Disputa por permanência de casas para gatos no Campo de Santana gera comoção entre os cariocas
Nos últimos dias, uma polêmica envolvendo a prefeitura do Rio e os protetores voluntários dos animais do Campo de Santana tomou conta das redes sociais. Tudo começou quando Dona Ione Franco, uma professora aposentada de 80 anos, foi internada por problemas de saúde e comprou quatro casinhas para os gatos abandonados da região. Ela pediu para que os abrigos fossem colocados no local para que ela “ficasse em paz”. As casinhas, no entanto, foram retiradas pela prefeitura.
Dona Ione Franco ajuda a cuidar dos mais de 300 gatos abandonados no parque há mais de 30 anos. Assim como todos os protetores voluntários, ela usa o próprio dinheiro para comprar alimento e medicação para os animais. Uma das publicações que fala sobre o caso já tem 1,3 mil compartilhamentos – até o momento da publicação.
Segundo a gerência do Campo de Santana, desde 2004, Dona Ione tenta colocar abrigos no parque. No entanto, o espaço é tombado pelo Iphan e Inepac, que proíbem desde então, através de ofícios, a permanência das casinhas. O tombamento impede que qualquer modificação que altere a estrutura e o visual do ambiente seja feita sem autorização prévia. O Campo de Santana ainda passa por vistorias regulares dos institutos.
No último domingo, quando as casas foram colocadas sem autorização, a prefeitura foi notificada, sendo obrigada a retirar as casinhas, que já estão com as estruturas prejudicadas pela exposição constante às chuvas e ao sol.
O vereador Marcos Paulo Costa da Silva, do PSOL, participa da Comissão do Direitos dos Animais da Câmara e acompanha de perto a situação dos animais do Campo de Santana. Para eles, os problemas do local começam com a falta se segurança, o intenso abandono de gatos e a falta de castração dos animais.
— A prefeitura disponibiliza as vagas, mas não oferece transporte e auxílio com o pós-operatório. Esses cuidadores já gastam muito dinheiro ajudando esses animais, o que é um dever do município, eles não tem como arcar com o transporte de vários animais. Não adianta disponibilizar as vagas se os gatos não conseguem chegar até o centro de castração, não tem estrutura pós operatória. Falta, também, estrutura para impedir o abandono desses gatos. Além da falta de segurança, que expõe todos os cuidadores.
Para Marcos Paulo, o número de casinhas é muito baixo comparado ao número de gatos que vivem no Campo de Santana. Ele ainda argumenta que esses abrigos reduziriam o número de doenças e promoveriam uma maior qualidade de vida aos gatos, evitando que os cuidadores tivessem maiores gastos.
— São 400 gatos para quatro casinhas. É pouco. A prefeitura deveria confeccionar ou comprar essas casas para amparar esses animais. É injusto que as pessoas comprem com o próprio dinheiro. Não só a casa, mas os alimentos, os remédios. São voluntários que fazem muito esforço para cumprir um papel que é da prefeitura. O mínimo que a prefeitura deveria fazer é reconhecer o trabalho desses cuidadores e permitir que essas casas permaneçam no Campo de Santana.
O vereador ainda afirma desconhecer qualquer tipo de esforço da prefeitura para negociar com o Iphan a favor dos animais.
— Desconhecemos um esforço da prefeitura para interceder a favor dos animais e protetores. Nós cobramos para permanecer com as casas e eles jogam a bola para o Iphan, sem tentar uma negociação. o problema é maior do que só as casinhas. É claro que a prefeitura não tem como obrigar o Iphan a nada, nem desobedecer às ordens do instituto. Mas ela não se mostra disposta em nenhum momento. Se todas as possibilidades de negociações se esgotarem, tudo bem.
Segundo a gerência do Campo de Santana, cerca de 15 gatos são castrados mensalmente. Eles confirmam que o transporte não é custeado pela prefeitura, mas os próprios funcionários do local ajudam com o transporte dos animais. Os remédios também ficam por conta dos cuidadores, mas há, no Campo de Santana, um espaço para realização do pós-operatório. O objetivo agora é encontrar um lugar maior onde esses gatos possam se recuperar da cirurgia para que haja um mutirão de castração.
Eles também reconhecem que o abandono de animais é enorme e estão lançando uma campanha de conscientização no local. Segundo a gerência do parque, a prefeitura ainda disponibiliza dois funcionários que se dedicam aos cuidados de todos os animais do Campo de Santana.
Quanto a situação com o Iphan, a gerência diz que não pode argumentar e legislar. Nesta quinta-feira, haverá uma reunião entre a administração do Campo de Santana e os protetores dos animais para conversar sobre as casas.
No entanto, o vereador Luiz Carlos Ramos Filho, presidente da Comissão de Defesa dos Animais, alega que na terça-feira à noite, quando soube do ocorrido, entrou em contato com o prefeito Marcelo Crivella para pedir a devolução das casas. A prefeiura, então, teria acatado o pedido do vereador.
Nesta quarta-feira, o EXTRA foi até o Campo de Santana e constatou que as casas estavam confiscadas. Por conta do mau tempo, a gestão do parque optou por deixá-las em um local onde os gatos ainda conseguiriam acessá-las, mas reforçou que por determinação do Iphan as casas não poderiam voltar para o local original.
— Em um primeiro momento, nós vamos voltar com as casinhas. Vamos ver se vamos receber uma notificação do Iphan, mas também vamos oficiar a instituição pedindo sensibilidade, já que as casas não tem nenhum tipo de influência na estética do parque e são móveis – disse o vereador.
O vereador solicitou que uma reunião entre o presidente do Parques e Jardins, Fernando Gonzales, as portetoras de animais e a Subsecretaria de Bem Estar Animal (Subem) fosse realizada nesta quinta-feira. No enconro, ficou decidido que a Subem entrará em contato com o os institutos para buscar um modelo adequado de abrigos para serem colocados no parque.
Por Alice Cravo, estagiária sob supervisão de Giampaolo Morgado Braga e Luciano Garrido
Fonte: Extra