Arara vítima de atropelamento recebe implante de bico em cirurgia inédita
Veterinários do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) realizaram um procedimento cirúrgico inédito de implante de bico em uma arara-canindé adulta.
A ave foi encontrada na região urbana de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, com ferimento grave e foi resgatada pela Polícia Militar Ambiental.
De acordo com o veterinário Lucas Cazati, que coordenou a equipe de cirurgia, o animal é uma possível vítima de atropelamento e foi encaminhado ao CRAS em 28 de fevereiro.
“Ela chegou com muito sangramento e desde a sua entrada no CRAS, até a cirurgia, o trabalho se concentrou em tirá-la da situação de risco. Realizamos todo um procedimento terapêutico, submetemos a exames de raios-x e ultrassom, o que nos permitiu um diagnóstico favorável à cirurgia”, explicou.
Foi realizado um enxerto heterólogo, que consiste no transplante de um indivíduo de uma espécie para outra. “Nós já havíamos realizado pequenas cirurgias de reparo em casco de jaboti, mas o procedimento na arara foi mais complexo. Utilizamos um bico de animal já falecido, que foi recortado, ajustado com resina de dentista e fixado com parafusos ortopédicos, de forma que a arara fique bem e consiga se alimentar”, acrescentou Cazati.
O procedimento cirúrgico durou 1h30 e envolveu uma equipe multidisciplinar do CRAS, com os médicos veterinários Lucas Cazati (cirurgião), Aline Duarte, Diogo Borges e Heitor Corrêa Lopes, além dos biólogos Allyson favero e Márcia Delmondes e a zootecnista Claudia Medina. “Importante ressaltar a parceria com a FAMEZ, da UFMS. O setor de radiologia veterinária nos atende sempre que necessitamos com os exames de imagem”, lembra Lucas.
A arara segue em tratamento e acompanhamento dos veterinários. No processo de adaptação, será alimentada com comidas mais macias, como o mamão e outras frutas. “É um período que exige cuidados, mas nosso prognóstico é de que em até 2 meses ela poderá ter condições de voltar à natureza”, disse o veterinário do CRAS.
A realização do procedimento incentivou a criação de “banco de bicos” para atender aves que são vítimas desse tipo de ferimento, mutilação ou avaria no bico. “Aqui no CRAS, nós recebemos muitas aves com o bico quebrado. Queremos agora dar início a um banco de bicos. Também vamos compartilhar essa experiência com a comunidade científica, por meio de artigo científico”, finalizou Lucas Cazati.
O CRAS está localizado no Parque Estadual do Prosa e é uma coordenadoria da Gerência de Recursos Pesqueiros e Fauna do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), órgão vinculado à Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar).
Fonte: O Tempo