Em Cubatão (SP), animais selvagens recebem carinho e tratamento especial

Em Cubatão (SP), animais selvagens recebem carinho e tratamento especial
Esse cachorro-do-mato foi domesticado e, por isso, não poderá voltar à natureza (Fotos: Rogério Soares/AT)

Cachorro-do-mato brincalhão, tatu em recuperação, um filhote de veado super dócil e mais 300 animais de várias espécies, que foram vítimas de maus-tratos, acidentes ou tráfico. Todos eles estão em tratamento no Centro de Pesquisa e Triagem de Animais Selvagens (Ceptas), em Cubatão. 

O espaço, mantido pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), em parceria com a Prefeitura de Cubatão, fica dentro das dependências do Parque Cotia-Pará. E é o único na Baixada Santista que recebe répteis, aves e mamíferos.

Segundo Lucas Porto, veterinário responsável pelo local, a caça e o tráfico de animais são responsáveis por boa parte dos atendimentos realizados pelo Ceptas. Uma luta difícil e que faz muitas vítimas.

Uma delas é Bambina, um filhote de veado-catingueiro que chegou ao local com 30 dias de vida e pesando apenas 1 kg. A mãe havia sido vítima de caçadores em Itanhém.

Filhote de veado-catingueiro perdeu a mãe no primeiro mês de vida após ataque de caçadores.

A pequena acabou se perdendo e entrou em um sítio. Porto conta que, por sorte, o proprietário do imóvel ligou para as autoridades pedindo o resgate do animal.

“Ela não conseguia comer sozinha porque a alimentação era baseada no leite materno. Fizemos uma adaptação para simular ao máximo a comida da mãe. É um animal que está super bem agora, mas infelizmente ficou condenada ao cativeiro”. Bambina tem 9 meses e será encaminhada a um mantenedouro em Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira.

Elias sofre as consequências do tráfico de animais. O sagui-de-tufo-branco chegou ao Ceptas no final de 2015 e, antes, vivia trancado dentro de uma gaiola, em um quarto escuro, comendo só bananas. A má alimentação deixou sequelas quase irreversíveis, como uma doença chamada hiperparatireoidismo nutricional secundário, devido à ingestão desbalanceada na dieta.

A patologia retira o cálcio do osso para jogar na corrente sanguínea. Elias ficou totalmente atrofiado, sem movimentação nos braços e nas pernas. ”Aqui, ele ganhou uma alimentação nutricional correta. Em seis meses, demonstrou uma melhora muito grande. Um animal que não se mexia, hoje, consegue andar. Ele ainda tem as patas atrofiadas, mas está bem melhor”, conta o veterinário.

Elias se recuperou tão bem no Ceptas que até recuperou os movimentos dos braços e pernas.

Um trabalho que dá certo

O carinho e amor que funcionários do Ceptas transmitem aos animais também ajuda na recuperação. É o caso da Titi, uma tatu-galinha que foi atropelada e sofreu sérias fraturas no fêmur.

“Ela sofreu fratura da diáfise do fêmur direito e colo femoral direito. Parte da minha mão cabia dentro do ferimento”, explica Porto. Titi tem passado por diversos tratamentos, como laserterapia para a cicatrização, e acupuntura, que a ajudou a retomar os movimentos, que antes eram robotizados devido a dor.

Titi reagiu tão bem que não precisou passar por cirurgia, mas terá que passar por um implante de ouro. “Não sei se isso já foi feito em tatu, mas estamos confiantes. O intuito é diminuir a dor que ela sente”.

Titi foi atropelada e ficou com fratura exposta, mas com tratamento de acupuntura e amor ela se recuperou.

Mas, há casos no Ceptas em que os bichos conseguem voltar à natureza. No o último dia 23 de junho, o local ganhou um novo hóspede: um filhote de gato-do-mato que esbanja só fofura por onde passa.

O veterinário acredita que a mãe do animal tenha fugido de caçadores, e ele acabou ficando sozinho. Porto explica que o filhote ainda está em fase de amamentação, mas também recebe os primeiros alimentos sólidos, já que os dentes estão nascendo.

“Depois desse período, preciso encontrar um local para deixá-lo. Como ele chegou bem jovem e não foi domesticado, nós vamos conseguir aflorar o instinto. Não tenho espaço para fazer esse trabalho aqui, mas conto com a ajuda de instituições parceiras que realizam esse tipo de trabalho”.

Gato-do-mato tem quase três meses e logo voltará a viver no seu local de origem.

O Ceptas

Assim que chegam ao Ceptas, os animais passam por um check-up médico e, em seguida, ficam numa espécie de quarentena. Eles só têm contato com outros animais depois que estão bem de saúde.

“Não posso juntar um animal que chegou agora com outro que esteja aqui há um tempo. É perigoso. Um bicho que está sadio pode pegar alguma doença. Isso pode acabar com todo o meu trabalho”.

Para Porto, o principal desafio é devolvê-los para o seu local de origem. “Meu principal foco é realizar o tratamento correto nos animais e dar um destino adequado, sempre pensando em soltá-los novamente na natureza”.

Inaugurado em 18 de novembro de 2014, o local possui nove recintos para abrigo de animais, além de laboratórios, ambulatórios, centro de triagem e um biotério para criação de roedores usados como alimentação viva.

Lucas Porto, veterinário responsável pelo Ceptas, realiza trabalho de falcoaria com as aves.

Falcões

“Realizamos também o trabalho de falcoaria, ensinando as aves a se alimentarem de maneira livre, como se fosse uma terapia. Isso é essencial para garantir que elas tenham sucesso quando viverem livremente”.

O Ceptas recebe animais da Baixada Santista, São Bernardo do Campo e São Paulo. Mesmo não estando lotado, o local não tem mais capacidade para receber papagaios, aves passeriforme (passarinhos) e saguis. De acordo o veterinário, são os mais frequentes no centro de tratamento.

Parcerias

Porto fala da importância de conseguir parceiros para o local. O Unimonte mantém tudo, mas parcerias são sempre bem-vindas. Doações de frutas, rações e até mesmo mão de obra para manter o centro é muito importante.

O Ceptas também tem parceria com empresas que ficam perto de rodovias, matas e que ocupam área ambiental. “Recebemos ocorrências de animais que entram dentro dessas empresas e que acabam ficando perdidas nessa região.”

Vale lembrar que o local não é um zoológico e, por isso, não fica aberto para visitação. “Como são animais selvagens, eles oferecem riscos à população. Nosso intuito é tratar os animais e garantir o bem- estar de todos eles”, ressalta Porto.

Por Mariana Fernandes

Fonte: A Tribuna

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