Botsuana está a realocar rinocerontes-negros ameaçados pela caça furtiva

Botsuana está a realocar rinocerontes-negros ameaçados pela caça furtiva
O Botsuana Está a Realocar Rinocerontes-negros Ameaçados Pela Caça Furtiva

No noroeste do Botsuana, enquanto enfrentam inundações, os funcionários governamentais estão a correr contra o tempo para salvar os poucos rinocerontes-negros que restam no vasto e pantanoso Delta do Okavango. Estes esforços feitos durante os últimos dias para encontrar e mover os rinocerontes – que têm sido dificultados pelas inundações que engoliram as estradas da região – seguem-se a uma vaga de assassinatos de rinocerontes feitos por caçadores furtivos em março, onde morreram pelo menos seis animais.

As autoridades do Botsuana consideram agora esta operação essencial, porque estão cada vez mais preocupadas com a falta de turistas no Okavango devido à pandemia de coronavírus, diz Dereck Joubert que, com a sua esposa, Beverly, lidera a organização sem fins lucrativos Rhinos Without Borders. Esta organização dedica-se à realocação de rinocerontes – que são vítimas de caça furtiva na África do Sul – para áreas consideradas mais seguras no Botsuana. A redução da presença humana facilita a mobilidade furtiva dos caçadores e, no mês passado, seis caçadores foram mortos pela polícia, segundo o Ministério do Ambiente e Conservação de Recursos Naturais e Turismo do Botsuana.

“O Ministério está bastante consciente de que os caçadores furtivos podem tentar aproveitar o confinamento e a falta de movimento de turistas nestas zonas remotas para praticarem as suas atividades ilegais”, disse o governo do Botsuana através de um comunicado à imprensa no dia 27 de abril, acrescentando que intensificou os esforços de vigilância contra a caça furtiva no mês passado. Desde que começou o confinamento no país devido ao coronavírus, no início de abril, não foram identificados novos incidentes de caça furtiva de rinocerontes.

Estima-se que em todo o continente africano existam cerca de 20 mil rinocerontes-brancos, mas apenas 4.500 rinocerontes-negros, que enfrentam a possibilidade de extinção. Ambas as espécies vivem no Okavango, mas só os rinocerontes-negros, que estão em perigo crítico de extinção, estão a ser realocados para regiões seguras. Em 1992, o último rinoceronte-negro nativo do Botsuana foi morto por caçadores furtivos e, desde o início dos anos 2000, foi reintroduzido na região um pequeno número de animais em perigo vindo da África do Sul. O casal Joubert – ambos Exploradores National Geographic que também gerem várias estalagens de ecoturismo no Delta do Okavango através da sua empresa Great Plains Conservation – estima que atualmente existam menos de 20 rinocerontes-negros no delta.

Os esforços de realocação de rinocerontes para um local não revelado são urgentes porque os trabalhadores estão a correr contra o tempo para evitar os caçadores furtivos – e também estão a tentar fazer o trabalho antes da próxima lua cheia, dizem os Joubert. No início de maio, com a lua cheia, a luz brilhante possibilita aos caçadores encontrar e matar rinocerontes sem lanternas – uma pista importante que os guardas florestais procuram durante as suas patrulhas noturnas no delta. (Acredita-se que a lua cheia de abril, durante a primeira semana de confinamento na África do Sul, tenha sido um fator-chave no aumento da caça furtiva de rinocerontes na região.)

“Sempre que há uma lua de sangue ou uma lua cheia em África, todos os envolvidos na conservação – sobretudo na conservação de rinocerontes – tremem”, diz Dereck Joubert.

Portanto, as autoridades de vida selvagem estão a tentar realocar o maior número possível de animais raros nos próximos dias. A Rhinos Without Borders foi convidada a ajudar nos trabalhos de realocação e está a emprestar equipamentos para a operação, incluindo camiões e mantimentos veterinários.

Com as chuvas fortes e as inundações, encontrar os rinocerontes – algo que normalmente já é difícil – é particularmente complicado. Os animais são avistados do ar e depois são enviados camiões para levar os rinocerontes para locais onde as estradas ainda estão transitáveis, diz o casal Joubert. “Quando chove muito, as estradas ficam todas enlameadas, e isso faz parte do misticismo local”, diz John Hilton, conservacionista que fez estudos sobre aves nas zonas húmidas da região – John Hilton é o diretor regional do Projeto Okavango Wilderness da National Geographic. “E também é uma das razões pelas quais os turistas querem ir para lá – porque é inacessível e isso faz parte da magia.” Num ano normal, diz Hilton, esta seria a época de maior turismo e as pessoas entrariam na região por via aérea ou de barco, mesmo com as inundações e as chuvas.

O destino dos rinocerontes no Botsuana permanece confidencial. “Tudo o que posso dizer é que estamos a tomar as medidas necessárias para proteger os nossos rinocerontes”, diz Cyril Taolo, diretor interino do Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais do Botsuana, que se recusou a fornecer informações específicas sobre a operação de realocação. “Não estou em posição de falar sobre detalhes em relação às operações que estão a decorrer.”

É crucial tomar estas medidas agora, enfatiza o casal Joubert. Os incidentes de caça furtiva no Botsuana, tanto de elefantes como de rinocerontes, têm aumentado nos últimos anos. O comércio lucrativo de chifres de rinoceronte é controlado por sindicatos criminosos internacionais, dizem os especialistas de vida selvagem. No ano passado, os caçadores furtivos mataram mais de duas dezenas de rinocerontes no Botsuana, e este número já foi ultrapassado nos primeiros quatro meses de 2020, diz Dereck Joubert.

Ainda assim, Dereck considera o Botsuana um dos lugares mais seguros de África para os rinocerontes. “Apesar de lamentarmos profundamente todas as mortes de rinocerontes e elefantes, temos de observar isto em contexto. Os números do Botsuana ainda são relativamente baixos.”

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com.
 
Fonte: National Geographic

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.