Elena Bubenko, a mulher que cuida dos animais vítimas da guerra

Elena Bubenko, a mulher que cuida dos animais vítimas da guerra

Quando, durante dias a fio, os bombardeamentos russos destruíram Ruski Tyshky, Elena Bubenko decidiu que ia ficar na pequena aldeia ucraniana, localizada a 10 quilómetros da linha de fronteira com a Rússia, no ‘oblast’ de Kharkiv.

Os vizinhos de Elena que sobreviveram à violência da artilharia fugiram até cidade de Kharkiv e dali para a segurança possível de um país em guerra há mais de um ano. Dana Boback acompanhou Elena na aventura de ficar a cuidar dos animais de companhia que os donos foram deixando para atrás na fuga apressada.

Estima-se que desde que começou a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado, cerca de meio milhão de animais de companhia tenham sido abandonados pelos donos. Alguns foram deixados feridos e a fome afetou quase todos. Um número não contabilizado de muitos outros nasceu no abandono.

Numa casa destruída de RuskiTyshky, onde o telhado atingido por vários projéteis começou a ser reparado com lonas, Elena e Dana fazem a sua parte para proteger 90 cães e 70 gatos. A logística para cuidar de tantos animais é complexa e exige a colaboração regular de muitos voluntários.

O pior é o tempo, que não ajuda. “É muito difícil quando está frio e há geada. Demora o dia todo a cozinhar papas porque está gelado e demora a ferver”, diz Elena. A lenha dificulta a tarefa das duas mulheres.

Há poucas pessoas a voltar para levar os seus cães. (Elena Bubenko)

Dana está sentada junto às panelas escurecidas pelo fogo, envolvida num fumo matinal que espalha longe um efémero e reconfortante cheiro a fogueira. Os poucos cães à solta olham disciplinados para as tratadoras, talvez adivinhando que a comida do dia não tarda.

Elena entra e sai da casa com uma lanterna na testa que a ajudará a ir buscar os felizardos para a refeição seguinte. Quando abre a porta, há uma explosão de latidos.

Os animais estão bem tratados e parecem felizes tal como Elena, que conhece cada um dos 90 cães pelo nome. Diz não ter preferência por nenhum, mas quando pega no ‘Patriot’ não esconde o carinho pelo bicho que andou desaparecido depois do incêndio num pequeno prédio ter matado 11 cães.

Elena Bubenko não sabe quanto tempo mais vai aguentar tratar tamanho número de animais. “Há poucas pessoas a voltar para levar os seus cães. As casas aqui estão todas destruídas e ninguém quer morar cá enquanto a guerra durar”, queixa-se Elena.

“Alguns donos ainda telefonam a perguntar pelos animais, outros não querem saber. Desde que juntei os animais aqui só os donos de dois cães e de 10 gatos voltaram para os recolher”, constata a mulher que recusa deixar à sua sorte outras das vítimas indefesas desta guerra.

Por Alfredo Leite

Fonte: CM / mantida a grafia lusitana original

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