Gari resgata filhotes de lixo e projetos buscam erradicar o abandono de animais em SC
O gari Orli Valdomiro da Silva, de 59 anos, estava trabalhando quando se deparou com uma ninhada de filhotes abandonados. Deixados no Centro de Reciclagem, em Imbuia, no Vale do Itajaí, os animais corriam risco de vida. Alguns estavam enrolados em um saco plástico dentro de uma caixa de papelão, outros escondidos no meio dos resíduos enroscados uns nos outros para ficar aquecidos.
A pequena cidade, conhecida como Princesinha do Alto Vale, que fica a 150 quilômetros da capital catarinense, tem cerca de 6 mil habitantes. Segundo um levantamento realizado em julho pela área de veterinária da prefeitura, 3,5 mil animais viviam com famílias no município, ou seja, tinham um lar. Enquanto isso, pelos menos 100 bichinhos estavam em situação de rua.
Animais abandonados no lixo
“Não foi a primeira vez que deixaram os cães aqui, eles chegam e deixam como se fossem lixo. Mas nas últimas semanas vieram mais animais e nunca chegou nesta situação. Os animais não são descartáveis, precisam de cuidado, de alimento. Abandono é coisa que não se faz”, disse o gari. Orli trabalha com reciclagem tem mais de uma década e está no centro há pelo menos dois anos.
Pelo menos 35 cachorros, entre filhotes e adultos, e dois gatos estão alojados no Centro de Reciclagem. O gari e os colegas de trabalho são responsáveis por alimentar os animais que foram abandonados.
“Sempre gostei de animais. Muitos chegam machucados e cuido deles. Quando não tem comida, tiro dinheiro do bolso para comprar a ração”, disse.
Preocupada com a reincidência dos casos de abandono, a filha dele, a professora Elenice da Silva, publicou a situação nas redes sociais e também contou sobre a atitude do pai, que acolheu e alimentou os bichos.
“Essa cultura de abandono precisa acabar. Registrei em foto e fiz a publicação porque fiquei indignada ao ver tantos animais deixados pelas pessoas. E também para buscar interessados em adotar os cães, além de vacinar e castrar”, conta a professora.
Desde a publicação das fotos e com o apoio de uma rede formada pelos próprios moradores da cidade, dez filhotes que estavam no local foram adotados. Além disso, uma ação da prefeitura com apoio de voluntários providenciou vacinas e castração.
Outras iniciativas
Além da atitude e dos cuidados prestados por Orli e pela filha, outros projetos na cidade com impactos tanto na área sanitária, educação, saúde, segurança ambiental, estão em andamento com o objetivo de erradicar o abandono de animais no município.
“Antes o abandono era na área rural, agora que os animais estão nas ruas da cidade ficou mais evidente e exige um esforço de todos para conter esse avanço”, disse a veterinária da Prefeitura, Greici Thiesen Martins.
A proposta do governo municipal é de fazer até o final do ano, 200 procedimentos de castrações e vacinação contra raiva de forma gratuita. Também foram intensificadas as orientações durante as visitas nos domicílios feitas pelos agentes comunitários de saúde.
“Toda semana tem um caso de animal abandonado no município, até mesmo de outra cidade. Esse tipo de ação é para sensibilizar a comunidade que maltratar é crime e deve ser denunciado e punido”, explica a fiscal sanitarista Tatiana Possani.
Mas, além disso, a veterinária destaca que uma das principais iniciativas não envolve custo, mas a atitude da comunidade.
Junto com outros voluntários, por meio do projeto “Proteja os Animais”, foram organizadas ações para localizar novos tutores para os bichinhos e também iniciativas para obter apoio de pessoas que também lutam pela causa. “Além da saúde, os animais precisam de carinho, atenção e cuidado”, explica Greici.
Ações nas escolas
Com o apoio da comunidade e também da direção escolar, foi formado um grupo responsável por várias ações em prol dos animais com o evolvimento de mais de 600 alunos da rede estadual de ensino. Os trabalhos começaram no início de setembro.
Foram organizados mutirões para feira de cachorros e gatos, palestras para divulgar cuidados básicos com os animais domésticos e até um pedágio consciente com distribuição de materiais e adesivos feitos pelos estudantes com orientações que ajudam a reduzir ou erradicar o abandono dos animais de estimação.
Por Anaísa Catucci e Caroline Stinghen
Fonte: G1