Conheça pessoas que dedicam a vida para ajudar os animais abandonados

Conheça pessoas que dedicam a vida para ajudar os animais abandonados
Muitos não entendem a responsabilidade de se manter um animal de estimação (Divulgação)

Os números não são precisos, mas basta olhar para o lado para encontrar um animal solto na rua, em especial os cães. Menos mal que o número de pessoas que se dedicam a cuidar também cresceu. O problema é que a crueldade e o abandono também, segundo os cuidadores, voluntários que enfrentam este problema por conta própria.

Houve um tempo em que em Curitiba só se ouvia falar da Sociedade Protetora dos Animais, instituição pioneira que nasceu em 1975. O número Organizações Não Governamentais (ONGs), associações e cuidadores independentes cresceu, mas falta muito para minimizar o estrago provocado por humanos irresponsáveis.

Entre tantas, Patas e Beijos, Amigo Animal, Tomba Latas, Beco da Esperança são instituições com este perfil. A maioria delas não recebe o que precisa pelo que oferece para custear hospedagem, medicação, vacinação, castração, alimentação, que são cobertos com doações e a promoção de bingos e rifas. Se o olhar se voltar para a região metropolitana, a situação é mais crítica. “E muita gente julga as ONGs, acha que a gente recebe ajuda do governo e tem obrigação, mas não é bem assim”, esclarece Viviane Rocha, da Entre Patas e Beijos, que atua a partir de Colombo desde 2004.

Comovida pela situação dos animais em abandono, a família Rocha fundou a ONG, resgatou mais de mil animais e fez cerca de 500 adoções. Foi Viviane quem começou tudo.
A empreitada que envolveu a família veio depois de ver os maus tratos a um cachorro cadeirante no pet shop em que trabalhava. “Fiquei lá por muito tempo por causa dele. Mas, cheguei no meu limite”, conta.

Abriu um hotel para cães e foi surpreendida pela quantidade cães jogados pelo muro, sem qualquer compaixão. Viviane vê evolução no trato com os animais, mas observa que está longe de ser o ideal e é desigual entre as cidades.

“O abandono cresceu demais e a crueldade também. Um ano ou dois depois de adoções as pessoas devolvem sem nenhum remorso”, diz ela, comentando que em Colombo, por exemplo, as campanhas de castração são a cada seis meses. “A gente se comunica com ONGs de outras cidades, a gente vai se ajudando. Poderíamos ajudar bem mais o município”, pontua ela.

A atriz Clarice Bueno Weidlich é uma cuidadora independente em Curitiba. Quando a pandemia chegou, ela, que já fazia resgates e hospedagem de cães no apartamento, passou a usar o seu carro como táxi dog. “Minha saga na proteção começou quando me dei conta da vida desses cãezinhos que explorados por uma criação indiscriminada”, conta ela que se tornou voluntária do Tomba Latas e agora é da ONG Amigo Animal.

Os humanos domesticaram os animais e agora precisam assumir a responsabilidade, defende. “Não vejo exagero em tratar pets como filhos, pois tiramos o instinto deles e temos a obrigação de cuidar”, avalia ela. “Acho que só quem tem condições financeiras pode ter um animal, justamente pela experiência de ter que assumir cães de pessoas que ‘não tem condições de ficar com eles’”, argumenta.

Número de bichos em situação de rua pode estar subestimado

Jessica Morais, advogada voluntária da Amigo Animal, começou participando dos bingos. Ela estima que o número de animais em situação de rua no Brasil é bem maior do que se vê por aí. Cita, por exemplo, uma estimativa de 2017, que indicava 52 milhões. “O curso de veterinária da UFPR lançou material com uma estimativa de 30 milhões. Para ser franca, acho que o número atual é superior ao dado de 2017”, afirma.

Ao adotar sua primeira cachorra, aos 12 anos, ela conheceu a SPAC, a Sociedade Protetora dos Animais, e passou muitos dias de sua adolescência como voluntário. Na faculdade, seguiu fazendo resgates particulares, até que viu o pedido da Patrícia Yamasaki por voluntários para o bingo da Amigo Animal, onde divide a coordenação dos eventos e administra o acompanhamento das adoções. Por cuidar do Instagram e do whatsapp, ela também orienta. “Temos muitos animais sob nosso cuidado e estamos em um momento financeiro extremamente delicado”, explica. “O que podemos fazer é dar instruções, indicar clínicas, orientar sobre castração e vacinas”, completa. Jéssica vê avanços na legislação, como a criminalização de manter animais acorrentados, da utilização de tração animal e a proibição de estouro de fogos de artifício. “Mas carece de efetividade por falta de fiscalização. As denúncias existem, eu mesma já fiz identificando a pessoa, fornecendo o endereço, e nada aconteceu”, observa.

Sobre o programa de castração em Curitiba, ela avalia que o acesso para a comunidade precisa melhorar. “Muitas fêmeas são tuteladas por alguém que, normalmente, não castra por falta de informação e, principalmente, por falta de disponibilidade financeira”, pondera. Portanto, conclui ela, ainda falta apoio público.

“Sobretudo do judiciário para fazer valer nossos contratos de adoção. Perdemos a credibilidade por falta desse apoio. As pessoas acham que cumprir ou não nossas exigências, que visam única e exclusivamente a qualidade de vida dos bichinhos, dá na mesma”, comenta.

“Consequentemente, por diversas vezes, adotantes mentem, submetem os resgatados a condições inferiores a que tinham sob a guarda da ONG. Desperdiçando nosso trabalho, tempo e dinheiro. E o que é pior, destruindo a vidinha de um inocente que antes estava sendo bem cuidado, amado e protegido”, alerta.

Situação – Rede de Proteção Animal

Estimativa, com base na metodologia da UFPR, diz que a população de cães em situação de rua em Curitiba é entre 14.700 e 24.500 e de gatos chega a 24 mil. Em busca de soluções, há 11 anos foi criada a Rede de Proteção Animal. Curitiba tem o título de Cidade Amiga dos Animais. A Rede conecta agentes públicos, da iniciativa particular e do terceiro setor e, este ano, promoveu a capacitação de organizações e protetores. O cadastro na Rede garante acesso aos benefícios das políticas públicas municipais, como a castração de animais, a participação em evento de adoção e ao banco de ração. O certificado de conclusão do curso passará a ser pré-requisito para a renovação anual do cadastro de protetor junto à Rede. Também promove os cuidados com a saúde preventiva, com avaliações clínicas gratuitas, faz a fiscalização de combate ao abandono e maus-tratos, resgate de animais atropelados e campanhas de adoção. Atualmente, 14 ONGs e 228 protetores independentes estão cadastrados

Por Adriane Perin

Fonte: Bem Paraná

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