Governo Basco promove festa em que arrancam cabeças de gansos mortos
No dia 5 de setembro foi realizado, em Lekeitio (Biscaia), o “Antzar Eguna”, uma competição controversa criticada por grupos de animalistas. Os participantes podem escolher entre aves artificiais ou de carne e osso, sacrificadas antes do evento.
Mãos firmes, braços preparados e muita concentração. Tudo acontece em pouco tempo, portanto não há espaço para erros. Também não deve se distrair se a cena for vista do público: o pescoço de um ganso se quebra rapidamente. Nesse dia, a cidade de Lekeitio, em Biscaia, comemorou novamente o “Dia dos Gansos”, uma antiga festividade onde ainda hoje são usados animais de carne e osso (embora já estejam mortos).
“Simplesmente assustador”, disse ao site “Público” a veterana ativista dos direitos dos animais Kontxi Reyero. A porta-voz da organização Colectivo Animalista e Antitaurino de Bizkaia (CAAB) alerta que os gansos “são trazidos vivos da França e sacrificados na Prefeitura” antes do início da competição. “Suponho que, se os trouxessem mortos da França, perderiam rigidez, enquanto recém-mortos o pescoço é resistente aos puxões dos selvagens”, acrescenta a ativista. Este jornal entrou em contato com o executivo municipal para confirmar esse aspecto, mas não foi possível obter nenhum tipo de declaração.
A polêmica tem estado sobre a mesa durante as últimas décadas. O fato é que até 1984 se arrancava a cabeça de gansos vivos, enquanto desde 2014 é oferecida a possibilidade de usar animais artificiais, criados expressamente para uso nesse ato. Segundo os dados oferecidos pelo município de Lekeitio, 62 das 95 equipes que participaram este ano optaram por fazê-lo com o animal mecânico projetado pelo centro de tecnologia Gaiker-IK4, enquanto 33 mantêm a tradição de usar aves mortas.
No ano passado, um total de 90 equipes participaram do evento, onde 56 das quais optaram pelo animal de plástico e as 34 restantes por gansos reais. Segundo dados do Executivo Municipal, o número de equipes que usam gansos mecânicos vem aumentando a cada ano.
Atualmente, essa festividade aparece na agenda do site de Turismo do Governo Basco na Internet, onde o dia é descrito em detalhes. “Em 5 de setembro, Lekeitio sediará seu festival mais importante dentro dos San Antolines: o “Antzar Eguna”, ou Dia dos Gansos, uma tradição de mais de 300 anos. O porto da cidade costeira será novamente o protagonista do dia. Lá, como todos os anos, milhares de Lekeitiarras se vestem de cor tijolo com a blusa azul típica e o lenço xadrez de pescador para começar o feriado”, diz ele.
Depois vem a descrição do momento central do ato. “Sendo as equipes os protagonistas da festa, vários jovens sobem em pequenas embarcações e um a um pegam o ganso pelo pescoço e se jogam na água”, conta. Então, um grupo começa a puxar a corda subindo e descendo o ganso com a intenção de cortar sua cabeça.” O governo basco destaca que “é um dos shows mais conhecidos do País Basco”. “Além disso, o dia termina com música e inúmeras apresentações de rua”, acrescenta.
Fontes da Secretaria de Turismo do Governo Basco disseram ao “Público” que o Dia dos Gansos aparece em sua agenda do mesmo modo que se incluem “muitas outras” festividades, como a Semana Grande das principais cidades bascas. “Como promoção turística, sugerimos lugares para visitar ou festas, as mais conhecidas no País Basco, para se assistir”, disseram.
“Mercadorias”
Na plataforma anti-especista Nor, o tema é visto com outros olhos. “O fato de que este tipo de festividades que tem como base a exploração animal siga vigente é triste, mas normal”, observa Maialen Sagüés, porta-voz do grupo. A seu ver, “tudo isso está baseado em uma sociedade especista, na qual os animais são entendidos como mercadoria e não como seres sencientes”. Ela também destacou que “o maior problema destas festas é que leva a violência contra os animais ao espaço público e ajuda a normalizá-la ainda mais”. “É uma barbaridade e uma selvageria”, acrescenta Kontxi Reyero do Colectivo Animalista e Antitaurino de Vizkaia.
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Por Danilo Albin / Tradução de Flavia Luchetti
Fonte: Público