Governo Basco promove festa em que arrancam cabeças de gansos mortos

Governo Basco promove festa em que arrancam cabeças de gansos mortos
Imagem de arquivo do Día dos Gansos en Lekeitio. MIGUEL TOÑA / EFE

No dia 5 de setembro foi realizado, em Lekeitio (Biscaia), o “Antzar Eguna”, uma competição controversa criticada por grupos de animalistas. Os participantes podem escolher entre aves artificiais ou de carne e osso, sacrificadas antes do evento.

Mãos firmes, braços preparados e muita concentração. Tudo acontece em pouco tempo, portanto não há espaço para erros. Também não deve se distrair se a cena for vista do público: o pescoço de um ganso se quebra rapidamente. Nesse dia, a cidade de Lekeitio, em Biscaia, comemorou novamente o “Dia dos Gansos”, uma antiga festividade onde ainda hoje são usados ​​animais de carne e osso (embora já estejam mortos).

“Simplesmente assustador”, disse ao site “Público” a veterana ativista dos direitos dos animais Kontxi Reyero. A porta-voz da organização Colectivo Animalista e Antitaurino de Bizkaia (CAAB) alerta que os gansos “são trazidos vivos da França e sacrificados na Prefeitura” antes do início da competição. “Suponho que, se os trouxessem mortos da França, perderiam rigidez, enquanto recém-mortos o pescoço é resistente aos puxões dos selvagens”, acrescenta a ativista. Este jornal entrou em contato com o executivo municipal para confirmar esse aspecto, mas não foi possível obter nenhum tipo de declaração.

A polêmica tem estado sobre a mesa durante as últimas décadas. O fato é que até 1984 se arrancava a cabeça de gansos vivos, enquanto desde 2014 é oferecida a possibilidade de usar animais artificiais, criados expressamente para uso nesse ato. Segundo os dados oferecidos pelo município de Lekeitio, 62 das 95 equipes que participaram este ano optaram por fazê-lo com o animal mecânico projetado pelo centro de tecnologia Gaiker-IK4, enquanto 33 mantêm a tradição de usar aves mortas.

No ano passado, um total de 90 equipes participaram do evento, onde 56 das quais optaram pelo animal de plástico e as 34 restantes por gansos reais. Segundo dados do Executivo Municipal, o número de equipes que usam gansos mecânicos vem aumentando a cada ano.

Atualmente, essa festividade aparece na agenda do site de Turismo do Governo Basco na Internet, onde o dia é descrito em detalhes. “Em 5 de setembro, Lekeitio sediará seu festival mais importante dentro dos San Antolines: o “Antzar Eguna”, ou Dia dos Gansos, uma tradição de mais de 300 anos. O porto da cidade costeira será novamente o protagonista do dia. Lá, como todos os anos, milhares de Lekeitiarras se vestem de cor tijolo com a blusa azul típica e o lenço xadrez de pescador para começar o feriado”, diz ele.

Depois vem a descrição do momento central do ato. “Sendo as equipes os protagonistas da festa, vários jovens sobem em pequenas embarcações e um a um pegam o ganso pelo pescoço e se jogam na água”, conta. Então, um grupo começa a puxar a corda subindo e descendo o ganso com a intenção de cortar sua cabeça.” O governo basco destaca que “é um dos shows mais conhecidos do País Basco”. “Além disso, o dia termina com música e inúmeras apresentações de rua”, acrescenta.

Fontes da Secretaria de Turismo do Governo Basco disseram ao “Público” que o Dia dos Gansos aparece em sua agenda do mesmo modo que se incluem “muitas outras” festividades, como a Semana Grande das principais cidades bascas. “Como promoção turística, sugerimos lugares para visitar ou festas, as mais conhecidas no País Basco, para se assistir”, disseram.

“Mercadorias”

Na plataforma anti-especista Nor, o tema é visto com outros olhos. “O fato de que este tipo de festividades que tem como base a exploração animal siga vigente é triste, mas normal”, observa Maialen Sagüés, porta-voz do grupo. A seu ver, “tudo isso está baseado em uma sociedade especista, na qual os animais são entendidos como mercadoria e não como seres sencientes”. Ela também destacou que “o maior problema destas festas é que leva a violência contra os animais ao espaço público e ajuda a normalizá-la ainda mais”. “É uma barbaridade e uma selvageria”, acrescenta Kontxi Reyero do Colectivo Animalista e Antitaurino de Vizkaia.

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Por Danilo Albin / Tradução de Flavia Luchetti

Fonte: Público

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