Em 50 anos, 71% da população de tubarões e arraias desapareceu

Em 50 anos, 71% da população de tubarões e arraias desapareceu
Imagem: VW PICS/UIG/Mark Conlin/Reprodução

Como seria um mundo sem tubarões? Segundo a conservacionista e fundadora da Shark Allies, Stefanie Brendl, “seria um planeta com oceanos cheios de animais doentes e moribundos; como predadores no topo da cadeia alimentar, tubarões eliminam animais fracos, permitindo que somente os mais fortes prosperem.” Esse mundo hipotético começou a se tornar real: um grupo internacional de pesquisadores descobriu que a população de tubarões em mar aberto caiu 71% em 50 anos. A principal causa: pesca excessiva.

OceanePics/Eric Ozolins/Reprodução

Segundo o estudo agora publicado na revista Nature, “para cada dez tubarões encontrados em mar aberto nos anos 1970, hoje temos em média apenas três”, disse à BBC o ecologista marinho da Universidade de Exeter Richard Sherley. O levantamento mostrou que as arraias também estão sumindo.

Das cerca de 1.200 espécies desses dois animais, 31 são oceânicas. Os pesquisadores analisaram artigos científicos, relatórios do governo e registros de pesca desde a década de 1970, rastreando 18 espécies que vivem em alto mar e descobrindo que suas populações encolheram 71,1%.

OceanePics/Eric Ozolins/Reprodução

Paralelamente, foi feito um levantamento na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN): ele mostrou que, das 31 espécies, 24 estão ameaçadas de extinção, sendo que a população de três decaíram tão drasticamente que elas são classificadas como “criticamente ameaçadas” – ou a um passo de serem extintas na natureza. Outras quatro aparecem como “em perigo”.

Aniquilação

Em meio século, as taxas de captura de tubarões e arraias triplicaram. Segundo o biólogo marinho Nathan Pacoureau, da Universidade Simon Fraser, o quadro pode ser bem pior do que a equipe de pesquisadores delineou.

“Nossa análise começa nos anos 1970, mas sabemos que as frotas pesqueiras vêm se expandindo globalmente desde antes dos anos 1950”, diz ele, acrescentando que a queda se acentuou principalmente depois da década de 1980, quando apenas nove espécies eram consideradas ameaçadas.

Greenpeace/Kajsa Sjölander/Divulgação

Para o ecologista marinho Nicholas Dulvy, colega de Pacoureau, “tubarões e arraias oceânicas estão em risco excepcionalmente alto de extinção, muito mais do que a média de aves, mamíferos ou sapos. A pesca excessiva desses animais põe em risco a saúde de ecossistemas oceânicos inteiros, bem como a segurança alimentar de alguns dos países mais pobres do mundo”.

Barbatanas e guelras

Tubarões são perseguidos não apenas por causa de sua carne, mas também pela cauda e barbatanas, e mais o óleo de seu fígado. As arraias estão igualmente em perigo por conta da procura principalmente por guelras, usadas na medicina tradicional chinesa. Mesmo quando não são especificamente pescados, eles são acidentalmente capturados em redes juntamente com outras espécies comercialmente valiosas, como o atum e o peixe-espada.

Greenpeace/Paul Hilton/Divulgação

Ao aumento da pesca vem se somar à baixa reprodução das espécies, o que as torna ainda mais vulneráveis. “Os tubarões oceânicos têm um ritmo de vida muito lento; geralmente levam mais de uma década para se reproduzirem”, diz Pacoureau.

Algumas medidas de proteção implantadas possibilitaram que algumas espécies aumentassem suas populações. Nas águas americanas do Atlântico e do Pacífico, desde os anos 1990 pescadores são proibidos de caçar grandes tubarões brancos, e foram impostos limites de captura para tubarões-martelo.

“O desaparecimento desses animais afetaria profundamente a vida nos mares, dos recifes de coral à segurança alimentar da humanidade: as populações de focas e leões marinhos explodiriam, reduzindo drasticamente o número de peixes. Depois que os tubarões sumirem, não há nada que possamos fazer para substituí-los no papel crítico que desempenham para o equilíbrio dos oceanos”, resume Stefanie Brend.

Por Julia Marinho 

Fonte: Tecmundo


Nota do Olhar Animal: Enquanto a preocupação for com as “espécies” e com o “equilíbrio”, estes entes abstratos, os animais estarão em risco. Quando a educação focar no respeito aos seres sencientes, aos animais como indivíduos, cada qual com seus interesses próprios, aí sim se abrirão perspectivas de proteção aos bichos.

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