja palco de contradições morais imperdoáveis!

Entretanto, pasmei com a declaração de D. Odilo, de que autorizar as pessoas humanas a enterrarem consigo as pessoas não-humanas que mais estimaram em vida, no mesmo jazigo ou cova, seria profanar o lugar sagrado onde os mortos humanos são enterrados e, de bandeja, dar aos animais a dignidade que eles não têm! Quem disse que os animais não têm dignidade? Só quem gosta de comer seus cadáveres é que pode dizer uma coisa dessas.

E, finalmente, insisto: se o corpo humano é tão digno e sagrado que não pode ser misturado ao corpo dos animais que compartilharam da vida do humano agora morto, então melhor seria destinar a energia para pregar aos seres humanos o dever de parar de conspurcar seus corpos enfiando goela abaixo pedaços de cadáveres de animais que foram assassinados com o propósito de encher o estômago tão sagrado desses humanos tão dignos que não chegam sequer a reconhecer que estar na vida é um presente dado de graça a todos sem distinção de raça, sexo ou espécie biológica.

Carne de animal morto forçada a ir para o estômago de um humano vivo é algo digno de ser respeitado e perpetuado? Carne de animal morto, colocado junto ao cadáver de um humano que amou e cuidou desse animal, tira a dignidade e a santidade do humano?

Mas (agora vem a Ceia de Natal) carne de animal morto para compor sua ceia de natal, um animal que veio à vida para viver dignamente sua vida mas foi obrigado a vivê-la abjetamente, isso pode, não é mesmo?

Ah! Vai faltar perdão para tamanha insensatez e incoerência ética!


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