Casal foge da Ucrânia com 19 cachorros: ‘tínhamos muito o que fazer para ter medo’

Casal foge da Ucrânia com 19 cachorros: ‘tínhamos muito o que fazer para ter medo’
Anastasiya e Arthur fugiram da guerra na Ucrânia com 19 cachorros, buscando local seguro (Foto: Reprodução/The Guardian)

Não, os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia ainda não terminaram, e recentemente, uma foto de uma jovem mulher com 9 cachorros sob um céu ameaçadoramente escuro se espalhou por toda parte. A mulher é Anastasiya Tykha, uma estudante de veterinária de apenas 20 anos.

Ela e seu marido, Arthur Lee, tiveram por 4 anos um abrigo para animais abandonados em Irpin, na Ucrânia. A história de Anastasiya talvez seja ainda mais marcante do que a fotografia que viralizou. Além disso, o casal só descobriu sobre a foto quando viram no jornal da televisão uma reportagem anunciando que a jovem estava morta.

Anastasiya e Arthur fugiram de Irpin em março, quando a cidade acabou sendo atacada. De acordo com o portal The Guardian, o casal atravessou sete vezes a fronteira. “Tínhamos muito o que fazer para ficar preocupados ou assustados”, disse a jovem. Naquela primeira viagem, eles fugiram com 19 cachorros, cinco gatos, uma tartaruga, um camaleão, dois lagartos, um axolote e um hamster.

Cidade sob ataque

Naquela ocasião, a cidade deles estava sob ataque, sem eletricidade ou água corrente. Assim, os cachorros estavam bebendo água dos aquários do abrigo. Snizhana Bugryk, amiga do casal, os convenceu de que não tinham outra escolha senão partir.

“Snizhana disse que tínhamos que ir ou seríamos mortos, que esta era nossa última chance de sobrevivência para nós e para os animais”, disse Anastasiya. “E ela estava certa”, acrescentou Arthur. Assim, reuniram todos para uma caminhada de três quilômetros até a ponte. Lá, soldados ucranianos ajudavam pessoas a atravessar a fronteira.

Mas não era fácil. Dois dos cachorros estavam em cadeiras de rodas, e outro com patas amputadas, se recusava a ser amarrado para transporte. “Eu pensei num ponto que não iríamos conseguir, mas Snizhana ligou e disse que haveria um microônibus do outro lado para ajudar”, contou Arthur.

Levou três horas para chegar à ponte. Um cão, Pandora, estava tão aterrorizado que mordeu parte de sua língua, enquanto quatro dos outros ficaram tão irritados com os sons da guerra que mastigaram suas coleiras e fugiram.

Chegando exaustos na ponte, o casal e seus animais chamaram a atenção de fotógrafos de imprensa, que se aglomeraram ao seu redor. “Foi quando aquela foto foi tirada – eu só queria que eles nos deixassem passar para a ponte”, conta Anastasiya. “Eu estava preocupada porque havia carros queimados e muitos vidros e metais esmagados, e não queria que os animais se cortassem”.

Foto: The Guardian
Foto: The Guardian

Um grupo de soldados ucranianos veio em seu auxílio, levando os fotógrafos para longe. Assim, o casal encontrou o ônibus que os levou para um distrito do sudoeste de Kiev. Lá, disponibilizaram uma sauna ao lado de uma casa para eles e seus animais.

Ninguém fica para trás

Foi no dia seguinte que o casal descobriu que suas aventuras estavam sendo faladas em toda a Ucrânia, e que Anastasiya estava presumivelmente morta. Ainda assim, com todo o esforço, o casal estava determinado a voltar para encontrar os outros cães que haviam fugido.

“Estivemos na sauna por cinco dias, mas a cada um desses dias Anastasiya foi ao posto de controle militar ucraniano e exigiu que lhe fosse permitido passar para pegar os cães que fugiram”, disse Arthur. De acordo com ele, todos os dias o comandante no posto de controle negava, e todos os dias ela voltava. Finalmente, ele foi intimidado pela submissão.

Após atravessar a ponte, novamente sob fogo, o casal enfrentou uma caminhada de seis quilômetros até um abrigo de animais abandonados. Eles sabiam que lá haviam cães que precisavam de ajuda.

“Foi uma caminhada difícil porque tínhamos toda essa comida pesada”, disse Arthur. Além disso, eles voltaram para a própria casa, onde encontraram um dos cachorros que fugiu. Os socorristas ainda pegaram alguns cães dos vizinhos, trazendo outro grupo de animais para o refúgio. Depois de mais duas viagens, eles encontraram todos os cachorros que fugiram da primeira vez.

Arthur disse que sua última viagem de volta a Irpin foi a mais assustadora. “O conselho tinha dito que os russos tinham ido no dia anterior e que era seguro – mas não era. As bombas estavam pousando a apenas 2 metros de nós. Nos escondemos entre a minivan e uma cerca, mas estava perto”.

Foto: The Guardian
Foto: The Guardian

Agora, pelo menos dois meses depois, o casal voltou a Irpin, em uma casa nova. Como tantos ex-residentes já partiram, seu grupo de animais cresceu para 30 cães e 10 gatos. Ainda assim, apesar de tudo, eles contam que estão felizes por viverem a vida que amam.

Por Evelyn Assis

Fonte: Tribuna de Jundiaí

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.