Forte aumento de cães e gatos dá mote a nova petição: esterilização obrigatória em Portugal

Forte aumento de cães e gatos dá mote a nova petição: esterilização obrigatória em Portugal
Nascer e morrer nas ruas.

O nascimento desgovernado de cães e gatos tem vindo a ser um tema recorrente junto da causa animal. As ninhadas caseiras e os abandonos, que levam a que mais animais nasçam nas ruas, estão entre as principais preocupações dos ativistas. Recentemente, mais de 40 associações uniram-se e criaram uma petição para a esterilização dos cães errantes – isto porque os chamados programas CED (capturar, esterilizar, devolver [ao seu habitat]) ainda só são permitidos com gatos. Mas há uma outra petição a correr que quer ir mais longe: obrigar à esterilização de todos os animais de companhia.

A petição, dirigida ao Presidente da República, foi criada por Rita Alves, presidente da associação Cabana da Meia-Noite, sediada em Faro – que tem como objetivo controlar a população de gatos a viver na rua e providenciar-lhes um restabelecimento em ambiente controlado e seguro quando adoecem, bem como promover adoções de ninhadas identificadas.

“Este comportamento dos particulares que doam ninhadas caseiras está a contribuir em larga escala para o abandono. São mais animais na rua, à fome e ao frio, e são mais reproduções e nascimentos na rua. Nesse sentido, foi criada a petição para a esterilização se tornar obrigatória”, explica à PiT a protetora da causa animal Érica Vog, que é uma grande defensora desta medida.

Embora seja obrigatório por lei e sujeito a coima, a maioria dos animais de estimação não estão registados em Portugal, aponta a protetora da causa animal. “Dos muitos animais que os protetores e associações encontram nas ruas, só uma minoria tem identificação eletrónica. Eu própria me deparo com essa realidade: dos mais de 100 animais que encontrei e ajudei, só dois tinham chip – e assim puderam ser devolvidos aos seus tutores”.

Petição visa travar o problema da sobrepopulação

Érica Vog, que ajuda muitos animais que encontra ao abandono, tem-se dedicado de corpo e alma a esta batalha da esterilização obrigatória e é rápida a lançar os números: “de acordo com os dados existentes, sabe-se que estão registados pelo menos 3,1 milhões de animais de estimação, mas esse número corresponde a uma minoria, pois estima-se que existam mais de 12 milhões entre lares e ruas. Não existem lares para todos. Os cães e gatos estão em sobrepopulação”.

A realidade dos números.
A realidade dos números.

E existem duas causas principais para este problema, explica Érica. A primeira está no facto de haver tutores com fêmeas não esterilizadas que fazem questão de acasalar e que procuram parceiro pelo mito de que é da natureza da fêmea ter pelo menos uma ninhada – ou que têm macho e fêmea não esterilizados no mesmo lar. “Outros dão acesso à rua às suas gatas ou cadelas, também elas não esterilizadas, contribuindo assim para várias ninhadas ao longo do ano. Este ano, como nos anos anteriores, podemos ter acesso nas redes sociais às numerosas associações e protetoras que encontram ninhadas abandonadas em caixotes do lixo, junto a estes ou ainda em espaços propícios ao abandono – como as matas. Estes atos são criminosos e continuam a existir precisamente pela falta da obrigação de esterilização”.

Também há aqueles que são mortos à nascença. “Certas pessoas matam das mais diversas formas os recém-nascidos, a cada nova ninhada. Atos criminosos e terríveis que poderiam não ser praticados se pelo menos todas as fêmeas fossem esterilizadas. Estes crimes, aliás, são a maior prova de que urge a obrigação de esterilizar o máximo possível. E não é por isso que gatos e cães entrarão em extinção”, defende.

Dentro das ninhadas caseiras, “contribuem também para o problema os chamados ‘criadeiros’ [criadores ilegais], que são particulares que fazem criação de raças para venderem ilegalmente a preços por vezes muito baixos. Essas criações são, na maioria das vezes, maus cruzamentos, nomeadamente entre membros da mesma família e fêmeas sem acompanhamento veterinário e falta de suplementação durante a gestação – que dão crias com fraca saúde ou até problemas congénitos”, explica Érica Vog.

A segunda grande causa está nos abandono dos animais, “muitas vezes porque não foram esterilizados antes da maturidade sexual e começam a marcar território, ou porque os tutores mudam de casa, porque vão de férias ou ainda porque falecem e os familiares não os querem”. São por isso abandonados nas ruas, onde também vão procriar, frisa a protetora. “Acontece com os machos, mas também com as fêmeas que urinam em diversos sítios da casa”.

Não há casas para todos.
Não há casas para todos.

Também há o caso de animais não esterilizados que contribuem para mais nascimentos na rua, sem que tenham sido necessariamente abandonados. “Podem perder-se ao darem as suas voltas sozinhos e irem procurar parceiro para a cópula. Ou então porque caem de janelas e varandas”, diz Érica.

É preciso acabar com os mitos

A ativista lamenta igualmente a “mentalidade antiga e desatualizada que alimenta o mito de que os animais domésticos precisam ter relações sexuais para serem felizes”. Por essa razão, “é-lhes dado acesso à rua, principalmente no caso dos macho, com a mentalidade de que precisam ir às fêmeas”. “Em certas plataformas é comum encontrar-se anúncios de homens a procurarem fêmeas para os seus machos poderem ter relações sexuais. Isto com base na ideia de que o macho tem necessidade de concretizar o coito para ser feliz”.

A par destes problemas estão também os animais que já têm linhagem na rua e vivem em colónias, com os programas CED ainda muito lentos.

Érica Vog refere ainda o problema dos particulares que “despacham” ninhadas caseiras – muitas vezes, em apenas uma hora ficam todos dados, através de anúncio numa plataforma ou rede social, sem que haja qualquer triagem dos adotantes. “No meu caso, quando dou um animal para adoção, se for adulto vai já esterilizado, com despiste a certas doenças, desparasitado e chipado, promovendo assim a chamada adoção responsável. Se for um bebé, também é chipado e o adotante compromete-se a esterilizá-lo entre os 4 e os 6 meses. Quando o adotante tem dificuldades em assumir os preços praticados em clínicas privadas, proponho-lhe uma esterilização a baixo custo através de uma associação”, salienta a protetora, que tem uma lista sempre à mão para fornecer a quem lhe peça.

Perante este flagelo da sobrepopulação de cães e gatos, o apelo de Érica é direto: “assinem a petição”. Esta já foi subscrita por mais de 1.500 pessoas, mas é importante que o número engrosse, pede a protetora.

Percorra a galeria para saber mais sobre a esterilização de cadelas e gatas.

Por Alexandra Ferreira

Fonte: Pets in Town / mantida a grafia lusitana original

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