Argentina: polêmica da erradicação de coelhos em Ushuaia gerou uma denúncia por contrabando
A polêmica entre associações protetoras de animais e cientistas de Ushuaia, Argentina, sobre a erradicação de coelhos na baía da cidade gerou nos últimos dias outro capítulo inesperado, uma denúncia penal apresentada por uma protetora contra um biólogo que realiza o controle da espécie pelo suposto delito de “contrabando agravado” de “substâncias perigosas”, de acordo com fontes judiciais.
A denúncia foi apresentada pela advogada Griselda Engelhard, da Associação de Funcionários e Advogados em Defesa dos Direitos dos Animais (AFADA).
Engelhard acusou o biólogo e investigador do Centro Austral de Investigações Científicas (CADIC) Adrián Schiavini, de ter ingressado ilegalmente na província o gás fosfina, com o qual ele, inicialmente, propôs controlar a praga de animais nas proximidades do edifício científico.
Esse procedimento foi suspenso pela Justiça Federal perante uma medida protetiva pedida pelas protetoras em julho de 2020, dando lugar a um conflito judicial que ainda continua sem resolução.
Mas conforme a advogada de AFADA, nem Schiavini e nem as autoridades do CADIC “conseguiram explicar como ocorreu o ingresso em nossa província desse gás altamente tóxico e venenoso”, sinalizou a profissional.
“Solicitamos todos os tipos de evidências para que os organismos envolvidos nos digam de que maneira a substância tóxica ingressou na ilha, e também que se possa descobrir quem interviu nesse ingresso. É um gás perigoso para os seres humanos e não sabemos onde está”, argumentou Engelhard.
Entretando, Schiavini negou ter cometido qualquer delito e afirmou que o gás fosfina “foi comprado por e-mail, você paga e eles te mandam. É absolutamente legal”.
Também disse que comprou o gás em uma empresa de Bahía Blanca, e que foi enviado à Tierra del Fuego via terrestre com a intervenção da Aduana Nacional, além de ter sido pago pela transferência e de forma documentada.
Inclusive, disse que a substância não foi utilizada para o propósito inicial (devido à controvérsia que gerou e à causa judicial ainda em trâmite), e que depois de ter permanecido armazenado em um recipiente, foi finalmente cedido a uma empresa de controle de pragas em setembro de 2020.
“A advogada está dando um terrível tiro no pé com esta acusação”, defendeu Schiavini.
A proliferação de “coelhos de Castela” na baía de Ushuaia gerou uma polêmica que já se arrasta há mais de um ano e que motivou a intervenção de organizações provinciais e nacionais.
Para os cientistas, trata-se de uma “espécie exótica” que deve ser controlada pelos danos ambientais que gera no ecossistema da região, posição que foi endossada pelo Conselho Federal do Meio Ambiente e pelo Ministério do Meio Ambiente da Tierra del Fuego.
Porém, para as protetoras de animais como a AFADA e Associação do Reino Animal Fueguino (ARAF), a erradicação ameaça a “fauna silvestre e a diversidade biológica”.
Tradução de Alice Wehrle Gomide
Fonte: Critica Sur