Em audiência pública, carroceiros contestam projeto de lei que proíbe uso de animais para trabalho em Teresina, PI

Em audiência pública, carroceiros contestam projeto de lei que proíbe uso de animais para trabalho em Teresina, PI
Audiência pública na Câmara de Vereadores de Teresina — Foto: Jonas Carvalho/ Rede Clube

Em audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (25), os carroceiros recusaram mais uma vez o projeto de lei da vereadora Tanandra Sarapatinhas (Patriota), que pretende diminuir de forma gradativa o uso de animais para trabalho. Segundo a presidente da Associação dos Carroceiros, Ana Cristina Lima, os carroceiros não irão aceitar o projeto de lei por falta de garantias aos trabalhadores.

“O que ela vai fazer com 2234 carroceiros que não têm estudo nem nada e a única coisa que eles sabem fazer é trabalhar na tração animal? Então a gente é contra isso. Ela sugeriu que os carroceiros trabalhassem na CTA, quer dizer, um emprego de dois, três meses, um ano, enquanto ele trabalha de tração animal pelo menos o tempo que ele for vivo”, disse a presidente.

Ana Cristina falou também que os maus-tratos que alguns animais sofrem acontecem por parte de carroceiros clandestinos, e que a falta de fiscalização dificulta o trabalho da categoria.

Leiliane Martins e Luís Carlos Oliveira sustentam os cinco filhos trabalhando como carroceiros em Teresina — Foto: Lucas Marreiros/g1
Leiliane Martins e Luís Carlos Oliveira sustentam os cinco filhos trabalhando como carroceiros em Teresina — Foto: Lucas Marreiros/g1

“Existem maus-tratos, porque eu mesma sou uma que já resgatei três animais de carroceiro, porque são carroceiros que trabalham sem autorização da associação, então estou aqui pedindo também que eles façam a fiscalização, que tirem esses carroceiros de linha, porque eu mesmo já consegui tirar três”, explicou Ana Cristina.

Projeto prevê substituição gradual de animais

Deitada sob uma das carroças, ela pede uma conversa com o prefeito da capital. — Foto: Lucas Marreiros/g1
Deitada sob uma das carroças, ela pede uma conversa com o prefeito da capital. — Foto: Lucas Marreiros/g1

A proposta da vereadora Thanandra prevê a redução gradual até a proibição total da utilização dos animais, e inserção dos trabalhadores no mercado de recicláveis. O projeto propõe a proibição dos veículos de tração animal na zona urbana de Teresina no prazo de 34 meses após a sanção.

Segundo a vereadora, a audiência marcada para esta terça (25) serviu para discutir e passar para os carroceiros os principais pontos que estão no projeto de lei.

“Eu espero que hoje eles consigam entender o que é o projeto e que acabe essas fake news que o povo fica espalhando que eu estou criando um projeto pra deixar os pais de família desempregados, passando fome, que eu só vejo o bem estar dos animais, mas não é isso. Tanto vai ser bom para os animais como para as pessoas que estão expostas ao sol, muitos com problema de câncer de pele e nem sabem, em contato com o lixo, não têm uma renda fixa todo mês”, explicou ela.

Ela disse ainda que a retirada dos animais dos carroceiros será feita de forma gradativa e acontecerá à medida em que o trabalhador esteja assegurado de outra renda fixa.

“Quando um carroceiro estiver empregado, for qualificado, já tem como ganhar o dinheiro dele, aí que o animal vai ser retirado. Não vai ser retirado antes para poder o povo passar fome”, completou a vereadora.

A audiência terminou sem acordo entre as partes envolvidas.

Por Layza Mourão

Fonte: G1


Nota do Olhar Animal: A tração animal têm que ser banida. Regulamentá-la é uma tentativa vã de agradar os carroceiros e os protetores dos animais. E acaba por não atender aos interesses de qualquer um deles e muito menos aos dos animais, que continuam a ser explorados e vitimados pelos maus-tratos. A embocadura, por exemplo, é a origem de sérios problemas. Vide matéria abaixo. O uso de animais para tracionar, além da objetificação dos bichos, tem outros aspectos que resultam em uma situação terrível para estes seres. Os ganhos com a exploração dos cavalos nunca são suficientes para manter o carroceiro e sua família e, ao mesmo tempo, propiciar as condições mínimas de sobrevivência para o animal (boa alimentação, assistência veterinária frequente, suplementos, etc.). Por outro lado, manter os carroceiros nesta atividade é condená-los a uma vida miserável. Lamentavelmente, eles mesmos acreditam que essa é a única forma de sobreviverem e, para atrapalhá-los, são insuflados por seus pseudo-defensores (comumente políticos oportunistas) a resistir. A experiência, por exemplo, na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde a tração animal foi substituída pela elétrica, melhorou significativamente a qualidade de vida dos carroceiros. Hoje, o líder dos charreteiros é um dos grandes defensores do fim da tração animal e atesta essa melhoria de condições de vida para si e sua família, inclusive conseguindo desfrutar de férias, algo impensável nos tempos da tração animal.

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