Desconfiança é desafio para recuperação de cão vítima de maus-tratos

Desconfiança é desafio para recuperação de cão vítima de maus-tratos
Foto: Divulgação

Sem forças, quase cego e com muitos ferimentos na cabeça. Assim foi que um cão de grande porte da raça Boxer foi encontrado pela Coordenadoria Municipal de Bem Estar Animal de Bagé, RS, num domingo, dia 7 de julho, em terreno no bairro Popular. “Foi largado ali para morrer. Levou pancadas fortes na cabeça. O olho chegou a sair”, detalhou a titular do órgão, Guiomar Colares, que recebeu a denúncia, por telefone, de que havia um cachorro abandonado, muito machucado e que não conseguia parar em pé. “Estava muito assustado. Apavorado”, relembra.

No dia do resgate, a coordenadora registrou, através de fotos, o estado em que o animal se encontrava. Foi através da publicação destas fotos, nas redes sociais, que a estudante Laura Carvalho, 27 anos, conheceu a história do Gaúcho e decidiu adotá-lo e cuidar de sua recuperação. “Minha mãe me marcou na publicação. Entrei em contato com a Coordenadoria e, no outro dia, fomos lá. Quando olhei a publicação, achei que ele estava magro apenas. Mas quando chegamos lá para ver, não acreditamos com tamanha crueldade. Ficamos arrasadas e pensei que tinha que fazer alguma coisa por ele, mesmo que, talvez, ele não viesse a sobreviver”, explicou.

Laura conta que ela e a mãe, Maria Cristina Carvalho, ficaram muito impactadas. “Avaliamos que, simplesmente, levar ele para casa e dar comida não ia ser o suficiente e levamos para a clínica veterinária de nossos cachorros”, explicou.

A veterinária Lúcia Helena Messias iniciou um longo tratamento. “Deu banho nele e avaliou que a situação era crítica”, ressaltou Laura. As primeiras medidas foram dar soro vitaminado na veia e adicionar cálcio na comida. Mas, segundo a estudante, a maior dificuldade mesmo foi lidar com ele. “Por ter sido muito judiado, ficou traumatizado. Não estava sabendo que estavam fazendo com ele e tentava morder. O meio de se defender era esse”, explicou.

Para seguir o tratamento, a equipe veterinária teve que tentar conquistar a confiança dele. “Demorou algumas semanas para ele poder deixar elas chegarem perto. Até então, foi bem difícil de lidar”, comentou.

Depois de ganhar algum peso, Gaúcho passou por uma castração para que ficasse calmo e mais dócil. Depois de 60 dias internado na clínica, foi para sua nova moradia. “Nas primeiras semanas, ele rosnava para mim. Não deixava eu tocar nele. Mas, depois de algumas semanas em casa, adquiri confiança dele”, comenta Laura.

Serviço de atendimento

A Coordenadoria Municipal de Bem Estar Animal assumiu o trabalho em 1º de julho de 2019. A assistência antes era realizada por uma Organização Não-Governamental (Ong), através de um convênio com a Prefeitura. No primeiro trimestre, o novo setor responsável realizou 1,3 mil atendimentos, com cerca de 150 cães albergados. O serviço conta, atualmente, com três veterinários, quatro serviços gerais, dois rondas, uma atendente e dois no setor administrativo, além de tês veículos adaptados para o recolhimento.

Para alimentar os animais albergados na unidade de Cuidado e Atenção ao Animal, são gastos cerca de quatro mil quilos mensais de ração, além da medicação e equipamentos para o atendimento, tratamento e cirurgias. O espaço conta com pré-operatório, sala de cirurgia e pós-operatório, sala de recuperação e baias para tratamento.

A Coordenadoria tem sempre disponível animais para adoção. Quem estiver interessado pode realizar uma visita à Unidade de Cuidado e Atenção ao Animal, que fica no Passo do Viola, passando o CTG 93, à direita, ou entrar em contato pelo telefone (53) 9-9713.3705.

Maltratar animal é crime?

Sim, previsto em lei federal. De acordo com a Constituição, pessoas físicas ou jurídicas que adotam condutas consideradas lesivas ao meio ambiente devem sofrer sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. A Constituição determina o dever do Poder Público de proteger a fauna e de coibir os atos que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

O que diz a lei?

A lei define o crime de maus-tratos da seguinte forma: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

Por Mário Pereira, Bianca Vaz e Sharon Maia, Acadêmicos de Jornalismo da Urcamp

Fonte: Jornal Minuano

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