Catorze são processados por matar cavalos e cobrar o seguro
O Tribunal de Baeza, na Espanha, acaba de concluir as instruções da denominada operação “Picar”. Uma trabalhosa e complexa investigação da Guardia Civil que desarticulou toda uma organização criminal que, supostamente matava cavalos para cobrar consideráveis indenizações dos seguros. Finalmente, a juíza Maria Teresa Zambrana ditou processamento automático contra catorze pessoas por crimes de estafa, falsidade de documento oficial e maus-tratos animal. Três dos envolvidos são veterinários. Juntamente a eles, vários proprietários de estabelecimentos equestres e falsos tutores de animais também sentarão no banco dos réus.
No relatório a magistrada descreve, através de catorze fatos concretos, qual era o “modus operandi” que, supostamente, aplicavam os processados para enganar as companhias de seguro. Ao parecer, “forçavam” a morte dos cavalos através de métodos distintos e mais tarde, os faziam passar por exemplares de puro sangue para, deste modo, cobrar as indenizações que tinham contratadas e engordar os benefícios. A Guardia Civil calculou, na época, que poderiam ter obtido lucros fraudulentos superiores de mais de um milhão de euros.
Um exemplo, explica a juíza, é o caso de Cañero XXXVII, um cavalo que, aparentemente, foi golpeado por uma potra quando ambos estavam na romaria de Begíjar. É aqui onde estravam no jogo os três veterinários processados. Concretamente, um de eles praticou a eutanásia ao equino “por encontrar-se em condições lastimáveis e com uma pata fraturada”. No entanto, “não verificou a identificação do animal mediante a leitura do microchip”. Seu proprietário avaliou-o por 24.000 euros na companhia de seguro quando seu valor real, de acordo com a juíza, era de uns 2.700 euros.
Foi justamente uma companhia de seguros que apresentou uma queixa perante Guardia Civil em junho de 2015. O Seprona (Serviço de Proteção da Natureza) abriu uma investigação que, em uma primeira fase, se concentrou nos falsos acidentes que sofriam os cavalos. Os agentes do Instituto Armado foram puxando o fiozinho e descobriram uma trama muito mais complexa que se estendia por uma dezena de províncias. Houve 28 implicados, embora a juíza de Baeza, finalmente, processou a 14 pessoas. Supostamente, utilizavam cavalos que adquiriam a preços muito baixos e os faziam passar por outros exemplares de puro sangue espanhol. Simplesmente, davam o golpe. O papel dos veterinários era certificar de que esses animais de categoria inferior tinham excelentes qualidades de adestramento, porte e aparência física quando, às vezes, nem sequer chegavam a vê-los, conforme descrito nos autos do processo. Depois, de acordo com a Guardia Civil, eles os sacrificavam, os maltratavam até a morte ou os incluíam em “acidentes” de mentira. E o próximo passo era pedir indemnizações ao seguro, que não eram de modo algum módicas.
Em alguns casos, cavalos de raça espanhola também “desapareciam” para proceder a sua subsequente venda, com outro microchip e documentação diferente. Deste modo, conseguiam lucrar em dose dupla. Como foi o caso de “Esperado JLC”, um cavalo que aparentemente foi atropelado em uma estrada rural de Úbeda em julho de 2013. Seu proprietário chegou a pedir uma indenização de 24.000 euros. Entretanto, as investigações da companhia de seguros mostraram que o animal atropelado não correspondia com as características apresentadas por “Esperado JLC” e que o veiculo tinha danos incompatíveis com o atropelamento de um cavalo. Supostamente, haviam provocado um acidente para matar a outro animal. O verdadeiro “Esperado JLC” se encontra legalmente desaparecido.
A ordem da juíza pode ser apelada perante o Tribunal Provincial É o passo anterior para que o Ministério Público e as outras acusações, exercidas pelas seguradoras, apresentem as acusações correspondentes.
Tradução de Flavia Luchetti