FOTOS: Veja como estão os bovinos de Cunha (SP) um ano após resgate em situação de maus-tratos

FOTOS: Veja como estão os bovinos de Cunha (SP) um ano após resgate em situação de maus-tratos
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal

Há um ano, mais de 300 bovinos foram resgatados em situação de maus-tratos em uma fazenda na cidade de Cunha, no interior de São Paulo. Na época, o gado foi encontrado sem comida, sem água, sem alojamento e com grande parte dos animais desnutridos e debilitados, com ossos aparentes e sem conseguir se levantar.

Doze meses depois, o cenário que os bovinos se encontram é muito diferente. Com ajuda de voluntários, doações e sob os cuidados de um santuário de animais, mais de 200 bovinos já estão saudáveis, mas as marcas dos maus-tratos seguem visíveis em dezenas de bois e vacas.

Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Vitor Favano, ativista e fundador do Santuário Vale da Rainha, ong que está responsável pelos cuidados dos bovinos, 19 bois não resistiram às sequelas que a privação de alimento e água trouxeram e, mesmo após um ano de tratamento, outros 80 bovinos ainda estão em uma ala hospitalar, tentando sair do quadro de desnutrição e doenças que foram acometidos.

Para Vitor, as memórias do resgate são dolorosas, pois recordam uma situação de extremo maus-tratos.

“A situação que a gente encontrou foi de guerra, uma coisa muito feia, triste, porque os animais estavam muito debilitados, sem trato nenhum, sem comida, sem vacina, todos doentes, muito doentes. Era uma situação de abandono, algo desumano. Colocaram eles ali para morrer”, afirmou.

Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal

Desde o resgate, Vitor contratou uma nova equipe para o santuário, que se mudou para a cidade de Cunha para cuidar exclusivamente dos bovinos. Ao menos 12 pessoas lidam diariamente com o gado, além do apoio de voluntários, que ajudam tanto com doações quanto no manejo direto dos animais.

“Hoje eles são outros animais. Quem vê hoje não reconhece. Eles engordaram, estão recuperados, vivendo uma vida quase normal. O grande dia vai ser quando a gente ver eles vivendo em pasto, com pastagem à vontade”, contou.

Sequelas

Apesar da felicidade em ver grande parte do gado recuperado, a equipe diz viver uma apreensão constante, devido às dezenas de bovinos que não conseguiram sair do quadro de desnutrição e doenças.

“As sequelas permanecem, ainda estamos sofrendo. Temos 80 animais que estão sendo tratados diariamente. A gente está lutando com muitos problemas referentes a esse período de maus-tratos. Todos os óbitos que a gente tem aqui, a gente leva para a USP, que lauda a causa da morte do animal. Eles perceberam que todos que morreram perderam as papilas do rúmen, que é uma parte do estômago do boi, responsável por absorver os nutrientes da alimentação e distribuir para o corpo”, disse.

“Devido ao longo período de fome e sede, o rúmen fica liso e perde a função de absorver os nutrientes. Por isso está sendo difícil a recuperação dos animais da ala hospitalar, eles comem, tomam os suplementos, ficam barrigudinhos, mas os nutrientes não são absorvidos e eles não conseguem ficar fortes, saudáveis”, completou.

Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal

Custos e voluntários

Segundo Vitor, desde que o santuário assumiu a tutela dos animais, os custos dos cuidados têm sido altos e sem a ajuda de voluntários eles não teriam conseguido realizar todo o trabalho que estão desenvolvendo em Cunha.

“Para você ter uma ideia, esses animais comem 5 toneladas de ração por dia, é um custo muito alto. Fora o que a gente tem que suplementar, as vacinas. Muitos deles foram encontrados com infecções, doenças, estão temos também os custos com remédios, exames veterinários. Desenvolvemos nossos trabalhos de cursos, mas se não fossem os voluntários não conseguiríamos nunca. Sou muito grato aos voluntários do Vale da Rainha que participaram desse resgate com a gente e que até hoje nos auxiliam, nos ajudam, é muita gratidão”, narrou.

Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate em situação de maus-tratos. — Foto: Arquivo pessoal

A Justiça condenou o empresário indiciado pelos maus-tratos e que era responsável pelos animais a pagar um valor para o Santuário e custear os gastos para cuidados dos animais, mas segundo Vitor, até o momento nenhum pagamento foi feito.

“Ele foi condenado a pagar as despesas do trato dos animais, mas sempre entra com recurso. Estamos aguardando. Até agora não tivemos nenhum real dele”, afirmou.

Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate. — Foto: Arquivo pessoal
Veja como estão os bovinos de Cunha um ano após resgate. — Foto: Arquivo pessoal

Espera por justiça

De acordo com o ativista, mesmo sem o pagamento dos valores, ele tem esperança que a justiça seja feita e que o caso sirva ao menos para evitar que novos episódios de maus-tratos se repitam, seja contra bovinos ou qualquer outro tipo de animal.

“A nossa expectativa é que o responsável de alguma maneira pague, no bolso ou na vida. O que a gente quer é que ele não faça mais isso, que sirva de lição para ele e todo mundo que age dessa maneira com os animais para que isso não volte a acontecer. Dinheiro é importante, mas a divulgação desses casos com alguma penalidade também vai ajudar que as pessoas se conscientizem. Os animais sentem dor, frio, medo, alegria, tristeza, choram, igual a todo mundo! É importante essa conscientização!”, afirmou.

Animais em situação de extremos maus tratos são encontrados em Cunha-SP — Foto: Divulgação/Polícia Ambiental
Animais em situação de extremos maus tratos são encontrados em Cunha-SP — Foto: Divulgação/Polícia Ambiental

Investigação

Por meio de nota, o Ministério Público de São Paulo informou ao g1 que o caso foi apresentado à Justiça um ano atrás por ação civil pública ajuizada pelo Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA) para apurar responsabilidades do abandono dos 300 bovinos mantidos em situação crítica em uma área rural de Cunha, com vários animais mortos por inanição.

De acordo com o órgão, o processo se encontra em andamento e, atualmente, em fase de perícia judicial. O juiz de Cunha nomeou perito para examinar os animais que foram resgatados ainda vivos na propriedade, sendo que após essa perícia o processo terá prosseguimento.

Ainda segundo o MP, foi definido judicialmente que o Santuário Vale da Rainha é o responsável pelos cuidados dos animais, que se encontram em uma área rural arrendada pela entidade de proteção animal que figura como depositária judicial.

Segundo o Ministério Público, o empresário que responde à ação cível permanece impedido de receber novos bovinos em sua propriedade, tendo também sido determinado pela justiça que ele e sua empresa arquem com o pagamento de gastos para manutenção e tratamento dos animais.

Tratamento dos 300 bezerros resgatados em situação de maus-tratos em Cunha. — Foto: Divulgação/ Santuário Vale da Rainha
Tratamento dos 300 bezerros resgatados em situação de maus-tratos em Cunha. — Foto: Divulgação/ Santuário Vale da Rainha

Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP), informou que o caso continua sendo investigado por meio de inquérito policial pela Delegacia de Cunha. A autoridade policial solicitou exames periciais ao Instituto de Criminalística e ao IML, e os resultados serão analisados assim que forem finalizados.

Por fim, a SSP informou que também que “foram determinadas oitivas dos envolvidos por meio de cartas precatórias, já que são pessoas que moram em outras cidades e que diligências prosseguem para a completa elucidação dos fatos”.

Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal
Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal

O que diz o empresário

Por meio de nota, a defesa do empresário responsável pela fazenda e que foi indiciado por maus-tratos, informou ao g1 que “a informação de que os bezerros foram abandonados é absurda”. Os advogados alegam que “tudo o que o produtor rural fazia era adquirir bezerros chamados de descarte do leite, já debilitados, para posterior engorda e venda”.

Ainda de acordo com a defesa do empresário, os fatos não são verdadeiros e os animais “não estavam todos moribundos”.

Por fim, os advogados informaram na nota que “têm fé no Poder Judiciário, mas que a empresa já foi arruinada, bem como a vida dos envolvidos e que mesmo com uma eventual vitória na Justiça, os empregos ligados à fazenda não poderão ser recuperados”.

Relembre o caso

A Polícia Ambiental flagrou 302 animais, entre vacas e bois, em situação extrema de maus-tratos no dia 2 de fevereiro de 2022 em uma fazenda no bairro Santa Cruz, em Cunha (SP).

Os policiais chegaram até o local após uma denúncia anônima. Os animais estavam sem comida, sem água, sem alojamento e muitos deles estavam desnutridos e caídos. O dono da fazenda foi multado em R$ 906 mil pela Polícia Ambiental. Ele também foi indiciado por crime ambiental.

Na mesma semana, os bezerros resgatados foram levados a um hospital de campanha montado no recinto de exposições de Cunha, em um espaço cedido pela prefeitura. Os animais foram alimentados e depois encaminhados a hospitais veterinários, por ativistas e ongs do direto animal.

Na época, a Polícia Civil estava investigando se os bezerros eram utilizados para aplicar golpes financeiros, por meio de esquemas de pirâmide.

Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal
Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal

A suspeita da polícia foi apresentada em uma reportagem do Fantástico, que mostrou que os proprietários usavam os animais para fazer ofertas de investimento em gado nas redes sociais.

O dono do negócio usava as redes sociais para ofertar investimentos nos animais. Segundo os anúncios na internet e em vídeos, ele informava que os interessados poderiam comprar o gado por R$ 2 mil e depois de um ano, ele receberia R$ 2,5 mil pelo negócio.

A promessa de lucro é de 25% ao ano para os investidores, com animais bem tratados. No anúncio, o empresário responsável pelo negócio ainda afirma que a carne dos animais seria de qualidade e vendida nas lojas da própria rede.

De acordo com a investigação, como nenhum bezerro da fazenda tem condições sanitárias para ser negociado, o negócio apresenta características de pirâmide financeira. O caso ainda é investigado.

Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal
Bovinos foram encontrados em situação de maus-tratos e mortos por desnutrição em Cunha. — Foto: Arquivo pessoal

Por Alice Aires

Fonte: g1

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