Dinamarquês registra olhares e expressões de mamíferos do mundo inteiro
“Muitos fotógrafos da vida selvagem estão interessados no drama da natureza, na caçada, na matança, na briga. Eu procuro a poesia. Meu objetivo é capturar a alma dos animais”.
É assim que o biólogo Mogens Trolle gosta de fotografar a natureza. Através do olhar dos animais e das expressões o dinamarquês registra os detalhes das espécies.
“Quando você fotografa um animal à distância, vê uma representação da espécie. Mas quando chega realmente perto do animal, tão perto que é capaz ver todos os detalhes da face, dos olhos e das expressões, você conhece a personalidade dele e reconhece um indivíduo com sentimentos”, conta.
A partir dessa proposta o biólogo deu início, em 2013, ao projeto “Eye Contact”, que em inglês significa “Contato Visual”. “Eu fotografo através de retratos aproximados de seus rostos. Quero que as pessoas olhem nos olhos deles”, explica o fotógrafo.
Eu quero capturar diferentes expressões, humores e olhares, tudo para que você tenha uma impressão da personalidade do animal
— Mogens Trolle
Ao longo dos 25 anos de carreira e dos seis anos dedicados ao projeto, Mogens registrou diversas espécies dos sete continentes, mas são os primatas os principais “alvos” das lentes do fotógrafo.
“Minha grande paixão são os primatas, os mais expressivos dos mamíferos”, conta o biólogo, que dedica uma ou duas semanas inteiras para fotografar uma única espécie, geralmente na Ásia e na África. “Meu foco, nos últimos cinco anos, tem sido os primatas desses continentes. Faço duas ou três viagens por ano para países como Borneo, Vietnã, China, Japão, Etiopia e Uganda”, revela.
Entre os registros, Mogens destaca o macaco-narigudo, mandril, macaco-dourado, macaco-japonês, macaco-de-coração-em-sangue e o douc-de-canelas-vermelhas como “os primatas mais maravilhosos que já fotografou”.
“Eu tive muitos encontros especiais com primatas e é muito difícil destacar apenas um. O mandril com certeza foi o primata mais impressionante que eu já fotografei, mas a minha espécie favorita é macaco-dourado devido à sua personalidade ‘charmosa’”, conta o fotógrafo, que se diz privilegiado pela possibilidade de registrar os primatas em detalhes.
“Eu sempre me sinto imensamente privilegiado por testemunhar e fotografar alguns dos animais mais carismáticos do mundo. Eu me divirto”, diz.
Os primatas muitas vezes me fazem sorrir e dar gargalhadas com seus comportamentos engraçados que nós humanos reconhecemos tão bem
— Mogens Trolle
Para Mogens, a fotografia pode ser grande aliada da conservação, mas a natureza pede por ações ainda mais eficazes. “Certamente existem ótimos exemplos de fotografias da vida selvagem fazendo a diferença na conservação ao incentivar a consciência e o fascínio, mas, com certeza, fotos não são suficientes”, completa.
“Precisamos de conservacionistas, pesquisadores e políticos para fazer a diferença”
Tamanha dedicação nos cliques poderá ser apreciada em um livro de fotografias e em exposições, mas por enquanto os registros são compartilhados nas redes sociais.
Experiência no Brasil
Foi durante uma experiência no Brasil, quando jovem, que o dinamarquês se apaixonou pela vida selvagem e decidiu seguir a biologia. “Trabalhei como guia no Pantanal durante dois anos. Depois fiz pesquisas com mamíferos no Pantanal e na Amazônia e trabalhei com espécies como o lobo-guará, jaguatirica, onça-parda e anta”, conta.
Macaco-dourado
Conhecido por golden snub-nosed monkey, o primata excepcionalmente colorido vive nas florestas temperadas das montanhas da China Ocidental, habitat também do panda-gigante.
Durante o inverno, quando Mogens fotografou a espécie, o animal apresenta um tipo de “revestimento” que o protege das baixas temperaturas. “Quando ele enfiou a língua para fora eu percebi uma trindade perfeita de cores que misturava tons de laranja, azul e rosa”, conta o fotógrafo.
Por Giulia Bucheroni
Fonte: G1