Era um vegetariano que comia peixes, ‘frutos do mar’, ovos, laticínios e ‘carnes brancas’?
Agora virou moda referir-se a pessoas que só não comem as ditas “carnes vermelhas”, mas comem todo tipo de carnes de outros tons que não o vermelho, como “vegetarianas”. Falsidade ideológica agora corre solta pela mídia. Hipocrisia, idem.
Se alguém come peixes, “frutos do mar” (que de frutos nada têm, porque não dão em árvores nem em baraceiras), ovos, laticínios e… “carnes brancas” (que não existem, porque todas as carnes têm sangue, o detalhe é que de alguns animais o sangue é tirado quase inteiramente na “sangria”, enquanto de outros já é mais difícil), essa pessoa, definitivamente, de vegetariana não tem nada.
Tem gente que confunde o termo vegetariano, que deveria designar exclusivamente quem só come alimentos de origem vegetal, sem misturar qualquer coisa de origem animal, com onívoro (ovo-galacto-carnista) que designa quem também come algum vegetal, geralmente uma rodela de tomate e uma folha de alface.
Todo onívoro que come tudo de origem animal, menos a tal da “carne vermelha”, se alimenta de comida animalizada e não pode se autoproclamar nem ser denominado “vegetariano”, pois comer algum vegetal não é o mesmo que comer só vegetais.
Quando essa pessoa desiste de não comer as carnes vermelhas e volta a comê-las, sua dieta não muda de “vegetariana” para “onívora”, porque a bem da verdade, nunca deixou de ser onívora, o que quer dizer, nunca excluiu carnes, ovos, leite e mel, apenas um tipo de carne, por razões de saúde própria, ou por julgar que tirar um tipo de carne do prato já é tudo o que alguém pode fazer para se dizer defensor dos animais. Não vale.
Para ser defensor dos animais é preciso não discriminar animal algum, seja de quatro patas, de duas, seja mamífero ou ovíparo, seja de porte grande ou pequeno, enfim, um vegetariano genuíno não pratica o especismo eletivo, quer dizer, não escolhe o tipo de animal que vai seguir comendo e o tipo de animal que vai livrar da lâmina que o sangraria, caso continuasse a ser comido. Por isso os veganos insistem em deixar clara a diferença entre ser protovegetariano e ser genuinamente vegetariano ou vegano.
Outro dia, no consultório de um médico, tive que aguentar ouvir dele que comia carnes só de animais de quatro patas, porque, nós, humanos, temos duas e não quatro, então nossa semelhança com eles, ou, melhor, a deles, dos quadrúpedes, conosco, estava eliminada. Um senhor de quase noventa anos a falar tais coisas e eu ali, ouvindo até onde pode ir a insensatez humana. Por respeito aos animais, não cheguei a perguntar a ele por que não comia, então, como o fazem os coreanos, seu gato e seu cão? Têm quatro patas também.
Quem deixa de comer só um tipo de carne e depois se cansa de ser tão bonzinho com aqueles bichos e volta a comê-los, não acrescenta mais nada, nem elimina, de sua dieta, porque de fato ela nunca foi vegetariana, não importa se a pessoa defende baleias e fala em Jesus, amém, ou não.
Tem gente que vive no mundo fantástico onde comidas animalizadas são denominadas vegetarianas (peixes, frangos, ovos, mel, leite e laticínios), como se saíssem da terra, se pendurassem em árvores e nascessem em espigas ou na forma de grãos. Não é vegetariano quem come qualquer desses alimentos obtidos do corpo dos animais, não importa se ainda vivos ou já degolados. Vamos ser honestos uma vez? Quem come de tudo, tirando do prato apenas uma ou outra coisa, continua onívoro.
Quem tira do prato tudo o que tem origem em algum animal, mesmo que o animal só venha a ser morto depois que sua força se esgota pela extração que fazem do corpo dele, tipo leite e ovos, quem não come nada mesmo que tenha origem em animais vivos ou mortos, somente essa pessoa é vegetariana de verdade ou o que hoje se denomina vegana, exatamente para distinguir dos protovegetarianos onívoros com restrição à carne de um tipo ou de outro.
E as pessoas veganas o são por terem reconhecido em si mesmas que sentem imenso respeito pelo valor da vida alheia, não apenas da sua. Sem essa convicção, não adianta tirar do prato alimentos de origem animal. Sem essa convicção, logo logo a pessoa sucumbe aos apelos de sua memória por comidas animalizadas, com as quais condicionou seu cérebro desde antes de nascer.
Por Sônia T. Felipe
Fonte: Olhar Animal