Cadela supostamente usada por homem em assaltos ganha novo lar; ‘uma grande alegria’, diz novo tutor

A cachorra Macarena, que virou notícia nos últimos dias por supostamente ser usada por seu antigo tutor para cometer crimes e ameaçar pessoas, ganhou um novo lar e foi adotada nesta quarta-feira (27).
Antes de “Maca” ir para o colo da nova família, ganhar muito amor e carinho, o novo responsável pela cadela, Danilo Curvo, esteve na 14ª DP (Leblon) para assinar um documento como seu fiel depositário.
Defesa de homem preso pelo crime nega roubos e diz que adoção é ilegal (veja a nota no fim da reportagem).
Participaram da assinatura do documento a delegada titular, Daniela Terra, e o subsecretário Estadual de Agricultura, Leonardo Pinto. A delegada explicou que após a assinatura desse termo, Danilo passa a ser o novo tutor da Macarena.
O novo tutor já a considera como parte da família.
“Eu ganhei um presente. Na hora que eu vi acabei me apaixonando por ela. Foi uma grande alegria”, disse Danilo.
A delegada Daniela Terra destacou que o documento assinado na delegacia garante a guarda do animal ao novo tutor e celebrou a adoção de Macarena, após a grande repercussão do caso.
“É bom saber que acabou com um final feliz. A gente faz esse trabalho e vê muitos animais abandonados. E essa cadela merece um lar digno”, afirmou a delegada.
O subsecretário Leonardo Pinto afirmou que o animal seguirá sendo acompanhado.
“Nosso papel é observar a adaptação da Macarena, agora com um novo tutor. Vamos observar o bem-estar físico e emocional dela, que estava acostumada com outro ambiente. Vamos fazer o acompanhamento para garantir que ela estará bem”, destacou.
O suspeito Allan Kardec Arêas Santos, de 42 anos, antigo tutor da cadela, apontado pela Polícia Civil como responsável pelos crimes, foi preso no último fim de semana.
O animal contava com cerca de 150 candidatos dispostos a ficar com ela. A seleção ocorreu após entrevistas.
VÍDEO: Cadela usada para assaltar no Rio recebe cerca de 150 propostas de adoção

Enquanto não ganha um novo lar, Macarena segue em um lar temporário, bastante adaptada com a vida doméstica, segundo a subsecretaria. Uivou bastante no primeiro dia, mas logo se acostumou com o novo lugar.
Come e bebe bem, tem comportamento dócil e gosta de passear, como a maioria dos cães.
Reencontro (sem mordida)

Entre as novidades dos últimos dias está o reencontro com a inspetora Clarissa Huguet, da Polícia Civil. As duas voltaram a se encontrar e tiveram um contato amistoso, mostrando que o animal é calmo.
A policial se diz vítima do homem que, segundo a polícia, usava Macarena para cometer crimes. Ela, inclusive, levou uma mordida da cachorra.
“A princípio, eu deixei ela me cheirar, mas logo estava abraçando ela, dando um monte de beijos e até brinquei que ela nem lembrava que tinha mordido minha perna”, contou Clarissa.
Mostrando que a primeira impressão nem sempre é a que fica, as duas, aparentemente, ficaram amigas. A inspetora destacou que a nova vida de Macarena é fruto de um trabalho integrado entre a Polícia Civil e a Subsecretaria Estadual de Proteção e Bem-Estar Animal.
“Ela vai ficar feliz agora, ela vai ser bem cuidada, por mais que aquele homem gostasse dela, ela vivia em risco. Risco constante. Então esse encontro que tinha que acontecer para um desfecho tão positivo dessa história”, disse Clarissa.

O caso
Macarena foi retirada do antigo dono após a prisão dele. De acordo com as investigações, Allan Kardec Arêas Santos é sem-teto e ficava sempre pelas calçadas de vários bairros, principalmente Jardim Botânico, Ipanema e Leblon. Segundo a polícia, ele usava a cadela para roubar e atacar pessoas. Pelo menos cinco pessoas se dizem vítimas, entre elas a inspetora Clarissa.
Segundo a polícia, Allan tem 15 passagens pela polícia e estava foragido pelo crime de roubo.

“Eu estava na praia, no dia 18 de junho, com o meu cachorro. Ele colocou a guia dele no meu cão e saiu arrastando. Eu fui avisar, saí correndo atrás. Ele tinha uma pastora do lado. Eu disse: ‘Devolve o meu cachorro, você está levando o meu cachorro’. Eu tentei pegar o Scooby [nome do cão da policial], ele tentou me impedir e, quando eu vi, a cadela estava mordendo a minha perna”, relatou Clarissa.
O caso é investigado pela 14ª DP (Leblon). O homem vai responder pelo crime de roubo impróprio, que é quando se usa um instrumento, no caso um animal, para conseguir aterrorizar a vítima.
“A cachorra é dócil e, embora dócil, fiel ao dono. Ele mandava as ordens e ela obedecia. Nesse tempo, ela fez cinco vítimas. Eu peço que as pessoas que foram vítimas desse homem, que venham até a delegacia e façam o registro para que a gente possa mantê-lo preso”, disse a delegada Daniela Terra.
O que diz a defesa
Os advogados de Allan enviaram a seguinte nota:
“Nós estamos atuando em um caso de prisão injusta com falsa acusação de roubo com uso de uma cadela, repercutindo negativamente na mídia contra um acusado, em situação de rua. Até agora, nenhum veículo publicou a versão do acusado, então, gostaria de compartilhar com vocês a nossa defesa, caso tenham interesse.
O acusado alega que foi preso injustamente, que jamais praticou qualquer crime de roubo, que, na realidade, foi vítima de agressões físicas, abuso de autoridade e exercício arbitrário das próprias razões por parte da policial civil e suposta vítima Clarissa Ribeiro Huguet. O acusado diz que se sente perseguido pela polícia e pela mídia hegemônica que criou uma fake news sobre sua pessoa e a disseminou em toda a internet. O acusado já obteve a notícia de que as imagens do quiosque Classico Beach Club mostram exatamente o que ocorreu e deste modo está convencido de que provará sua inocência. Em todos os incidentes envolvendo a Cadela Macarena, o réu havia sido vítima de violência antes de Macarena atacar. E em nenhuma delas há qualquer imputação de roubo, a não ser na apresentada por Clarissa. Apesar de diversas especulações sobre as ocorrências anteriores em sua vida pregressa, o acusado é juridicamente primário e portador de bons antecedentes e assim gostaria de ser tratado, ou que cada uma das ocorrências fossem devidamente apuradas. A Macarena foi colocada à adoção de forma ilegal e contrariando a decisão da juíza que havia determinado apenas o acolhimento provisório do animal. A juíza já determinou que a Secretaria de Proteção e Defesa dos Animais seja intimada para esclarecer a notícia de que a Cadela estaria disponível para adoção.”
Por Cristina Boeckel
Fonte: g1