Como o método CED pode ser importante para controlar a esporotricose

Como o método CED pode ser importante para controlar a esporotricose

Em junho de 2016 um alerta da ativista Aparecida Negreiros, que dirige o braço de CED (Captura, Esterilização e Devolução) da ONG carioca Oito Vidas, agitou a ONG paulistana Bicho Brother.

Aparecida pedia que uma equipe fosse a campo fazer um estudo de área de uma colônia de gatos da Zona Sul da cidade de São Paulo. Havia uma situação de anormalidade na colônia.

Ao checar o local a equipe da Bicho Brother ficou bastante surpresa. Tratava-se de uma colônia grande, aproximadamente 30 gatos, muitos deles apresentando feridas que assustaram os agentes de CED. As lesões concentravam-se majoritariamente nos focinhos dos animais. A ONG entrou em estado de alerta.

Agentes de CED comandaram capturas e alguns dias depois um dos animais foi diagnosticado como positivo para a esporotricose. Tratava-se oficialmente de um foco de esporotricose.

Os resultados dos exames foram obtidos de laboratórios particulares e em sua maioria do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ-SP), que participou do trabalho dando orientações e exames laboratoriais. É imprescindível comunicar a autoridade sanitária local ao se deparar com uma colônia com suspeita de esporotricose. Isso é muito importante.

O que é a esporotricose?

Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a esporotricose é uma micose que pode afetar animais e humanos, por isso é uma zoonose. Ela acomete especialmente gatos que convivem em áreas com jardins e matas. O fungo presente na vegetação pode atingir o animal quando esse afia suas unhas nas plantas. O fungo fica nas unhas do gato que o inocula em outro animal através dos arranhões durante as brigas.

Há tratamento? Sim!

O tratamento consiste em ministrar uma droga chamada itraconazol pelo tempo que for necessário para as feridas retrocederem. E as feridas secam com a ação do fungicida. É um processo longo. Um dos animais da colônia, o Spock, precisou de sete meses para ficar curado.

Testado novamente depois de longo tempo de tratamento, já sem feridas, o laboratório apontou que a doença estava negativada. Muita festa foi feita por conta desse tratamento de sucesso.

Spock foi devolvido para a colônia por conta de seu temperamento muito forte. Ele está bem.

E por que praticar CED em uma colônia pode ajudar no combate à doença?

Por motivos simples. Primeiro porque se retira de circulação os gatos que estão doentes. Esses devem ser isolados para tratamento.

Depois porque toda a colônia, em seu limite máximo, é castrada, como acontece obviamente nos trabalho de CED.

Todos os gatos da colônia devem ser testados. E o momento ideal para se fazer a coleta de sangue e saliva para enviar para os laboratórios é o momento da esterilização, quando o animal está sedado.

Importante salientar que durante o trabalho da ONG Bicho Brother, desenvolvido em parceria com as médicas veterinárias Dra. Mayra Chanliam e Dra. Aline Rosa, nenhum animal assintomático foi diagnosticado como portador da doença. Os que não tinham feridas não estavam doentes. E todos os feridos, sem exceção, se mostraram positivos.

Portanto os assintomáticos devem ser esterilizados, vacinados contra raiva e devolvidos para a colônia.

Há risco de algum animal ser devolvido para a colônia e dias depois o laboratório apontar que ele é positivo? Sim, há. E o que fazer? Continuar o trabalho e recapturar o gato para isolamento e tratamento. Todos os gatos foram chipados para facilitar a identificação.

Um dos efeitos imediatos das intervenções de CED é a desaceleração reprodutiva dos gatos. Dessa forma temos a rápida diminuição da troca de sangue. Os gatos deixam de brigar para se acasalar e os machos deixam de fazer a cobertura nas fêmeas. E esse é o ponto central do benefício da pratica de CED para debelar um foco de esporotricose. Se deixa de existir troca de sangue e arranhões consequentemente a doença deixa de ser disseminada, uma vez que um gato sadio é infectado ao sofrer arranhões de um gato doente.

O gato velho

A colônia em questão está controlada e o foco de esporotricose foi debelado. Dois gatos ainda estão sob os cuidados das médicas e internados na clínica para tomar a dose diária de itraconazol.

Preventivamente, e de maneira periódica, são feitas intervenções de CED na colônia.

Ao iniciar os trabalhos, os agentes de CED identificaram um gato velho com muitas feridas. Com um ronco característico da esporotricose, comia pouco e tinha o olfato bastante comprometido. Animal com dor e visivelmente abatido. Entretanto ainda ligeiro e traumatizado por capturadores não profissionais, nunca deixou a equipe do Bicho Brother o capturar.

Muitas noites de sono foram perdidas por causa do gato velho. Muitas vezes, desesperados, os agentes prometeram intensificar as intervenções para tentar salvar a vida do animal. No mínimo aliviar seu calvário. Encerrar aquela sessão de tortura a céu aberto. Era um inocente sendo comido vivo por fungos. O gato velho estava desmilinguindo. Isso causou grande sofrimento e desconforto para todos que sabiam da situação.

“O gato velho sumiu dois dias após eu ser forçada a interromper uma intervenção na colônia por conta do nascimento prematuro do meu filho Emanuel, que resolveu chegar exatamente um mês antes do combinado. Meu filho nasceu lindo e forte em um sábado ensolarado. Meu esposo encontrou o gato velho morto na quarta-feira”, afirma a ativista Mariana Lança, membro da ONG.

Após a descoberta e confirmação de que se tratava do gato velho, a área foi isolada, e munidos de luvas e máscaras, agentes recolheram o corpo do bicho e esterilizaram a área. O corpo foi enviado ao crematório da Prefeitura de São Paulo. Não se pode enterrar o animal pois o risco de contaminação do solo é grande. Isso também é muito importante.

Esporotricose e CED em seminário

Vai acontecer no dia 08 de julho próximo a seguinte palestra.

Um foco de esporotricose debelado com aplicação do método CED. Caso ocorrido em uma colônia de gatos de São Paulo. Palestrantes: Dra. Mayra Chamlian e Dra. Aline Rosa – Clínica Cãomarada – São Paulo

Na sequência, a Dra. Neide Ortêncio Garcia, do CCZ-SP, vai falar sobre a doença que é o assunto do momento.

Surto de Esporotricose na cidade de São Paulo e Grande São Paulo. Palestrante: Dra. Neide Ortêncio Garcia – Centro de Controle de Zoonoses – São Paulo

Será uma ótima oportunidade para a Proteção Animal discutir, debater e aprender sobre um tema que vem preocupando ativistas e autoridades sanitárias.

Serviço:
1º Seminário Brasileiro de CED
08/07/2017 das 9:00hs às 18:00hs
Local: Casa Prema

Mais informações:
E-mail: [email protected]
Página no Facebook, https://www.facebook.com/events/1479802562053675/

Por Eduardo Pedroso

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