Gaspar: esquelético e com uma infeção grave, este velhinho meigo driblou a morte

Um animal que é encontrado no limite das suas forças, mas que – ainda assim – resiste enquanto pode, precisa de um nome. É meio caminho andado para recuperar a sua dignidade. E foi isso que Dina Brandão fez de imediato quando, no primeiro dia do ano, resgatou um cão que andava desorientado, assustado e a cambalear pela estrada principal de Anços, no concelho de Sintra, em Portugal.
O seu temor não era para menos. Gaspar – nome que a sua protetora lhe deu – pouco vê e pouco ouve. Terá sido, talvez, uma das dezenas de cães que fugiram assustados das suas casas com o barulho do fogo-de-artifício na passagem de ano. Uns há que são de imediato procurados pelos donos – e que se vê que estão estimados e bem tratados. Outros, como Gaspar, encontram nesta fuga a esperança de dias melhores quando pelo caminho são encontrados por alguém que não lhes vira as costas. E a tempo de não morrerem atropelados debaixo de um carro.
“Eu apanhei o Gaspar no dia 1 de manhã. Andava pela estrada assustado e desorientado. Não sei se fugiu por causa dos foguetes, mas, se assim foi, eu até fiz publicações a alertar para esse facto e para a necessidade de ficarem bem fechados e nunca acorrentados – por poderem ficar estrangulados. Até ensinei como acalmar um animal durante o lançamento do fogo-de-artifício”, conta Dina Brandão à PiT. Mas o certo é que, por mais alertas que se publiquem, há sempre muitos animais desaparecidos nesta noite – e parte deles nunca regressa a casa.
Neste caso, Dina diz que se Gaspar fugiu por causa dos foguetes, “então ainda bem, porque ele devia estar num local com péssimas condições”. “Não dá para perceber se estaria acorrentado. Está de tal forma magro que, se tinha coleira, estaria muito larga, pois não vejo marca dela”.
Gaspar não tem chip
Depois de o recolher da estrada, Dina acolheu-o em casa e no dia seguinte, 2 de janeiro, estava já no canil municipal para verificar se tinha chip e depois decidir o que fazer. Não tinha chip. “E que bom, porque este cão idoso, que terá entre 15 a 18 anos, que está neste estado de magreza extrema, desidratado, com uma infeção grave na próstata, não vai sair mais de minha casa”, anunciou.
Gaspar já foi vacinado e desparasitado interna e externamente. Também já fez exames e agora Dina aguarda pelos resultados das análises. Levou uma injeção de antibiótico e está também medicado para a infeção na próstata. E resta esperar pelo melhor.
“Ele é muito meigo”, diz Dina à PiT. “Até ter o resultado das análises, está separado do cão e da cadela que tenho. Está na garagem, com todo o conforto. Na hora de o levar a sair um pouco, coloco os meus na varanda e passeio com ele pelo terreno, que está vedado, e os outros conseguem vê-lo”. Começam assim a habituar-se à sua presença. Está tudo a ser feito com os devidos cuidados e Gaspar não poderia ter tido melhor sorte.
Dina explica que Gaspar está com 10 quilos e que, pelo porte, deveria ter pelo menos 18. “Está muito esquelético. Vamos aguardar pelo resultado das análises e vamos ver como reage à medicação e se ganha peso”, afirma esperançosa.
Agora é esperar pela evolução do tratamento e ver como reage. Entretanto, tem boa comida e os seus olhos cansados são limpos com soro. E amor é algo que agora não lhe falta.
“Terá nova consulta daqui a 8 dias, quando acabar a medicação, e a veterinária vai entrando em contacto comigo até lá para eu relatar o estado do velhinho. Se notar fezes moles, vomitado ou outro sintoma anormal, vou directamente com ele à veterinária. É assim que está combinado”, explica.
A dignidade que Gaspar merece
Seja o que for que venha a seguir, uma coisa é certa: agora será tratado com dignidade. “O Gaspar vai ter um fim de vida digno, já tem água e comida à disposição, não vai mais ver a corrente e não vai dormir mais no chão de terra”, afiança Dina Brandão.
Dina não está sozinha nesta sua luta por este sénior. A Rustikices – página onde se pode comprar artigos para animais e cujas vendas revertem na totalidade para a causa animal, já que as suas mentoras pagam despesas veterinárias, estadias em hotéis [uma solução encontrada por quem não consegue acolher em casa] e alimentação de cães seniores e abandonados – anunciou que vai apadrinhar o Gaspar “e ajudar nas despesas deste menino para que tenha um fim de vida digno”.
“Quem quiser ajudar, pode comprar os nossos artigos ou fazer donativos. Os donativos feitos à Rustikices deverão ter ‘Gaspar’ no descritivo. Também poderão fazer diretamente à Dina, bastando entrar em contato por mensagem privada. As vossas compras e ajudas servem para estes casos, além de todos os que já publicámos. E só convosco é possível”, frisa a Rustikices.
Dina Brandão tem um desejo para quem deixou o Gaspar no meio da estrada naquele estado: “que o Universo te dê tudo o que mereces”. “Mais um motivo para dia 21 estar na manifestação para combater e evitar que este tipo de situações se repitam”, remata, aludindo ao protesto que está a ser organizado pelo grupo Intervenção e Resgate Animal devido ao facto de a lei que criminaliza os maus-tratos a animais desde 2014 estar em vias de se tornar definitivamente inconstitucional. O arquivamento do processo-crime sobre o caso conhecido como “o incêndio da Agrela” foi a gota de água.
Percorra a galeria para ver algumas fotos de Gaspar – que em breve, se tudo correr bem, estará bastante diferente e mais gordinho.
Por Alexandra Ferreira
Fonte: Pit / mantida a grafia lusitana original