Alarmante. Canis sobrelotados com animais devolvidos em Luxemburgo

Alarmante. Canis sobrelotados com animais devolvidos em Luxemburgo
Leonardo é um dos cães que foram adotados durante a covid-19. Foi abandonado alguns meses depois. Foto: Anouk Antony/Luxemburger Wort

O verão é um período particularmente favorável ao abandono de animais, mas a extensão do fenómeno é particularmente alarmante este ano no Luxemburgo.

No abrigo nacional para animais em Gasperich, não há mais espaço para novos cães, exceto para emergências e abusos. “Não é só desde o verão que enfrentamos um afluxo de abandonos. Acontece há vários meses. É uma consequência direta da pandemia, durante a qual muitos cães foram adotados durante o teletrabalho. Mas agora, com o regresso ao escritório, os seus proprietários apercebem-se que não está a funcionar”, diz Liliane Ferron, relações-públicas do canil de Gasperich. “Algumas pessoas não pensaram antes de adotar”, acrescenta.

Foto: Anouk Antony/Luxemburger Wort
Foto: Anouk Antony/Luxemburger Wort

E estes animais trouxeram um novo desafio. “Muitos dos cães adotados durante a pandemia chegaram ao abrigo sem terem recebido qualquer educação”, diz Ferron, que é voluntária no abrigo há vinte anos. Antes de poderem encontrar um novo lar, é necessário educá-los até porque os cães jovens são particularmente populares para adoção.

O abrigo nacional nunca viu a lista de espera crescer tanto como para os cães que agora são devolvidos ou abandonados. Com um total de 75 lugares disponíveis para os cães, seriam necessárias mais de 150 ‘boxes para abrigar todos os pedidos.

A fim de evitar uma adoção precipitada, os candidatos fazem um passeio com o animal, e com os filhos, se for o caso. Este não é apenas um investimento de tempo, mas também é financeiro. “Muitas pessoas não pensam necessariamente nisso quando têm um cão ou um gato, mas pode tornar-se demasiado caro ir ao veterinário. Naturalmente, é preciso ter em conta toda a vacinação, mas também possíveis doenças”.

Gatos também são devolvidos

Embora os gatos tenham a reputação de serem mais independentes, também sofrem com os abandonos pós-confinamentos e com a falta de uma campanha de esterilização, uma vez que continuam a haver muitos nascimentos.

No outono, vai ser construído um gatil, projeto que só foi possível graças às doações recolhidas pela estrutura. “A casa ficará situada no telhado do abrigo e alojará as ninhadas e as suas mães até que os gatinhos sejam desmamados. Mas ampliar o nosso abrigo não é a solução, o que é necessário acima de tudo é pensar antes de adotar”, insiste a voluntária.

Liliane Ferron gostaria de ver um quadro mais apertado para o abuso de animais. “Pergunto-me se seria necessário fazer uma formação sobre o bem-estar animal antes de poder adotar para que todos tenham em mente as boas práticas”, sugere.

Em Schifflange, o abrigo também está cheio e já excedeu a capacidade habitual. “Estamos a 150% da nossa disponibilidade para cães, e já o fazemos há várias semanas. Para os gatos, a onda começou na primavera com o nascimento de muitos gatinhos”, diz Sacha André, presidente da Associação para a Proteção dos Animais em Schifflange (APAS).

Desde abril, não tem havido qualquer recuo nos nascimentos de gatinhos. “Mesmo esta semana, recebemos gatinhos muito jovens e a mãe”, continua o voluntário do abrigo em Schifflange, que sublinha que são esperados novos nascimentos depois do verão.

Quinze cães à espera de adoção em Schifflange

No total, dois quartos e uma sala de quarentena permitem acomodar 80 a 100 gatos. Tal como o abrigo Gasperich, o de Schifflange também viveu a onda de animais jovens abandonados com o regresso à vida quotidiana após a pandemia. Este canil tem atualmente quinze cães em lista de espera. As pessoas que querem separar-se do seu animal devem registar-se em todas as listas possíveis.

Situações que podem demorar vários meses a serem resolvidas, uma vez que o problema propagou-se a todas as estruturas. Sacha André aponta também o impacto das redes sociais no ressurgimento do abandono. “Vivemos num período em que tudo está aberto e não há controlo. Assim, as pessoas adotam cachorros ou gatinhos sem se aperceberem da responsabilidade que lhe está associada. Basta olhar para as fotografias e não fazem perguntas suficientes sobre as necessidades do animal”. Embora a APAS dê prioridade ao abandono no Luxemburgo, a associação também recebe chamadas de fora das fronteiras nacionais, uma vez que a situação é generalizada.

“Situação catastrófica” em França e na Bélgica

Em França, os canis nunca estiveram tão cheios. Na Bélgica, a situação é igualmente problemática. “Há meses que isto se passa, é catastrófico. A situação que se vive no verão está a acontecer há vários meses”, adverte Marc Istat, chefe do abrigo SRPA em Arlon.

Cães, gatos, roedores e até papagaios: o abrigo está cheio com 130 residentes. Todos os dias, a estrutura recebe novos pedidos de abandono da Bélgica, Luxemburgo ou França. “Ontem, por exemplo, as pessoas vieram de Mont-Saint-Martin para entregar os seus animais”.

Enquanto uma ou duas ‘boxes’ estão sempre disponíveis para emergências, a SRPA em Arlon também trabalha com lista de espera. “Perguntamos se as pessoas podem esperar algumas semanas antes de desistir do seu animal, ou se é urgente intervir. Dependendo disto, planeamos a chegada ao abrigo”, explica Istat.

Desde junho de 2021, o gestor do local tem notado aquilo a que chama uma “reação negativa” pós-pandemia. Enquanto os abrigos tinham sido mais ou menos esvaziados no início da crise sanitária, os abandonos recomeçaram em força. “Desde então, assim que temos uma adoção, temos uma ou duas entradas. Porque, se o abandono é rápido, a adoção, para alguns cães, leva tempo. Demora várias semanas ou mesmo meses até que o animal encontre um novo lar, pelo que o impacto sobre as estruturas é inevitavelmente negativo”.

Esta situação tem consequências financeiras para os abrigos. Todos eles têm de contar com doações para continuarem a sua missão. “Esperamos que esta onda diminua e que, a longo prazo, a consciência do bem-estar animal melhore. Na Bélgica, estamos nas fases iniciais de uma licença de posse de animais que, esperamos, tenha um impacto positivo”, conclui Istat.

Por Laura Bannier

Fonte: Contacto / mantida grafia lusitana original

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