Feminismo e poder

Feminismo e poder

Por Ellen Augusta Valer de Freitas

Ellen feminismo Magritte

Por que a mulher ainda é inferiorizada na sociedade?

Há muito tempo venho observando o comportamento das mulheres no geral e nas exceções. Sou leitora de livros feministas, sempre fui contra toda forma de injustiça e por isso sempre simpatizei com os movimentos feministas, pelo fato óbvio de que, numa sociedade claramente machista, o feminismo é uma estratégia de ação.
Mas, no recente caso do estupro em Florianópolis, uma coisa me chamou a atenção: a vulnerabilidade da mulher em todos os níveis é surpreendente. E é gritante.

Alguns movimentos feministas se colocam contra a mãe da menina, que segundo eles, “expõe” a criança de modo desnecessário. O restante do fato pareceu de menor importância. Mas o que aconteceria se ninguém ousasse se expor?

Me admiro muito que o movimento feminista não tenha se manifestado ainda contra o que o chefe de polícia afirmou em entrevista, de que aquilo (três ou mais pessoas, menores e uma menor com hematomas sexuais diagnosticados em exames) não se saberia ser ou não estupro, e que ele não estava lá para ver. Esta foi a afirmação mais grave de todas pois um crime para ser crime não precisa necessariamente ter a polícia presente.

Desviar o assunto dos culpados para a vítima é infelizmente muito comum entre mulheres, homens e todo tipo de gente preconceituosa. Lembrem do caso do Polanski, acusado de estupro, em que fãs escreveram carta para livrar o estuprador da cadeia (na carta havia muitas mulheres, curiosamente), com a justificativa de que talvez a menina “quisesse” ter relações com ele. No caso é sempre a vítima quem tem que ter o ônus da prova.

A questão envolve toda a sociedade, a polícia que demora, os meios de comunicação etc.,  mas uma coisa me chama a atenção: grupos que deveriam lutar pelos direitos humanos, pela mulher e pela justiça fazem silêncio, não se manifestam ou escrevem asneiras, com exceções, obviamente.

Criticar o feminismo e a mulher é o velho método moralista, que infelizmente até mesmo mulheres propagam.

Certz vez uma colega, com curso superior, veio com um discurso antifeminismo baseado no velho clichê de que as feministas apenas queimam sutiãs, são solteironas e infelizes. Isso é uma falácia que foi devidamente incentivada lá, na época em que o feminismo estava tomando força, pelos que gostariam que esse movimento fosse abafado. A falácia segue sendo reproduzida na boca de quem é escravo de um sistema machista, e o defende prontamente. Mulheres que são contra o feminismo deveriam se informar de que coisas que hoje elas acham normal foram conquistas do movimento feminista, que sofreu muito numa sociedade preconceituosa e sexista.

Em questões políticas também temos problemas, uma vez que as mulheres não elegem mulheres. Na defesa dos animais temos exemplos de pessoas que jamais serão veganas, pelo fato de que ser vegano é ir de encontro a movimentos políticos, a grupos ideológicos, que, apesar de não mudar a realidade de forma alguma, seguem como ideologia nos gritos, camisetas e posturas pseudolibertárias.

Mulheres que atuam no movimento de defesa dos animais são as primeiras a criticar as outras mulheres do mesmo movimento, nenhuma alcança o status de “perfeição”, críticas ao cabelo, à postura, às palavras. Umas falam demais, outras são histéricas. Os homens não fogem do cinismo, mas neste texto vou me deter às mulheres especificamente, que é o que mais me choca.

Pois a desunião ajuda a propagar a exploração. Os animais não têm voz, mas as mulheres têm. Não se pode aceitar que nesta época ainda existam preconceito, exploração e abuso dos mais fracos. E muito menos ainda se pode aceitar que as mulheres endossem o machismo, sejam preconceituosas, ou se proponham a se relacionar com homens mesquinhos e machistas.

Já ouvi de mulheres que saber demais é ruim para a mulher, pode uma coisa dessas? É exatamente por preconceitos como estes que as mulheres seguem sendo objetos, porque se colocam como tais.

No caso de uma menina, ela não pode se defender pois é quase uma criança. Mas existem milhões de mulheres adultas que podem defendê-la usando os meios legais para isto.

Por falar nisso, a mulher há muito tempo não é mais minoria. É maioria absoluta em praticamente todas as cidades, é maioria inclusive, como chefe de famílias. Por que então esse silêncio, esse posicionamento passivo diante das decisões mais importantes?

Robson Fernando, aqui mesmo no ANDA em sua coluna Zeitgeist Moral, denuncia matéria feita em portal feminino desinformando sobre o vegetarianismo. Recomendo a leitura do ótimo texto do autor, que mostra as incoerências do artigo. Infelizmente, não podemos contar com portais femininos, revistas femininas, que não ajudam a mulher a se libertar de preconceitos, inclusive alimentares.

Mas há coisas novas surgindo: a comunicação via web. Estamos cada vez mais cientes de que este novo meio de comunicação (twitter, blogs e outros) está produzindo ar fresco na informação.  Há maior liberdade de comunicação, pesquisa e informação. E é daqui que podemos mudar a realidade, informando e divulgando. Claro que a atitude no dia a dia é fundamental. Para os que acham que estou generalizando, gostaria que soubessem que há, sim, muitas pessoas interessadas no movimento feminista e fora dele. Na causa animal e nos direitos humanos (ou pessoas que trabalham  em todas essas causas juntas). Conheço algumas dessas pessoas. Mas ainda é pouco e é por isso que escrevo. Se for apenas para falar de flores, coisas bonitas, mas esconder a realidade, sugiro que procurem ler outros texto que aos milhares só falam nisso, inclusive de autores mais famosos e influentes do que eu.

Termino com uma provocação ou frase do Gary Francione: “If you are a feminist, you simply cannot consume dairy. Think about it.” (Se você é uma feminista, você não pode consumir laticínios. Pense nisso.)

Fonte: ANDA / publicado originalmente em 16 de Julho de 2010


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