Acho que não há juízo final
Por Sônia T. Felipe
Mas acho que ao morrer cada um se apresentará ao universo com a cara que teve ao comer. Assim, postado ao lado do cadáver, cada um levará a pilha de todos os animais que tirou da vida.
E os cientistas que vivem calculando essa pilha estimam em 22.000 animais por humano, no mínimo, considerando-se as carnes de peixes, geralmente esquecidos, de suínos, de bovinos, de avinos, de caprinos, de ovinos etc. (Cf. Jeffrey Moussaieff Masson, The Face on Your Plate). Antes mesmo de ter lido sobre o assunto, algo que venho fazendo há exatos 25 anos, eu já fizera o cálculo de quantas vacas eu teria matado para comer o que à época se propagava como necessário de proteína, uns 300 gramas por dia. Então, desisti de comer carnes há 25 anos.
E passados os primeiros 10, vi que não me fazia falta alguma a carne que eu abolira do prato. Então dei um passo abolicionista: desisti de vez e para sempre de comer qualquer coisa que faça animais nascerem para serem mortos na infância, tendo vivido suas vidas no maior tormento, ou que os atormente sem matar, enquanto do corpo deles se puder arrancar algo, tipo leite, ovos e mel. Abolicionista vegana.
Assim, no meu velório, perante o universo, postada então somente como um cadáver, terei apenas a montanha de cadáveres que produzi até meus 45 anos de vida. Sei que não vou apagar a pilha do que comi até então.
Mas mesmo não podendo zerar minha fatura, decidi que bastava de ser incoerente quando se tratava do valor da vida alheia.
E hoje só como o que vem da terra, das árvores, das espigas e vagens, ou o que dá pendurado nas baraceiras. Os animais estão livres da minha lâmina macabra, tanto no abatedouro quanto na minha mesa.
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