Amigas se mobilizam para ajudar mais de 100 gatos que vivem em cemitério de Sorocaba, SP

Amigas se mobilizam para ajudar mais de 100 gatos que vivem em cemitério de Sorocaba, SP
Cerca de 130 gatos vivem no Cemitério da Saudade em Sorocaba .— Foto: Bruna Russo Fotografia

O Cemitério da Saudade em Sorocaba (SP) é o lar de, pelo menos, 100 gatos sem tutor. Os animais vivem há anos no local contando com os cuidados da protetora Simone Belém, que consegue alimentá-los graças às doações que recebe. A situação comoveu as amigas Elisama Monteiro e Bruna Russo, que se uniram em uma iniciativa solidária para ajudar a manter a arrecadação na pandemia.

Desde que assumiu esse trabalho voluntário por conta própria, Simone enfrenta uma luta diária para dar melhores condições de vida aos bichanos. Todos os dias, ela vai ao cemitério prestar os cuidados, monitorar a condição de saúde dos gatos e dar carinho. Antes, essa rotina era seguida por outro protetor, que morreu em um atropelamento em 2017.

“Minha ajuda é levar a comida diariamente, colocar água limpa, uso florais na água para cuidar deles e, com isso, amansá-los para que as doações sejam facilitadas, pois eles eram muito ariscos e não interagiam com as pessoas. Hoje muitos já estão bem mais mansos, gostam de carinho e interagem entre eles, coisa que não acontecia antes. Também os capturo, envio para castração, levo ao veterinário quando necessário e doo os animais quando conseguimos adotantes responsáveis”, explica.

Gatos que vivem no Cemitério da Saudade são alimentados em potes plásticos com ração proveniente de doações. — Foto: Bruna Russo Fotografia

Segundo a protetora, são necessários cerca de 340 quilos de ração para alimentar os gatos por mês. A Prefeitura de Sorocaba disse ao G1 que a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) está verificando a possibilidade de fornecer a ração para a alimentação desses animais. Por enquanto, tudo é fruto de doações, mas, com a pandemia do novo coronavírus, houve queda nas ajudas que Simone recebia.

Foi então que Elisama e Bruna se uniram para pôr em prática uma ação solidária. Elas produzem e vendem pães de mel de fita divulgando pela internet e o lucro dos produtos é usado para a compra de ração para os gatos que vivem no cemitério.

A escolha do pão de mel como produto para venda não foi por acaso. Elisama conta que o doce já foi usado em outras campanhas solidárias envolvendo animais e também fonte de renda para bancar seus estudos na época da faculdade. Por isso, acabou virando um símbolo de ajuda em momentos difíceis.

“O pão de mel do bem é minha missão, através dele eu realizo o sonho de ajudar a quem ajuda. A alquimia culinária do pão de mel foi envolta em amor, não é uma receita comum, é uma receita para o bem, e espero que ele continue a alimentar muitas pessoas e animais”, conta Elisama.

Lucro da venda dos pães de mel é usado para a compra de ração para os gatos que vivem no Cemitério da Saudade. — Foto: Bruna Russo/Arquivo pessoal

Mais de 500 kg de ração doados
 
Em três semanas, a iniciativa das amigas já conseguiu doar 540 quilos de ração, além de sachês para os felinos. Segundo Bruna, a campanha já sensibilizou tantas pessoas que foi possível destinar parte do alimento a outros projetos que cuidam de animais abandonados. A fotógrafa divide tudo nas redes sociais para ser transparente com quem ajuda, desde a prestação de contas da compra das rações até retratos dos gatos para incentivar a adoção responsável.

“O que quero é trazer visibilidade para os gatos da Saudade para que sejam adotados e não sofram muito. Agora no frio, tem vários casos de gatos doentes. O cemitério não é um abrigo, não tem onde ficar, ficam expostos ao sol, à chuva e ao frio. Quanto mais doações, a gente tem possibilidade de ajudar de alguma forma outros lugares que precisam também”, afirma Bruna.

As encomendas dos pães de mel podem ser feitas via aplicativo de mensagens pelos números (15) 99132-0953 (Elisama) e (15) 99731-8727 (Bruna). Quem quiser também pode ajudar doando dinheiro, ração, remédios de uso veterinário, cobertores, potes de sorvetes vazios, casinhas usadas ou novas, entre outros itens, entrando em contato com a protetora Simone Belém.

“Quem quiser conhecer o nosso trabalho lá, visitá-los e conhecer a situação e os gatos, adotar algum animal é só agendar comigo uma visita ao cemitério, pois [os gatos] já me conhecem, facilita muito. Muitos ficam escondidos ou dormindo pelos túmulos. Para agendar peço contato pela minha página do Facebook”, diz Simone.

Desde 2017, a protetora de animais Simone Belém cuida dos gatos do Cemitério da Saudade em Sorocaba. — Foto: Bruna Russo Fotografia

Caso sem solução definitiva
 
Apesar da rede de solidariedade que permite ajudar os gatos que vivem no cemitério, o caso não tem uma solução definitiva. Simone Belém contabiliza 130 animais, enquanto a Prefeitura de Sorocaba estima que em torno de 100 vivem no local.

A protetora afirma que os animais precisam de um abrigo adequado, adoção responsável e lares temporários. Segundo ela, principalmente nessa época do ano em que são registradas baixas temperaturas, os animais ficam mais vulneráveis a doenças, como a pneumonia. Além disso, já houve casos de gatos com ferimentos graves por ataque de cães.

Em nota, a Prefeitura de Sorocaba informou ao G1 que tem uma política de gestão de animais abandonados e que os leva para o Abrigo Municipal quando há espaço. No local, eles podem ser adotados pela população.

Sobre o caso dos gatos do Cemitério da Saudade, a prefeitura disse que “houve um acúmulo de animais e não sabe como isso de fato ocorreu. Mas é importante esclarecer que a Seção de Proteção e Bem-Estar Animal da Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema) tem dado assistência a eles e, na medida que tiver espaço no abrigo municipal, esses animais serão levados para adoção”.

A prefeitura informou ainda que “a Seção de Proteção e Bem-Estar Animal da Sema presta atendimento médico veterinário de emergência, caso algum animal necessite. No momento em que os animais vão à unidade para serem castrados, toda a assistência que é possível é prestada de imediato, como limpeza de ouvidos com medicamentos para tratar a sarna e curativos”.

A protetora Simone contesta essas afirmações. Segundo ela, desde 2017 apenas quatro animais foram removidos do cemitério para o abrigo. Além disso, questiona a assistência prestada. “A prefeitura não tem serviço 24 horas. Muitas vezes tenho que sair correndo e resolver em clínicas particulares e do meu bolso porque não tenho a quem recorrer às pressas”, afirma.

Enquanto continuam a viver no cemitério, os gatos estão sendo castrados para evitar o aumento de sua população. As cirurgias, além da vacinação antirrábica, são realizadas gratuitamente pela prefeitura. No entanto, os animais são devolvidos ao local de origem depois de recuperados do procedimento e lá permanecem a espera de um lar.

Protetora de animais Simone Belém visita o cemitério todos os dias para alimentar os gatos. — Foto: Bruna Russo Fotografia

Por Fernanda Szabadi

Fonte: G1

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.