Empresa que vendeu petiscos intoxicados recebe autorização para voltar a funcionar

Empresa que vendeu petiscos intoxicados recebe autorização para voltar a funcionar
Imagem: PixaBay

Três meses após o início das investigações sobre a morte e a intoxicação de vários cães que ingeriram biscoitos contaminados com etilenogilcol em Minas Gerais e outros Estados do Brasil, a fábrica da Bassar Pet Food – uma das empresas envolvidas no escândalo que segue sendo apurado – recebeu autorização para voltar a funcionar.

Segundo a própria empresa, o retorno foi autorizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no dia 14 de outubro. Desde então, a Bassar passou por processos de auditorias internas, de qualidade e melhorias, enquanto promovia um retorno gradual.

Em nota, a empresa alega que exames realizados pelo ministério comprovaram que a contaminação do produto não ocorreu na fábrica, e sim nas terceirizadas. “A Bassar Pet Food esclarece que voltou a operar no final de outubro, após as autoridades competentes realizarem extensa auditoria na fábrica e constatarem que a contaminação por etilenoglicol teve origem no insumo propilenoglicol adquirido da empresa Tecnoclean, de Minas Gerais. O MAPA também atestou que o processo de produção da Bassar segue todas as normas de qualidade e segurança e habilitou a empresa a retomar a produção”, disse.

De acordo com o Mapa, além da Bassar, outras cinco empresas que fabricavam petiscos para cães foram obrigadas a recolher produtos das lojas. Nem todas as fábricas fiscalizadas foram interditadas completamente para apuração do caso. Além das empresas fabricantes dos petiscos, a investigação do ministério também inclui cinco empresas que fornecem propilenoglicol – produto usado na Indústria Alimentícia e que, segundo a Polícia Civil, teria sido a fonte de contaminação por etilenoglicol. Atualmente, nenhuma dessas empresas está interditada.

Tutores exigem mais rigor

Engajados desde que as primeiras mortes de cães começaram a ser confirmadas, tutores de cães em todo o Brasil se reuniram para exigir novas regras – mais rígidas – para a indústria de alimentos para animais de estimação. Em uma petição online, o grupo espera coletar 5 mil assinaturas para que casos como o da Bassar não voltem a acontecer.

“A gente fez uma petição para tentar aumentar a fiscalização na indústria alimentícia pet e nela a gente tem que conseguir algo em torno de 5 mil assinaturas para chegarmos onde a gente quer. Nós, tutores, revivemos o sofrimento, já que cada dia aumenta mais o número de perdas, e com relação ao retorno da Bassar, estamos indignados”, diz a enfermeira Nathália Malta, de 35 anos, sendo uma das mais de 100 pessoas que fazem parte do grupo de tutores de cães que foram vítimas dos petiscos intoxicados.

A indignação com a Bassar e com as outras empresas do ramo, segundo Nathália, tem a ver com o tratamento que eles estão recebendo desde que as mortes foram confirmadas. “A morte a gente sabe que vem para todos, mas a morte da forma com que foi os nossos bichinhos foi extremamente covarde. Intoxicação, insuficiência renal aguda, vômitos, problemas neurológicos e óbitos, e isso é literalmente uma covardia e uma irresponsabilidade danada. Além disso, a Bassar voltar ao mercado para vender os seus produtos nos deixa indignados pelo fato dela não ter procurado nenhum tutor para se explicar a apoiar, então nossa indignação não tem nem tamanho”, comenta.

Em nota, a Bassar alega que está oferecendo assessoria veterinária para todos os consumidores que entram em contato com o seu SAC e o suporte necessário a todos os seus consumidores.

Prejuízos

Desde que a produção da Bassar foi interrompida, a empresa disse que sofreu fortes impactos em suas receitas, o que levou a uma redução de quase 70% dos funcionários. A partir da autorização para voltar a funcionar, a empresa alega que está ‘incrementando seus processos de qualidade e segurança na produção de alimentos’ e que contratou consultores e peritos para validarem a linha de produção. “Todos os processos estão sendo revistos para atenderem as mais altas normas de qualidade e segurança na produção de alimentos”, informou.

Investigação

A contaminação dos petiscos por etilenoglicol está sendo investigada pelas polícias civis de Minas Gerais e de São Paulo. No momento, o inquérito segue lentamente, aguardando a conclusão de laudos periciais que vão apontar se houve alguma tentativa de fraude nos documentos da transação do propilenoglicol vendido à Bassar pela Tecnoclean.

Em nota, as polícias dos dois Estados informaram que parte dos representantes das empresas envolvidas já foram ouvidos e que, no momento, a única barreira que impede a conclusão do inquérito é um laudo que vai comprovar a veracidade de uma ligação que teria sido feita entre representantes da Tecnoclean – que tem sede em Contagem, na região Metropolitana de Minas Gerais – e da A&D Química – localizada em Arujá, no interior de São Paulo.

A conversa, segundo a delegada Danúbia Quadros, da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor em Minas Gerais, explica que o laudo vai comprovar se esses representantes sabiam que estavam vendendo para a Bassar um produto sem o grau USP – que atesta a pureza do produto que pode ser usado na indústria alimentícia.

“Nós já fizemos as oitivas dos representantes legais das empresas e as oitivas de outras pessoas, dos responsáveis técnicos e dos tutores dos animais cujos exames já apontaram a contaminação, e agora a gente aguarda esses exames que relacionam uma conversa telefônica de representantes da A&D e da Tecnoclean, onde há conversas relacionadas ao grau de pureza do produto vendido e consequentemente usado no produto que matou os cachorrinhos”, diz Danúbia, que completa. “Vai ser analisado através disso qual empresa realmente incluiu esse grau USP, que atesta que o produto pode ser usado para consumo tanto humano quanto animal”, explica.

Por Júlia Vitória

Fonte: O Tempo via Onda Sul

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