Este cão teve duas patas cortadas por traficantes. Mas reaprendeu a viver

Pay de Limón está prestes a ser eleito o “animal favorito da América”. O cão cuja história chocou o mundo há cerca de 13 anos, poderá ser protagonista da próxima capa da Dogster, uma revista especializada em cães, e ser premiado com cerca de 5 mil euros, que serão destinados ao santuário onde vive hoje, no México. Entre todos os concorrentes, o Pay de Limón é o favorito.
Com pouco mais de um ano, o cão cujo nome significa “tarte de limão” em português, teve as duas patas dianteiras cortadas pelo Los Zetas, um dos cartéis mais violentos do México e principal rival do Cartel de Sinaloa, do infame narcotraficante El Chapo. Pay de Limón era usado como cobaia para os criminosos aprenderem a torturar as vítimas que raptavam.
Antes de ter ambas as patas cortadas, teve também os seus dedos retirados um por um. Quando já não tinha mais uso, foi atirado ao lixo, juntamente com os seus membros. Apesar do pesadelo que viveu, hoje vive feliz, com próteses e poderá ser considerado o “queridinho da América”.
Em 2011, a ativista Paty Milagros foi a responsável por salvar a sua vida. Mas não o fez sozinha. Por ironia — ou obra do destino — foi graças a um membro do cartel que Pay de Limón foi encontrado pela proprietária do Milagros Caninos, um santuário mexicano que acolhe cães vítimas de violência extrema. “Ele entrou em contacto e disse-me onde Pay de Limón estava”, disse ao jornal “El País”. “Esta pessoa gostava de cães”, acrescenta.
Após a denúncia, Paty foi até Fresnillo, a cidade com a maior percentagem de insegurança do país, para salvar o patudo. Em seguida, transferiu-o para o abrigo localizado na Cidade do México. Com medo de possíveis represálias por parte do cartel, resolveu escondê-lo durante os primeiros meses de tratamento.
Hoje, aos 14 anos, Pay de Limón já não se esconde. Pelo contrário, conquista o mundo. Apesar de não ter os membros dianteiros, tem próteses que o ajudam a andar normalmente. Estas são renovadas anualmente nos Estados Unidos.
Além disso, o patudo já esteve em diversos programas televisivos, como o Oprah Winfrey Show, e é o único animal que já entrou no Senado do México para “ajudar a criar leis de proteção animal”. Em janeiro, o Milagros Caninos partilhou nas redes sociais a nomeação do cão ao “America’s Favorite Pet”, a competição anual que elege um cão e um gato para serem considerados os favoritos do continente americano.
“Acho que é uma forma muito boa de agradecer tudo o que ele tem feito por tantos cães durante anos. Ele já tem mais de 13 anos, e sabemos que o tempo está contra ele”, escreveu na altura. “É um herói, um sobrevivente da crueldade humana, um exemplo de amor incondicional, resiliência e força. Já recebeu muitos prémios, mas nada melhor do que obter o ‘Melhor Cão da América’ e, assim, fugir dos holofotes que sempre teve sobre si desde o seu resgate”.

Paty resolveu fundar o Milagros Caninos após dizer adeus ao seu cão Salchicha, que morreu sufocado. “A partir daquele momento, disse a mim mesma: vou ajudar todos os cães que estão a sofrer”, recordou. Para viverem no santuário, há uma condição: “Só aceitamos cães em situações extremas. Com cancro, sem pernas, cegos, surdos, queimados, torturados, paralíticos, estuprados, drogados, espancados, mutilados…”, disse.
Atualmente, além da celebridade de duas patas, cadelas como Fresa e Chocolata também chamam a atenção pelo seu passado traumático. Fresa teve parte do focinho mutilado após tentar roubar carne de um talho. Já Chocolata, como Pay de Limón, perdeu duas patas após ser amarrada e arrastada por um camião.
Uma década após o resgate de Pay de Limón, a violência no México continua. E Paty utiliza a história do cão para consciencializar as pessoas sobre tal. “Eles cortam os dedos de Pay de Limón um a um, como quando cortam os dedos de seres humanos que são raptados”, frisou. Em 2021, o país totalizou 35,625 homicídios, dos quais 5 por cento (1,776) aconteceram no Estado de Zacatecas, onde o cão foi resgatado.
Carregue na galeria para conhecer Pay de Limón, o sobrevivente de duas patas.
Por Izabelli Pincelli
Fonte: Pets in Town / mantida a grafia lusitana original