Governo federal pode destruir santuário de pássaros com novo autódromo no RJ

A floresta do Camboatá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, corre risco de ser devastada. Há quase dez anos, o local é alvo do interesse público e privado para dar lugar a um novo circuito automobilístico na cidade, mas a ideia tomou força no ano passado, quando o prefeito da cidade, Marcelo Crivella, o governador do estado, Wilson Witzel, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, assinaram um termo de compromisso sobre o tema. A intenção é transferir o circuito do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de Interlagos, em São Paulo, para o Rio.
A área de vegetação, localizada em Deodoro, é considerada um refúgio para muitas aves que migram do sul para o sudeste do país durante o inverno. A floresta ocupa um espaço de quase 200 hectares e está localizada muito próxima à Avenida Brasil, uma das principais vias da cidade.
Ali, segundo ambientalistas, é possível encontrar animais como o jacaré-de-papo-amarelo e a ave saíra-sapucaia. Em entrevista à “BBC”, o pesquisador Haroldo C. Lima, membro do Movimento SOS Floresta do Camboatá, afirmou que o local é uma espécie de ponto de parada para animais que precisam transitar entre outras partes da mata. “Com o avanço da cidade, florestas de terras baixas foram quase todas suprimidas. A floresta do Camboatá pelo menos continua fazendo esse papel de ponto de ligação”, explicou.
Algumas espécies podem transitar direto entre uma floresta e outra, mas outras precisam desses pontos de parada.
A localização da floresta também ajuda a amenizar o clima quente da região. Bairros ao redor do Camboatá são conhecidamente alguns dos que apresentam as maiores temperaturas em dias quentes na cidade.

A Rio Motorsports, conjunto de empresas do setor, venceu a licitação para realizar a construção do autódromo. Como única concorrente, levou o orçamento de R$ 697 milhões e o direito de comandar o circuito por 35 anos. Ao comentar o caso em oportunidades anteriores, a companhia afirmou que criaria um horto florestal e plantaria 700 mil árvores como forma de remediar o desmatamento.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro tem sido um grande aliado ao tentar evitar que a floresta seja destruída. Graças ao apoio da instituição, foi evitada a realização de uma audiência pública sobre a construção do projeto. A reunião é uma etapa necessária no processo para a liberação dos trabalhos. A decisão, no entanto, foi revertida na semana passada pelo ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a convocação da audiência. O MP-RJ recorreu da decisão.
Um estudo de impacto ambiental apresentado pela Rio Motorsports é questionado pelo Movimento SOS. “O estudo é bom, mas tem problemas. A empresa que o elaborou usou dados de forma tendenciosa para poder dizer que ali é o lugar em que o autódromo causará menos impacto ambiental, o que é uma conclusão quase ridícula. A área do Camboatá é a que tem a maior cobertura florestal entre as opções”, explica o pesquisador à “BBC”.

Fonte: Hypeness