Golfinhos têm de “gritar” para compensar os ruídos feitos pelos humanos no oceano

Todos nós já estivemos de aumentar o tom da voz num concerto, numa discoteca ou quando estávamos próximos de uma construção. Por vezes, não há problema algum em falarmos mais alto. Contudo, quando o barulho é incómodo e temos de o compensar, é fácil ficarmos frustrados. E nós, humanos, não somos os únicos. Um novo estudo revelou que os golfinhos também estão a enfrentar um cenário semelhante.
A pesquisa publicada na revista Current Biology na passada quinta-feira, 12 de janeiro, concluiu que os animais estão a “gritar” uns com os outros para conseguirem comunicarem-se ou completar atividades diárias. O motivo? A poluição sonora causada pela atividade humana.
O estudo acompanhou um casal de golfinhos, Delta e Reese, e observou o seu comportamento face a diferentes ruídos no ambiente onde estavam. “Num bar muito barulhento, aumentamos o volume da nossa voz. Os golfinhos respondem de maneira semelhante, estão a tentar compensar, mas há algumas falhas de comunicação”, disse Pernille Sørensen, a principal autora da pesquisa e estudante da Universidade de Bristol, em Inglaterra.
O exercício feito por Delta e Reese com a ajuda de um treinador era simples: tinham de nadar em direções diferentes e chamar um ao outro debaixo de água, tendo a certeza de que estavam em boas posições para empurrarem ambos os narizes contra dois botões localizados em lados opostos das docas. A dupla já estava acostumada com a atividade mas dessa vez, teve de a repetir com ruídos em diferentes volumes debaixo de água.
Nas diversas tentativas, os investigadores observaram que os animais compensavam os níveis crescentes de ruídos alterando o volume e a duração das suas “vozes”. No entanto, nem sempre conseguiam. Segundo a pesquisa, do volume mais baixo ano mais alto, a taxa de sucesso do exercício caiu de 85 por cento para 62,5 por cento.
“Estes resultados realçam realmente a necessidade de estarmos atentos à forma como o ruído afeta as tarefas de grupo em animais selvagens”, disse Pernille M. Sørensen, co-autora do estudo, bióloga comportamental e candidata a doutoramento na Universidade de Bristol.
Além de aumentaram a frequência da “voz”, foi observado uma mudança na linguagem corporal dos animais. Durante a realização do exercício em ruídos mais altos, Delta e Reese procuraram nadar mais próximos um do outro. “Apesar de as suas tentativas de compensar, de estarem altamente motivados e do facto de conhecerem tão bem esta atividade em conjunto, o ruído prejudicou a sua capacidade de coordenação”, partilhou Sørensen.
Na água, o som viaja cerca de 4,5 vezes mais rápido do que no ar. Por causa disso, vários animais marinhos tiveram de aprender a confiar nos ruídos para conseguirem realizar atividades diárias como caça, navegação e evitar predadores. Além disso, ouvem os sons em frequências diferentes. Enquanto os peixes ouvem em baixa frequência, os cetáceos (golfinhos e baleias) podem apanhar sons até 200kHz.
Nas últimas décadas, os ruídos nos oceanos multiplicaram-se. Entre os mais comuns estão os sons das embarcações, explorações sísmicas, perfurações de petróleo e parques eólicos. Como resultado, têm sido associados a encalhes, doenças e mudanças comportamentais nos animais aquáticos. Segundo Mauricio Cantor, ecologista comportamental da Oregon State University em Newport entrevistado pelo “The New York Times”, os impactos da poluição sonora podem vir a afetar a ingestão de alimentos e a capacidade de reprodução dos animais.
Por outro lado, não é a primeira vez que os golfinhos apresentam semelhanças aos humanos. Uma pesquisa publicada há cerca de um mês na revista científica “European Journal of Neuroscience”, concluiu que os animais podem sofrer de Alzheimer, a doença neurodegenerativa mais comum e a principal causa de incapacidade e dependência nas pessoas mais velhas. A conclusão foi feita após os cérebros de três cetáceos encontrados encalhados na costa marítima da Escócia revelaram características da doença.
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Por Izabelli Pincelli
Fonte: Pit