Donut passou muita fome num abrigo ilegal. Resgatado há um ano, foi agora adotado

Tem três anos e muitos receios, mas nunca perdeu o brilho no olhar. Talvez soubesse, bem no seu íntimo, que estava destinado a dias mais felizes. Ninguém diria, olhando para ele, que viveu um inferno. Mas sim. Donut já passou por muito na sua curta vida. Resgatado em outubro do ano passado de um abrigo ilegal de Canedo, no distrito de Aveiro, foi acolhido pela Maranimais, em Esmoriz – no concelho de Ovar, onde todos tinham esperança de que alguém se apaixonasse por ele e lhe desse um lar. E foi precisamente isso que agora aconteceu.
“O Donut foi para o Porto e está tudo a correr bem. A família sabe dos ‘traumas’ dele e respeita e compreende isso mesmo”, contou à PiT, com grande alegria, uma das responsáveis da associação.
Talvez pelos seus “traumas”, Donut ainda não tinha conquistado uma família. Mas não lhe faltavam razões para ser desconfiado. Era um dos “cães de Canedo”. O “caso de Canedo” demorou quatro anos a ser desmontado. Tratava-se de um abrigo ilegal em Canedo, no concelho de Santa Maria da Feira, gerido por Berta Brazão e pelo companheiro, o holandês Dick Leegwater, que acabou desmantelado em maio de 2022 – mas com muita luta pelo meio por parte de ativistas como Carla Amaral, que há muito que denunciava os maus-tratos a que os animais ali eram sujeitados.
Em julho de 2020, logo após o incêndio da Agrela, que vitimou dezenas de animais de dois abrigos ilegais, mais de 200 pessoas chegaram a tentar forçar a entrada no abrigo gerido por Berta e Dick, mas sem sucesso nessa altura. A associação por detrás desse abrigo teve vários nomes: DZG Canedo, ARC Canedo e até Abrigo da Inha. Com as denúncias a avolumarem-se, em outubro de 2021 as autoridades retiraram de lá 30 cães e 10 gatos – e alguns meses depois, em maio de 2022, procedeu-se à demolição do espaço. Ainda assim, a atividade ilegal continuou e em outubro do ano passado foram retirados mais cerca de 20 cães do local.
Donut sofreu muito. Agora será um rei
Donut foi um desses animais. Passou fome. Muita. Teve a sorte de ser um dos sobreviventes – muitos morreram, tendo vários cadáveres sido encontrados numa das inspeções ao local – e de ser acolhido pela Maranimais. Com o tempo, foi percebendo o que era o amor e que não precisava de lutar por comida. É um processo – está a ser levado a bom porto, mas demora o seu tempo.

Por ter ainda muitos receios, “gosta de comer na paz dele”, explicou em junho passado a sua protetora da Maranimais quando o publicitou na plataforma da PiT de promoção de adoções responsáveis, a PiTmatch. Nessa altura, as melhorias eram já bem visíveis, também à conta do apoio que teve a Mundicão – Educação Canina.
“O Donut não gostava que lhe mexessem na comida e comia de forma apressada para ainda conseguir comer dos outros também. Numa manhã, o treinador Álvaro Faria ajudou o Donut a perceber que não precisa ter medo de passar fome. O Donut revelou-se altamente inteligente e aprende com muita facilidade. Foi um prazer ver a vontade dele em aprender e ver o comportamento a mudar”, explicou a sua cuidadora.
Com o passar dos meses, este pequenote de apenas 16 quilos e começou a perceber o que era uma vida sem amarras e sem fome. “Connosco aprendeu a ser livre. Observa tudo atentamente e de forma tranquila. Adora explorar, conhecer e passear. Entre as suas maiores perícias estão as brincadeiras com bolas, corridas e alegrias”, dizia a sua protetora.
Só lhe faltava um lar. Uma família que o amasse, que soubesse compreendê-lo e estivesse disposta a ter paciência. Demorou um ano, mas essa família chegou. E Donut está radiante. “É muito amado e acarinhado e a família não desiste, haja as adversidades que houver”, diz a Maranimais.
Percorra a galeria para ver o antes e o depois. Donut tinha muito amor no abrigo da Maranimais e adorava as suas protetoras, mas, como qualquer animal, merecia uma casinha só dele. Esse dia chegou.
Por Alexandra Ferreira
Fonte: Pit / mantida a grafia lusitana original