Cerol: um risco que cruza os céus e ameaça a natureza

Cerol: um risco que cruza os céus e ameaça a natureza
Gavião-carijó foi recebido na Associação com a asa ferida por linha com cerol — Foto: Banco de Imagens Associação Mata Ciliar Gavião-carijó foi recebido na Associação com a asa ferida por linha com cerol.

Quando falamos em vida selvagem, muita gente associa esse termo ao perigo. Mas as coisas não são bem assim. Na natureza, os bichos não são maus. Na realidade, cada ser vivo exerce uma função importante na cadeia e basta respeitar a natureza para não temê-la.

Mas e o contrário? Em relação aos riscos que os animais silvestres enfrentam no cotidiano com a presença das pessoas? Não é todo mundo que pensa nisso, mas os bichos que vivem próximos ou até mesmo dentro dos grandes centros correm risco a todo o momento, e dados comprovam isso anualmente.

No ano passado, a Associação Mata Ciliar (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), de Jundiaí (SP), recebeu 23 animais acidentados por linha de cerol. Em 2017, foram 22 casos deste tipo.

Veterinários cuidam de asa de periquitão-maracanã que foi ferido.

De acordo com Samuel de Oliveira Nunes, coordenador de comunicação da Associação, em uma escala de animas acidentados que chegam ao CRAS, a principal ameaça à fauna brasileira ainda é o atropelamento. Em segundo lugar vêm os casos de ataques por animais domésticos e, por fim, os acidentes com linha de pipa com cerol. Isso, sem contar os casos de animais vítimas do tráfico.

Por ocupar a terceira posição deste ranking, os acidentes com linha de cerol são pouco citados, mas merecem atenção. É importante saber que são poucos os animais acidentados desta forma que conseguem voltar à vida livre.

“Os ferimentos geralmente são graves, principalmente nas asas das aves, ocorrendo frequentemente à amputação completa do membro afetado. Alguns sobrevivem aos cortes e amputações, mas a ave fica com sequelas para o resto da vida, o que muitas vezes impossibilita o retorno desses animais para a natureza”, explica Samuel. 

Gavião-carijó recebe cuidados após ferimentos.

Espécies como periquitão-maracanã, periquito-rico, bem-te-vi, pardal, andorinha e diferentes aves de rapina como gavião-carijó, corujinha-do-mato, carcará e gavião-de-rabo-branco são algumas das vítimas comuns do cerol.

Os casos de acidentes com essa linha são maiores entre os meses de dezembro e janeiro, coincidentemente o período é marcado também pelas férias escolares. O número de pessoas empinando pipas é maior.

Filhote de periquitão-maracanã perdeu parte das patas por crescer em um ninho com linha de cerol.

Ninhos

E as aves não se ferem apenas quando estão em voo e são atingidas pelo cerol. Já foi constatado que este material também está sendo usado em alguns casos para a construção de ninhos. Quando isso acontece, a história também não tem um final feliz.

“O adultos de psitacídeos, por exemplo, fazem os ninhos com o que há disponível no ambiente e as linhas de cerol fazem parte disso. O problema é que os filhotes já começam a se desenvolver emaranhados nessas linhas, o que causa sérios ferimentos e gangrenas que resultam na amputação de um membro”, revela Samuel. 

Aves de rapina passam por reabilitação onde treinam voo antes de voltarem à natureza.

Vida interrompida

Em casos de ferimentos graves, em que o animal não pode retornar à natureza, ele permanecerá em cativeiro o resto da vida. Dependo da espécie, ela fica em um recinto com outros indivíduos da mesma espécie nas mesmas condições.

Nesta situação, o animal acaba se tornando um “exemplo” e peça-chave de alerta à população. “Quando o animal não pode retornar à natureza, ele cumpre um papel importante de educação ambiental, e por meio da sua história, muitas pessoas são sensibilizadas sobre a gravidade do problema envolvendo a linha com cerol”, afirma o coordenador de comunicação.

Corujinha-do-mato debilitada é medicada por veterinários do CRAS. — Fotos: Banco de Imagens Associação Mata Ciliar

O que fazer?

Se você encontrar uma ave ferida, o correto a se fazer é procurar o órgão responsável pelo manejo de fauna da sua região, como por exemplo: Policia Ambiental, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal e Defesa Civil.

“Em caso de urgência, em que a ave está em um local de risco, pode-se providenciar um abrigo para ela, com intuito do animal ficar menos estressado até a chegada do resgate. Nesses casos é recomendável entrar em contato com alguma instituição que possa orientar como fazer isso da melhor forma para garantir segurança ao animal e à pessoa”, aconselha Samuel.

Venda e uso da linha chilena ou do cerol são proibidos em todo o estado de São Paulo. — Foto: Reprodução/EPTV

Ter consciência é a solução

Uma das soluções é reforçar o perigo que essa brincadeira inadequada representa. Usar linha com cerol é crime e pode acabar com vidas, não só de animais silvestres, mas também de pessoas. “A prática de empinar pipa deve se manter, desde que não seja feita com o uso da linha de cerol.

Em relação às pessoas que não usam cerol, e tem a prática desta atividade, vale ressaltar para não descartarem nenhum material no ambiente para que não seja usado pelas aves para confeccionar o ninho de forma imprópria”, ressalta o coordenador.

Fonte: G1

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.