Em meio ao fogo, animais são salvos por força-tarefa no Pantanal

Em meio ao fogo, animais são salvos por força-tarefa no Pantanal
Quando não são queimados, eles podem morrer de fome, pois boa parte da fonte de alimento deles está destruída. Foto: Divulgação

Apesar das recentes e breves chuvas, o fogo continua devastando a vegetação e afetando os animais, no Pantanal.

Quando não são queimados, eles podem morrer de fome, pois boa parte da fonte de alimento deles está praticamente destruída na região.

Para amenizar, diversas iniciativas têm sido realizadas por organizações governamentais e não governamentais (ongs), ambientalistas, universidades e voluntários.

Uma delas é a “Ação Bicho Vivo”, de resgate dos acometidos pelas chamas.

Trata-se de uma espécie de força-tarefa que percorre diariamente cerca de 250 quilômetros da maior planície alagável do planeta, santuário ecológico, berço de 320 espécies de peixes, 650 tipos de aves, 80 espécies de mamíferos e 50 de répteis já catalogadas.

A “Bicho Vivo” é uma iniciativa do Instituto Sustentar (IS), realizador do projeto “Bichos do Pantanal”, com o patrocínio Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Em Mato Grosso, os incêndios já duram mais de 70 dias e aproximadamente 30% do bioma já foram consumidos pelas chamas. É o maior desastre da sua história.

De acordo com o coordenador de Educação Ambiental do Projeto Bichos do Pantanal, biólogo Mahal Massavi, ainda não se tem o número de animais acometidos, mas os prejuízos sobre a fauna pantaneira são estimados os maiores dos últimos 50 anos.

Os números são compilados por órgãos oficiais do governo, mas cerca de 64 animais já foram recolhidos e conduzidos para o Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres (PAEAS), órgão governamental localizado no início da rodovia Transpantaneira.

A força-tarefa está baseada em Cáceres (214 quilômetros, ao sudoeste de Cuiabá) e sai diariamente numa missão terrestre e fluvial, composta por 10 camionetes e 15 barcos e levando carregamento de frutas, legumes e cereal para socorrer bichos famintos ou desidratados e resgatar e cuidar os que estão feridos.

Nesta jornada, já garantiu a sobrevivência de diferentes animais de pequeno e grande porte, como onças, lobetes, iguana, anta, jabuti, garça, jaguatirica, tamanduá, e recentemente, três filhotes marsupial, da família de gambás.

“Encontramos uma família de marsupial fugindo de focos de incêndio na região de Cáceres. Infelizmente, a mãe não sobreviveu. A fêmea foi resgatada com o corpo parcialmente queimado e não resistiu”, relatou Massavi. “Nós sofremos com cada vida perdida, mas nos alegramos com cada uma que é salva”.

Ele explica que os três filhotes de marsupial sobreviveram graças ao marsúpio – uma espécie de bolsa protetora dentro da qual a mãe carregava suas proles fugindo do fogo – e à rápida reação dos voluntários que compõem a ação ‘Bicho Vivo’, que passavam pelo local naquele momento para reposição diária de alimentos.

Após o regaste, os bichinhos receberam os primeiros socorros e foram alimentados antes de serem levados para o PAEAS. “Lá, eles receberão tratamento intensivo dos profissionais”, frisou.

Apesar do registro de chuva na região, o fogo ainda continua, porém com pequenos focos de incêndio relativamente controlados, sobretudo na região da Serra das Araras, uma unidade de conservação localizada nos municípios de Cáceres e Porto Estrela. Contudo, cessando os incêndios, terá início um segundo problema, que são as cinzas carreadas para o rio, contaminando a água.

“Esse processo vai potencializar a decoada, fenômeno natural do Pantanal. Em consequência disso, haverá uma mortandade elevada de organismos aquáticos, principalmente os peixes, impactando na fonte de alimentos de várias outras espécies da fauna no Pantanal”, disse.

De acordo com Massavi, a expectativa é de que a ação permaneça ao menos até os primeiros meses do ano de 2021.

“Enquanto durar os incêndios continuaremos mobilizados para fazer o controle dessa situação desastrosa, junto com toda a comunidade científica, testando novas alternativas para que possamos passar por este momento mitigando e reduzindo da melhor forma os impactos, e também estabelecendo novas estratégias para que possamos de algum modo estar mais preparados para eventos futuros desta mesma natureza. Não vamos parar a Ação Bicho Vivo, mas continuar na linha de frente trabalhando na recomposição do Pantanal”.

ESTAÇÃO METEOROLÓGICA – Outro legado que o projeto “Bichos do Pantanal” deixará para esse triste capítulo da história do bioma é certamente a compra da 1ª Estação Meteorológica para Cáceres.

Em parceria com a Universidade do Mato Grosso (Unemat), esse investimento proporcionará subsídio para tomadores de decisão, governo, produtores rurais, gestores de reservas, entre outros.

Com isso, especialistas poderão monitorar as variações de temperatura para prever secas e umidades extremas, que ocorrem pontualmente no Alto Pantanal, e propor ações e procedimentos que sejam mais efetivos na prevenção de novos incêndios a médio e longo prazo.

Por Joanice de Deus 

Fonte: Diário de Cuiabá

Os comentários abaixo não expressam a opinião da ONG Olhar Animal e são de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.