Buggy Bee caiu de um andar e ficou com o olho de fora — os tutores não quiseram saber

Sara Varatojo tinha apenas 15 anos quando resgatou o primeiro animal da rua. Na altura, a sua inocência não conseguiu resistir ao beicinho dos que mais precisavam da sua ajuda. Hoje, passados mais de 11 anos, continua sem conseguir fechar os olhos aos que encontra pelo caminho.
“Prometi a mim mesma que não me metia mais em alhadas. Que não ajudava a resgatar mais cães e me ia focar nos meus e no meu trabalho”. Contudo, a seguir a estas promessas, há sempre um “mas”. Neste caso, este “mas” veio em forma de bulldog com um grande desejo de ser uma abelha.
Buggy Bee chegou às mãos de Sara depois de mais nenhuma aceitar recebê-lo. “Ligaram-me a contar que ele tinha caído de um andar e que os donos não tinham fornecido qualquer assistência. Estava com um olho de fora e tinha partido a patinha”, começa por contar à PiT a cuidadora de animais e fundadora da empresa de pet sitting Oh My Dog.
Sara não teve de pedir uma segunda vez aos donos para ficar com a responsabilidade do cão ferido. E tal não se deve ao facto de ser considerada uma celebridade no mundo animal, tendo inclusivamente treinado Kila, a famosa cadela da séria portuguesa da Netflix “Rabo de Peixe”, que esteve no TOP 10 em vários países do mundo. “Eles entregaram-no de livre vontade”, garante.
O pequeno Pug, que adora vestir-se de abelha, acabou por ser operado ao olho e poderá ter de fazer o mesmo com a pata, se o osso não calcificar entretanto. Mas, quando recuperar, já tem uma família à sua espera, que ajudou a amante de animais a pagar as despesas do veterinário.

Já os seus antigos tutores ficaram livres de fazer o mesmo a outro animal: “Não conseguimos avançar com uma queixa, porque não há provas de que houve maus-tratos. Há de que ele caiu e de negligência, mas isso não é considerado crime. Eles nem o levaram ao veterinário. Isto só mostra que não interessa a raça do cão”, qualquer um pode ser abandonado, lamenta.
Sara não se atreve a voltar a prometer algo que não consegue cumprir. Afinal, já percebeu que é impossível controlar o seu instinto em querer ajudar outros animais. E o seu negócio é a prova disso.
Há poucas pessoas a poder gabar-se de que o seu ganha-pão é também a sua maior paixão. Já a jovem, criou-o em 2018, com apenas 21 anos: “Desde pequenina que sempre soube que adorava animais e queria ajudá-los o máximo que conseguisse. Quando surgiu a oportunidade de fundar uma empresa de pets, quis que eles estivessem comigo, tal como estão em casa deles”, explica.
Sempre trabalhou em lojas de animais, mas, quando procurou uma estadia familiar para deixar os seus dois cães, percebeu que tinha a desculpa perfeita para abandonar esse ramo e focar-se noutro. “Queria fazer algo mais pessoal. Falei com a minha mãe e ela não se opôs em termos mais animais em casa”.
Quem também não se importou foi Luna, “o amor da sua vida” e que é a cara da Oh My Dog, e Destiny, o cão que foi posto propositadamente no seu caminho. Mais tarde, chegou Karma, que ficou igualmente feliz em receber os cães de outrem no seu lar, apesar de a sua dona só permitir até três, “para não ser stressante” para todos.
A Oh My Dog tem a sua sede em Queluz, creche na Costa da Caparica, mas também atua em Lisboa e em Sintra. A ideia é disponibilizar um sítio perfeito para os donos deixarem os cães quando vão de férias.
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“Na creche, eles passam o dia todo connosco e brincam. Na estadia familiar, nós levamo-los para casa e passam a noite. É uma responsabilidade muito grande cuidar do cão de outra pessoa”, confessa Sara. Desta forma, o custo da diária na creche é de 15€ e o da estadia é de 25€.
O que pode parecer caro para alguns é, na verdade, justo, devido às regalias que têm em poder brincar nos fortes de pneus, com os restantes adereços que a Oh My Dog dispõe no seu grande terreno e de subir para os sofás de casa. Ainda assim, está muito abaixo do suficiente para suportar as despesas causadas pelo grande coração de Sara.
“Às vezes, perco trabalho para ter um cão resgatado em casa. É mais um cão a comer e a gastar e sozinha não consigo pagar tudo. Todos os meses, parte do meu ordenado vai para eles, mas também dependo da ajuda de outros”. Se Sara conseguisse, recebia todos os animais em casa. Infelizmente, nem a segunda conta que abriu no banco é suficiente para tal.
Até lá acolhe os dos seus clientes e fica feliz ao vê-los brincar com os seus. E pergunta-se todos os dias sobre como faz o que mais gosta e ainda recebe por isso.
Luna salvou-a da depressão — mas Desty e Karma também não chegaram à sua vida por acaso
Luna tirou Sara da amargura do seu quarto, numa das piores fases da sua vida. “Ela é a minha alma gémea. Encontrei-a num anúncio de Facebook, quando estava a passar por uma depressão muito grande e não saía da cama há dois dias”.
A amante de animais sabia que um cão podia alegrar a sua vida e foi o “olhar traquina” de Luna que a chamou a atenção: “Ela aparecia nas fotografias a destruir coisas. Então, decidi ir buscá-la”.
A cadela não só a tirou da cama, como a levou diretamente para a pista de competição. É isso mesmo: Luna e Sara já ganharam vários títulos de dog agility e de outros truques de obediências, inclusivamente o Dog Talent 2018.
Luna foi a primeira a chegar, mas não por muito tempo. Depois, chegou o “cão mais feio” que Sara já viu na vida: “O Destiny, também chamado de Desty, estava para adoção num site, e dizia lá que lhe faltava um membro. Achava que era perneta e, de repente, cheguei lá e ele não tinha um olho. Pensei que ninguém ia querer ficar com ele”, conta a rir-se.

Sara levou o cão “zarolho” para casa e percebeu rapidamente que, apesar do seu olhar desconfiado, é bastante sociável e adora estar com outros cães. O mesmo acontece com Karma, a Border Collie que faz jus ao seu nome.
Segundo a tutora, foi literalmente o karma, palavra usada para descrever uma consequência de uma ação, que pôs a cadela na sua vida. Mas foi o bom: “Uma criadora ofereceu-ma quando ela tinha dois meses. Disse que conhecia o meu trabalho, que gostava muito e que era uma forma de agradecimento”.
Quem não achou piada foi a sua mãe, visto que as duas não podiam ter mais nenhum cão. Mas ao ver a beleza e simpatia de Karma, rendeu-se imediatamente a ela.
Carregue na galeria para ver algumas fotografias da Oh My Dog e dos seus cães.
Por Carolina Jesus
Fonte: Pets in Town