Anta de vida livre vira mascote de pousada no Sul do Pará
Há 23 anos, a pousada Thaimaçu Lodge, que fica às margens do Rio São Benedito, no Sul do Pará, recebe hóspedes amantes da natureza. A grande maioria deles, pescadores esportivos e observadores de aves de todo o País e do exterior.
Mas o lugar rico por natureza não é conhecido apenas por estar cercado de uma floresta intocada ou por ser a casa de grandes peixes, mas sim por ter um mascote muito especial: uma anta de vida livre.
Considerado da família, o animal de grande porte tem até nome e faz a alegria dos turistas. O macho foi batizado como “Bacana” quando foi encontrado em 1996, mas atualmente é carinhosamente chamado por todos como “Fofão”.
Mas você deve estar se perguntando como é possível manter uma relação tão próxima e saudável com o maior mamífero terrestre do nosso país? Essa é uma curiosidade que surge em cada pessoa que vê fotos ou tem a oportunidade de observar de perto o grandalhão à vontade nos arredores da pousada.
E claro que há uma explicação para tamanha familiaridade. Diferente das outras antas que transitam nas proximidades, Fofão é o único que não teme a presença das pessoas e não se acanha na hora de receber carinho. Isto porque ele está acostumado com o contato com o homem desde que era um bebê.
“Ele foi trazido pra cá há mais de 20 anos por pescadores que estavam hospedados na pousada e tinham saído para pescar próximo à primeira lagoa”, conta Nice Seravali, proprietária da pousada.
Pequeno com listras brancas pelo corpo, o filhote foi resgatado pelos pescadores e por um piloteiro por um motivo maior: “Quando os pescadores chegaram próximos à margem, viram um jacaré-açu predando uma anta, que era a mãe dele. Quando eles se aproximaram escutaram um barulho como assobios, que parecia um choro. É a vocalização que a anta tem. Encontraram o bebê que hoje é o Fofão”, conta Jeovan Neves Braga, conhecido como “Preto”, gerente do restaurante da pousada.
O resgate feito ao animal órfão foi à forma que o grupo encontrou de garantir a sua sobrevivência. “Eles trouxeram o bebê pra pousada e logo que ele chegou nós providenciamos um cercadinho para ele ficar protegido e o alimentamos com mamadeira por alguns meses”, explica Nice.
Com o passar do tempo, o filhotinho foi crescendo e até a alimentação foi mudando. “Nós começamos a dar frutas para ele, que deixou de beber leite e passou a procurar por outros alimentos. Com uns quatro meses nós o tiramos do cercadinho e ele se tornou livre”, diz Preto.
Fofão ganhou a liberdade e, aos poucos, foi explorando as florestas e se tornando dono da própria vida. Mas o animal nunca abandonou o lugar em que ele recebeu os primeiros cuidados.
“À medida que ele foi ficando mais velho, foi passando mais tempo no mato, mas sempre voltou para a pousada. Às vezes, ficava uns dois dias sem aparecer, depois retornava. Ele já ficou 30 dias sem nos visitar e nós pensamos que ele podia ter sido predado por uma onça ou até se perdido, mas depois descobrimos que ele tinha encontrado uma parceira de vida”.
Em uma visita rotineira à sede da pousada, o mamífero veio acompanhado de uma fêmea e um bebê. “Foi muito legal ver que ele criou uma família. A fêmea e o filhote apareceram aqui, mas não permitiam que a gente se aproximasse como o Fofão permite, ele é o único que deixa a gente chegar perto”, lembra Preto.
A anta acabou se tornando o “mascote” da pousada, mas para quem convive com ela há anos o significado é ainda maior.
“Ele faz parte da nossa história, testemunhou a evolução da pousada, pois estava aqui desde o começo. Todo mundo que vem pra cá acaba se comovendo ao vê-lo de perto. Ele realmente faz parte da nossa vida e da nossa rotina”, comenta o gerente do restaurante.
A fama é tanta que ele rouba atenção de qualquer pessoa e acaba criando espaço cativo no coração dos visitantes que o conhecem. “Os pescadores que costumam vir pra cá com frequência nem perguntam se o período está bom pra peixe, mas perguntam se o Fofão está bem e se ele está aparecendo por aqui”, comenta Preto.
Visita esperada
Desde que o Fofão foi reintroduzido à natureza ele vive nas florestas, porém, a visita à sede da pousada é garantida. “Ele sempre aparece, não tem hora para nos visitar, mas sempre vem. Ele costuma ir a parte de trás da cozinha pedir comida. Chora até ser atendido. Lá já tem até uma bandeja onde as cozinheiras colocam fruta pra ele”. De dentro do restaurante, os hóspedes conseguem observar o animal transitando de um lado para outro. É comum vê-lo próximo à piscina, onde ele costuma beber água.
Vida selvagem
Apesar de o animal ter recebido cuidados desde pequeno, ele é um bicho de vida livre e é selvagem. A natureza sempre evidenciou isso à equipe da pousada. “Ele já apareceu aqui ferido. O que mais me marcou foi quando ele apareceu com uma mordida no pescoço e a orelha cortada, muito provavelmente ele foi atacado por uma onça e o ataque tinha sido recente, pois ele estava sangrando muito. Nós cuidados dele. Nesta ocasião, ele até deitou no chão e ficava vocalizando, foi uma cena que eu nunca tinha visto. Ele ficou três dias sem sair da área da pousada por conta própria, até se recuperar e retornar a floresta”, lembra Preto.
Fonte: G1