Dr. Walter Figueira, o mago da Castração Minimamente Invasiva

Ele é do tipo bonachão, nunca perde o humor e ama animais. Vive rodeado de bichos retirados das ruas, especialmente gatos. Veterinário formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), atende diariamente em sua clínica, a Bichos e Vets, localizada na Zona Leste da cidade de São Paulo.
Há alguns anos desenvolve trabalhos com grupos que praticam Captura, Esterilização e Devolução (CED), e tornou-se referência no assunto como médico dedicado ao controle ético da população de gatos de rua.
Recentemente foi convidado pela organização do 1º Seminário Brasileiro de CED para demonstrar suas habilidades técnicas e conhecimentos sobre o que se convencionou chamar Castração Minimamente Invasiva (CMI).
O mago, como é chamado, vai palestrar no evento que ocorre dia 08 de julho na Casa Prema, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Tenho a honra e o prazer de entrevistá-lo para o Olhar Animal.
Eduardo Pedroso: Dr. Walter Figueira, o que é Castração Minimamente Invasiva (CMI)?
Dr. Walter Figueira: É um tipo de cirurgia que infelizmente não se aprende na faculdade (risos).
Eduardo Pedroso: E por quê?
Dr. Walter Figueira: Há um descolamento da realidade das ruas no meio acadêmico. É claro que os cursos de medicina veterinária refletem isso. Não há intercâmbio entre a Proteção Animal e as universidades. A medicina do coletivo é ainda muito pouco desenvolvida.
Eduardo Pedroso: E como definir a CMI?
Dr. Walter Figueira: Se o profissional médico veterinário não procurar aprender a CMI por sua própria conta, passará o resto da vida fazendo castrações grandes e submetendo animais a pós-operatórios longos e dolorosos.
Eduardo Pedroso: Defina, por favor.
Dr. Walter Figueira: A Castração Minimamente Invasiva é a esterilização seguindo o princípio minimalista. Tudo pequeno, diminuto, enxuto e delicado. Praticar CMI significa fazer uma pequena incisão na barriga da gata. Disse gata porque estamos falando de Captura Esterilização e Devolução (CED). Castrar dessa maneira é fazer a menor ferida cirúrgica possível. Isso proporciona uma recuperação muito rápida, pouca dor e um pós-operatório bem curto. Essa é a cirurgia que me pedem os grupos de CED.
Eduardo Pedroso: Sem CMI não existe CED. Ela é parte do trabalho de controle ético de gatos de rua. É ela que permite o rápido retorno do animal para a colônia. E o retorno rápido é fundamental para a reconexão do gato ao meio onde está adaptado.
Dr. Walter Figueira: Exato. Além disso um pós-operatório curto evita a exposição do animal saudável a ambientes clínicos ou abrigos, locais sempre perigosos mesmo se tomando os devidos cuidados. E também evitar estresse em gatos é muito importante. Animal de vida livre em cativeiro é complicado. Quanto mais rápido for devolvido em segurança, melhor.
Eduardo Pedroso: Verdade. E precisamos levar em consideração que gatos de colônia são em sua maioria ferais.
Dr. Walter Figueira: E a Castração Minimamente Invasiva não se aplica só aos animais envolvidos em ações de CED. Todos se beneficiam. Aqui na clínica meus novos clientes se surpreendem com a rapidez da recuperação das gatas quando comparam com as castrações feitas pelo modo convencional de outros médicos e clínicas.
Eduardo Pedroso: A CMI por apresentar essas vantagens é mais cara?
Dr.Walter Figueira: Não. Na verdade é mais barata pois não se gasta dinheiro com remédios fazendo pós-operatórios longos. Ao final da cirurgia aplica-se uma dose de antibiótico de largo espectro e longa duração. O suficiente para o animal terminar sua recuperação na colônia.
Eduardo Pedroso: Qual a diferença entre a Técnica do Gancho e a Castração Minimamente Invasiva?
Dr. Walter Figueira: Uma é um conceito e outra é uma técnica. A Técnica do Gancho pode ser empregada por profissionais que abrem a gata em demasia, muitos pontos, pós-operatório sofrido, maneira antiquada e dolorosa. E a mesma Técnica do Gancho pode ser utilizada para a Castração Minimamente Invasiva, incisão pequena, recuperação rápida, pouca dor, tudo mais suave. O gancho é apenas um instrumento. O que interessa é o conceito minimalista de esterilização.
Eduardo Pedroso: Recentemente a revista do CRMV-SP estampou a seguinte chamada de capa “A castração como técnica para o controle populacional de cães e gatos”.
Lendo a publicação percebemos que não há uma única menção à pratica de CED. Todo o controle para o CRMV-SP é feito por mutirões.
Dr. Walter Figueira: Eles não sabem o que é CED. Isso não se ensina na faculdade. Um médico veterinário pode passar a vida sem nunca ouvir falar sobre esse conceito.
Eduardo Pedroso: Até quando a classe médica veterinária, a Proteção Animal e os agentes de Saúde vão continuar a fazer de conta que a população de gatos de vida livre será controlada através de mutirões?
Dr. Walter Figueira: Animais que são esterilizados em mutirões são em sua maioria domiciliados. Os animais de vida livre não são esterilizados. Sem Captura, Esterilização e Devolução não haverá controle. O mutirão cumpre outro papel. Sem CED as ruas vão continuar superpovoadas de gatos.
Eduardo Pedroso: Agora foi no alvo! Sem depreciar os mutirões, se eles dessem conta de controlar os animais de vida livre, esse controle já teria acontecido. É só observar a enormidade de mutirões que ocorrem todos os dias. Mutirões cumprem um papel importante, mas não fazem o controle de gatos de rua.
Eduardo Pedroso: Alguma mensagem final?
Dr.Walter Figueira: Que a cultura CED fique mais forte. Minha contribuição é continuar trabalhando com as ONGs e capacitar mais médicos para a CMI em minha clínica.
Eduardo Pedroso: Obrigado, mago!
Por Eduardo Pedroso