Doze guardas protetores de gorilas e chimpanzés são mortos no Virunga Park, no Congo
Doze guardas florestais e cinco outras pessoas foram mortas no Parque Nacional de Virunga, na parte leste da República Democrática do Congo, no último dia 24. Este foi o incidente mortal mais recente no parque, onde, desde 2006, mais de 150 guardas florestais já foram mortos.
O Virunga, que inclui grandes áreas de floresta tropical intacta que servem de abrigo para gorilas-das-montanhas ameaçados de extinção (Gorilla beringei beringei) e chimpanzés orientais (Pan troglodytes schweinfurthii), fica no coração dos Grandes Lagos da África, que tem sofrido com conflitos armados há mais de três décadas.
Grupos rebeldes que lutam contra o governo congolês e entre si há muito tempo atuam dentro dos limites do parque. Segundo a Game Rangers Association of Africa (GRAA), as milícias estão ligadas à caça de carne de animais selvagens, pesca, exploração de madeira ilegal e caça furtiva, principalmente de elefantes, para financiar suas atividades.
Em abril de 2018, cinco guardas florestais e um motorista foram mortos por suspeitos de uma milícia armada. O parque foi fechado para turistas um mês depois, após os ataques da milícia Mai Mai atingirem um veículo que transportava turistas e outro incidente no qual dois turistas foram sequestrados e soltos no dia seguinte. O parque só foi reaberto aos visitantes em fevereiro de 2019, após uma revisão da segurança e do reforço do contingente de 600 guardas que patrulha os 7.800 quilômetros quadrados do lugar.
Os assassinatos daquela sexta-feira ocorreram em uma estrada próxima à sede do Parque Nacional Virunga em Bukima. Relatórios iniciais indicam que os guardas florestais estavam voltando para a sede quando encontraram um veículo civil que havia sido atacado. Na sequência, eles foram atacados por 60 milícias armadas, de acordo com um comunicado do Instituto Congolês de Conservação da Natureza (ICCN), que supervisiona o parque.
Além dos 12 guardas florestais, um motorista e quatro outros civis foram mortos e dois ficaram feridos. Três outros guardas florestais também ficaram gravemente feridos. Um permanece em estado crítico.
“Podemos confirmar que a autoria foi do grupo armado FDLR-FOCA”, disse a declaração da ICCN, referindo-se às Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR) e sua ala armada, as Forças Combatentes Abacunguzi (FOCA).
Um relatório de 2016 publicado pelo Enough Project, que investiga e faz campanhas contra a corrupção e violações dos direitos humanos em zonas de conflito na África, descreveu um cartel de carvão ilegal que financia as FDLR.
“Eles estão fortemente armados”, disse o conservacionista congolês Bantu Lukambo ao Enough sobre os combatentes das FDLR em Virunga. “Eles conhecem cada centímetro do parque e contam com a proteção do exército nacional.”
De acordo com o Enough, a FDLR controla efetivamente a parte sudoeste de Virunga, e lucra com a produção do carvão de alta qualidade das florestas de madeira de lei do Virunga. Os guardas florestais do parque não conseguem patrulhar essa parte do parque desde a década de 1990, apesar da vontade de recrutar, treinar e apoiar melhor o corpo de guardas florestais desde 2007.
A atribuição dos guardas florestais é preservar a vida selvagem e proteger o parque, o que significa frequentes confrontos com milícias, disse o CEO da GRAA, Andrew Campbell, a Mongabay.
“Essas famílias enlutadas perderam não apenas seus entes queridos, mas em muitos casos seus únicos provedores numa região onde muitos lutam para sobreviver. As oportunidades de emprego são muito poucas e distantes nessas áreas remotas”, revelou Campbell.
Chris Galliers, presidente da Federação Internacional de Guardas Florestais (IRF), disse: “O Virunga não é estranho à trágica perda de vidas, especialmente de guardas florestais. No entanto, isso não diminui o choque que atingiu a comunidade global de guardas florestais com a notícia desse assassinato sem sentido de guardas que, segundo relatos atuais, colocam suas vidas em risco para defender civis de ataques de milícias perto da aldeia de Rumangabo.”
Desde 2007, as autoridades do parque administram o fundo Fallen Rangers Fund para apoiar as famílias dos guardas florestais de Virunga mortos no exercício de suas funções.
Por Fred Kockott / Tradução de Alda Lima
Fonte: News Mongabay
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