Incerteza sobre vídeo retarda início do julgamento de maus-tratos a frangos no Canadá

Incerteza sobre vídeo retarda início do julgamento de maus-tratos a frangos no Canadá
Um funcionário de uma empresa agrícola baseada em Chilliwack foi visto jogando galinhas em um vídeo secreto filmado em 2017 pela organização ativista de direitos dos animais Mercy for Animals, da Califórnia. / Mercy For Animals

Os atrasos continuam no caso da alegação de maus-tratos a frangos nas granjas de Fraser Valley, pois os advogados das duas empresas acusadas continuam a se recusar a entrar com uma apelação ou escolher o tipo de julgamento.

Os advogados da empresa de coleta de frangos Elite Farm Services Ltd., o proprietário da companhia, Dwayne Paul Dueck, e a Sofina Foods, de Ontário, estiveram segunda-feira no tribunal de Chilliwack, e pela terceira vez o juiz Gary Cohen perguntou aos dois advogados se estavam prontos para a acusação.

“Em uma resposta curta é “não”, disse Martin Finch, que representa a Elite e Dueck.

Nas aparições anteriores, em maio e junho, o advogado da Finch e da Sofina, Morgan Camley falou que a revelação da Agência Crown sobre a evidência do vídeo clandestino e o equipamento usado pelos ativistas de direitos dos animais da Califórnia estavam incompletos.

O caso refere-se a 2017, quando o grupo ativista Mercy for Animals divulgou o vídeo secreto realizado na fazenda Fraser Valley que mostrava empregados a lacerar aves vivas, assim como pisotear, chutar e jogar as galinhas.

AVISO: Este vídeo mostra imagens chocantes de maus-tratos a animais que podem incomodar algumas pessoas.

VÍDEO Youtube/Mercy For Animals

Mais de um ano depois, Elite, Dueck e Sofina receberam 38 acusações cada conforme a Regulamentação de Saúde dos Animais em conexão com a agressão alegada às aves em fazendas da região.

Os empregados foram demitidos, as empresas expressaram consternação a estas atitudes e ações destes funcionários e a organização BC Chicken Marketing Board manifestou sua aversão às práticas mostradas em vídeo.

Mas é este vídeo que continua sendo o ponto crucial neste caso e vem provocando a demora para conduzi-lo a julgamento.

O principal problema para a demora da acusação é, essencialmente, que se a evidência vista em vídeo tiver sido manipulada, então a defesa vai querer que o caso seja apresentado diante de um júri. Se um especialista examinar o vídeo e determinar que não foi editado, além do que já foi admitido, então o caso torna-se muito mais simples e se configura adequado diante de apenas um juiz.

“Tivemos que passar por estas etapas porque esta evidência chave não é uma evidência pequena, mas é a evidência,” disse Camley ao tribunal no dia 30 de julho.

Até recentemente, a defesa não sabia o tipo de equipamento usado pela Mercy For Animals, por isso seu especialista não conseguiu ter uma opinião sobre a evidência mostrada no vídeo. Desde a apresentação no tribunal em junho e outra em 30 de julho, o especialista, David McKay, presidente do Blackstone Forensics de Vancouver, soube que foi utilizado equipamento personalizado de câmera secreta, feito especificamente para esta finalidade.

“Estes dispositivos são tipos altamente sigilosos criados para filmagens secretas de vídeos”, Finch disse no tribunal.

Quando o juiz Cohen foi informado que a defesa requisitou um terceiro adiamento, que esteve no tribunal por 223 dias e se referia a acusações com mais de dois anos, ele imediatamente expressou seu desagrado em ter concordado em adiar os procedimentos por duas vezes para tratar de questões técnicas.

“Se isto levar mais de uma semana, considero-o juiz e júri eleito,” afirmou Cohen aos advogados.

A advogada de Sofina, Camley, iniciou sua resposta expressando sua preocupação com esta possível decisão.

“Se levar mais de uma semana, considero-o juiz e júri eleito”, disse Cohen aos advogados.

Cohen interrompeu.

“Entendo sua preocupação, mas a preocupação da Suprema Corte do Canadá é Jordan,” disse, referindo-se à decisão de R v. Jordan de 2016, que criou um prazo limite para que todos os canadenses tenham os casos resolvidos, ou seja, 18 meses no tribunal da província e 30 meses na Suprema Corte.

Camley respondeu dizendo que sem o gravador de vídeo analisado por um especialista, ela não sabe quantos especialistas serão necessários para a defesa.

“Estas são as acusações mais graves têm ramificações significativas”, disse ela.

“Até mesmo um assassinato deve ser julgado em 30 meses” afirmou Cohen.

“No caso de acusações de assassinato, minha expectativa é que a divulgação teria sido feita de forma mais abundante”, respondeu Camley.

A resposta de Cohen, algo também sugerido pela Crown, foi, na verdade, que a defesa poderia entrar com um apelo e eleger um modo de julgamento naquele dia, e se preocupar com os detalhes das evidências que levaram ao julgamento ou a uma investigação preliminar.

Cohen disse aos advogados que estava pensando em invocar a ordem sob a seção 536 do código penal. A seção concede ao juiz autoridade para ordenar a votação quando que um acusado declina ou se recusa a denunciar.

Finch respondeu que a seção 536 tem a intenção de lidar com um acusado que se recusa ativamente a alegar ou que é tão indiferente ou passivo para não ter nenhuma posição.

“Essa não é a situação aqui”, disse Finch. “Não é como se estivéssemos em silêncio.

Depois de um breve recesso, os advogados de defesa voltaram, com a conselheira da Crown, Jessica Lawn, ainda se opondo, a dizê-los que renunciaria ao período de atraso para evitar ramificações de Jordan.

Cohen disse que as ramificações de Jordan eram a sua maior preocupação, que ele estava inclinado a conceder mais tempo para os especialistas da defesa se apossarem do equipamento de vídeo usado pelos ativistas dos direitos dos animais.

O caso foi protelado para o dia 28 de agosto às 14h em Surrey, quando o juiz disse que a defesa teria de acusar, ou ele faria isso por ela.

Por Paul Henderson / Tradução de Katia Buffolo

Fonte: The Progress


Nota do Olhar Animal: A forma como são maltratados nas “linhas de produção” da indústria da morte merece repúdio, mas é apenas um agravante em relação à injustiça e violência maiores, consumadas com o abate.

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