Dieta proteica acidifica o organismo
Por Sônia T. Felipe
Minhas leituras mais frequentes incluem os livros dos médicos norte-americanos fundadores da organização não-governamental Comitê dos Médicos por uma Medicina Responsável (Dr. Neal Barnard, Dr. Caldwell Esselstyn, Dr. John McDougall, Dr. T. Colin Campbell), constituída por mais de 150 mil profissionais que usam a dieta vegetal integral não processada para curar as doenças mais comuns e letais, sem uso de medicamentos, a dieta vegana viva, não a junk food vegana.
O último livro do Dr. John McDougall, The Starch Solution, editado em novembro de 2012, traz informações científicas e médicas arrebanhadas por ele ao longo dos quase 50 anos de clínica médica, com mais de 40 mil pacientes tratados e curados com a dieta à base de alimentos vegetais não processados. Essa dieta está sustentada sobre carboidratos integrais. Nela o lugar das proteínas é bem pequeno. Os pacientes, cada um com seu problema que a medicina medicamentosa não consegue curar, são orientados a comerem sem temor os alimentos que saem do solo, os grãos integrais, as sementes, as verduras e frutas.
A pirâmide alimentar desses médicos, quer dizer, a proporção dos alimentos a serem levados para o estômago, com a finalidade de desacidificar o organismo e a mente, é da seguinte ordem: 70% de carboidratos integrais obtidos de raízes, tubérculos, leguminosas, sementes e cereais; 20% de verduras; 10% de frutas e água para completar a hidratação, quando necessária. Come-se a fruta inteira, não se faz suco, porque a concentração de frutose fica muito maior nos sucos e isso enfraquece o pâncreas.
A pirâmide alimentar proposta pelo agronegócio através dos médicos que recebem salários das grandes empresas das carnes, laticínios e ovos, ou das grandes processadores de grãos e cereais (cultivados transgenicamente e destinados a alimentar os animais mortos para virar bife, ou depois de esgotarem sua energia pela extração do leite e ovos), a dieta padrão dos norte-americanos é constituída da seguinte forma: 70% carnes e laticínios; 20% carboidratos; 5% verduras; 5% frutas e leite para hidratar.
A pirâmide alimentar proposta pelo USDA, o Ministério da Agricultura estadunidense (reparem que quem propõe o que as crianças devem comer, lá, não é o Ministério da Saúde e sim o da agricultura) para padronizar a merenda escolar está constituída assim: 50% carnes e laticínios; 39% vegetais; 10% frutas; 1% carboidratos e leite para hidratar.
Quando se trata de sugerir as proporções a serem ingeridas por adultos, o USDA recomenda: 50% carnes e laticínios; 20% vegetais; 20% carboidratos; 10% frutas e leite para hidratar.
O que acontece ao organismo, quando ele é bombardeado com alimentos animalizados?
Ele acidifica, porque não evoluiu para administrar tamanha quantidade de proteínas, especialmente as que contêm metionina, enxofre sob a forma de tioéter. A dieta padrão ovo-lacto-carnista, seguida mundo afora é uma dieta acidificante. É inevitável que as pessoas sofram de males contínuos, que vão do sono ruim ao mau humor logo pela manhã, da irritabilidade ao cansaço ao longo do dia, dos distúrbios gástricos porque os alimentos animalizados não contêm fibra alguma, da intoxicação do cérebro pela sujeira que não é expelida diariamente do corpo quando os intestinos são “preguiçosos”, às cardiopatias, hipercolesterolemia, hipertensão, diabetes, obesidade, câncer e depressão.
Quando os tecidos do nosso corpo estão continuamente inflamando, e é isso que a acidez da proteína animalizada produz, inflamação ou irritação contínuas, eles perdem o gosto por viver, sua vitalidade. A energia que gastam para se defender da acidez que os invade é imensa. Não sobra muita para eles poderem cumprir suas funções reprodutivas e regenerativas contínuas de modo saudável. Então, aparecem lesões de todo tipo. Células deformadas pela violência ácida não conseguem mais fabricar suas sucessoras a contento. Através do nosso sentido interno de percepção, nossos nociceptores, temos consciência de que algo anda errado em nosso corpo. Vamos ao médico e ele não identifica nada, nenhuma patologia ainda se instalou.
Ou a pessoa começa a sentir dor por tudo que é parte do corpo, diagnosticada como fibromialgia, nome bonito ou misterioso que pode esconder apenas isto: hiperacidez produzida por uma dieta excessivamente proteica, morta e agressiva, ou os órgãos são derrotados e começam a não poder mais funcionar direito, o pâncreas não dando conta de produzir o glucagon para ajudar a digerir tanta proteína, além da insulina que já é obrigado a liberar todo o tempo por conta da ingestão de carboidratos refinados e açúcares processados, o fígado acumulando na forma de gordura o açúcar que não tem mais onde queimar (lipogênese que resulta em triglicerídeos e esteatose), os rins expelindo o excesso de cálcio dos laticínios, o coração sofrendo infartos por conta das placas de gordura e cálcio que se formam no interior das artérias, causadas pela destruição da plasmalema, o revestimento interno delas com o consumo de leites homogeneizados que carreiam a xantina oxidase para a corrente sanguínea, altamente acidificante, por isso lesa a artéria, e daí por diante.
Não bastou ter matado tantos animais para comer, ainda gosta de se matar também, por comer? Qual é a lógica por detrás dessa dieta ácida, sulfurosa? Quando eu era menina, ouvia os “causos” contados nas noites de inverno e, invariavelmente, os que tinham o demo ou o inferno por protagonista tinham também o repulsivo cheiro de enxofre no ar.
McDougall, no livro The Starch Solution, escreve: as carnes bovina, suína e de frangos, o peixe e os frutos do mar, o leite e os ovos “são um tipo de veneno, lento, mas tão perigoso quanto aquele que deixa você saber imediatamente que cometeu um grande erro. Você pode não suspeitar, a não ser 40 anos mais tarde, que esses alimentos sejam os culpados quando você adoece do coração, de câncer ou de juntas inflamadas. […] De fato, a superabundância de proteína, gordura, colesterol, metionina (um aminoácido que contém enxofre) e ácidos dietéticos nessas comidas nos empurram para um caminho perigoso a partir do momento em que ingerimos o primeiro bocado.” [p. 34]
A metionina, um aminoácido sulfúrico contido nas carnes, em nosso organismo se converte em outro aminoácido, a homocisteína, sobre a qual já escrevi outro dia, fator de risco, segundo McDougall, de “ataque cardíaco, derrame, doenças arteriais das pernas, coagulação do sangue nas veias, demência, Alzheimer e depressão. O enxofre alimenta os tumores cancerígenos e é sabida sua toxicidade para o intestino, causando colite aguda.” [p. 42-43]
É isto que a atual dieta padrão faz com nosso organismo: ela o acidifica de alto a baixo. Depois surgem os problemas que os alimentos animalizados não podem curar, pois é justamente por causa deles que as doenças aparecem. Aí, enchem-nos de medicamentos para abater cada um dos resultados ruins do hemograma completo. Mais veneno no sangue. “A maior parte das pessoas [escreve McDougall], ingere essas comidas perigosas acreditando que elas são nutritivas e sustentadoras da vida. […] Não levamos em conta o perigo inerente a essas comidas porque ninguém nos disse o quanto elas de fato são maléficas. Temos sido enganados por médicos, nutricionistas e anúncios pagos pela indústria alimentícia. Não que seja uma tentativa deliberada de nos prejudicar ou às nossas famílias; são apenas ‘negócios’.” [p. 35]
Cálcio, ferro e proteína nas quantidades necessárias e suficientes para manter nosso organismo saudável encontram-se nos alimentos vegetais integrais. E, pasmem, em vez de esses alimentos nos fazerem engordar, eles nos emagrecem. Os alimentos animalizados são errados para os humanos.
Não vemos filas nas emergências, nem UTI’s lotadas de pacientes saindo da vida por comerem arroz com feijão, feijão com farinha de milho ou de mandioca, arroz com legumes (formas que combinam os oito aminoácidos essenciais necessários para que os outros 12 sejam sintetizados pelo organismo humano), saladas e frutas. Mas os hospitais estão abarrotados de comedores de carnes, frangos, peixes, ovos, laticínios, pães, bolos, biscoitos, sorvetes, refrigerantes e cervejas.
O máximo que um organismo precisa por dia para repor proteínas é de 40 a 80 g, e a melhor proteína é a de origem vegetal, porque essa não carreia para nosso sangue o precursor da homocisteína. O resto é mito do agronegócio para vender carnes, leites e ovos, justamente o que maltrata os animais, devasta os alimentos e a água potável do planeta e destrói a saúde humana, que então passa a ser “tratada” com outros produtos, os fármacos, irmãos dos produtos animalizados, testados também em animais. Como se pode ver, os animais sofrem de tudo que é lado, seja por serem comidos, seja por sofrerem torturas indescritíveis nos centros experimentais que confundem o metabolismo de ratos com o nosso quando falam de proteínas. Já escrevi sobre isso outro dia, no texto Dieta de ratos.
Dieta abolicionista vegana viva. Essa é a dieta humana em harmonia com a luz que nosso corpo precisa para irradiar a energia que agrega e não a que corrói por acidez. Somos matéria para irradiar luz, não morte ou acidez (mau humor, violência, irritabilidade, cansaço, sono ruim, mau funcionamento intestinal por conta da ausência total de fibras nos alimentos de origem animal, e por aí afora).
A proteína animal é carregada de metionina, ácido corrosivo. Corrói nossa saúde, depois de termos corroído a vida dos animais mortos para virar os bifes carregados de metionina, ou torturados para se obter do corpo deles o que eles só produzem para se reproduzirem, não para nos sustentar: ovos e leites.
Somos bem grandinhos para encontrar proteínas, minerais, vitaminas e micronutrientes na dieta vegana luminosa. Paz para nosso corpo não acidificado. Paz para os animais. Paz para nossa mente. Sem culpas. Sem acidez. Essa é a luz que deve irradiar do nosso prato de comida para nosso corpo e então realizaremos de forma luminosa o dito de que somos exatamente o que comemos.
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