Jovens dedicam a vida para salvar animais de rua em Teresina, PI

Jovens dedicam a vida para salvar animais de rua em Teresina, PI
Shayana Camelo e Luna Karoline se dedicam a salvar animais de rua (Foto: aquivo pessoal)

Dedicar 365 dias do ano à causa animal. Isso ainda é pouco para os protetores de animais, pessoas que abdicam dos raros momentos de folga e até mesmo do tempo e dinheiro que não têm, para cuidar de bichinhos de rua. Em Teresina há um verdadeira corrente do bem formada por gente que tem em comum o amor incondicional pelos bichos. Muitas destas pessoas são anônimas que de alguma forma querem ajudar e contribuem na medida do possível; outras são voluntárias que se dedicam dia e noite em prol da causa.

Luna Karoline é protetora independente e tem nove animais em casa, todos adotados e castrados. Ao longo de três anos dedicados a ajudar os animais de rua, ela já perdeu a conta da quantidade de resgates, mas diz que facilmente ultrapassa 50 cães e gatos.

“Não sei nem precisar quantos animais já resgatei. Se contar com os que, mesmo tendo a sorte de serem resgatados não resistiram ao tratamento, as ninhadas de filhotes e com os que, graças a Deus, foram resgatados, tratados, adotados e estão hoje saudáveis e em ótimas famílias, esse número passa fácil dos 50 animais”, disse Luna, mãe dos gatos Melisso, Kadinho, Galego, Laurinha e Felicia, e dos cães Lady, Luck e Brigitte (filhos da Lady) e Julieta.

Em geral, os protetores de animais em Teresina só resgatam animais de pequeno porte. Um dos empecilhos para ajudar equinos e asininos, por exemplo, é a falta de Lar Temporário (LT), uma dificuldade também em casos com cães e gatos.

“Só tenho como resgatar cães e gatos porque animais do porte dos cavalos, por exemplo, demandam lares temporários ou definitivos bem maiores e, muitas vezes, não consigo nem para os bichinhos de pequeno porte. Acabo tendo que pagar um valor mensal para que o animal possa ficar em determinada casa aos cuidados de alguém até ele ser adotado”, destaca Luna.

A vontade de ajudar mais fez com que a auxiliar administrativa e estudante de Fisioterapia, Shayana Camelo, fundasse a ONG Protetores de Patinhas em 2014. Ela também perdeu a noção do número de cães e gatos resgatados, mas estima que ultrapassa de 100 bichos.

“Gosto de animais desde a infância e percebia que poucas pessoas se importavam com o bem-estar deles. Não foi nada planejado. Eu queria ajudar um aqui; outro ali e assim foi indo. Eu os alimentava na rua, levava para a clínica e isso se tornou um trabalho voluntário”, disse Shayana Camelo.

A ONG Protetores de Patinhas frequentemente faz campanha para ajudar voluntários que dão LT aos animais de rua. No momento há 15 animais nessa situação e que precisam de ração, materiais de limpeza e também medicamentos.

Castração para evitar novos abandono

Se não bastasse o sofrimento de serem abandonados, muitos dos cães e gatos resgatados na rua ainda são de difícil adoção. Em outras palavras, Luna Karoline diz que as pessoas só querem um cão ou gato ‘perfeitos’.

Antes e depois da Aparecida, cadelinha resgatada pela protetora Luna Karoline (Foto: Luna Karoline / arquivo pessoal)

“Existe muito preconceito. No geral, as pessoas só querem animais de raça, de porte pequeno, peludinhos e saudáveis. Infelizmente, a maioria dos animais que resgatamos em situação de abandono ou de maus-tratos não têm essas características; os que têm, normalmente, estão com algum problema de saúde e precisam de tratamento”, disse a protetora independente.

Já a presidente da ONG Protetores de Patinhas acrescenta que cadelas adultas também são de díficil adoção.

“As fêmeas adultas são de difícil adoção. Para a gente melhorar a aceitação só entregamos os animais castrados. Já os filhotes a gente tem um termo de adoção responsável que o adotante assina e a gente sabe o período de tempo que o filhote vai poder ser castrado. Daí fazemos esse acompanhamento e arcamos com a castração desse filhote também. É uma forma de previnir novos abandonos e melhorar a qualidade de vida desses animais”, explica a presidente da ONG.

Já a protetora independente cita o caso das cadelas Vitória e da Mel que estão há mais de um ano em Lar Temporário e não conseguem adoção. As duas cadelas são saudáveis e estão à espera de um lar. Quem quiser adotá-las deve entrar em contato através do (86) 9986-6200.

Mel e Vitória estão à espera de um lar (Foto: arquivo pessoal

Adoção responsável

Para minimizar o futuro abandono, as protetoras têm um cuidado especial na hora de doarem os animais resgatados. Luna Karoline diz que é bastante criteriosa e explica o motivo de tanta preocupação.

“A adoção é algo cada dia mais difícil, principalmente, para os animais que resgato. Sou muito cautelosa para entregá-los. Faço entrevistas com os interessados, visito a casa antes de levar o animal para saber se as informações dadas são verídicas e se o local é adequado pra recebê-lo. Só depois levo o animal com o termo de adoção para que o adotante assine junto comigo se comprometendo a ser responsável por ele a partir daquele momento”, frisa Luna Karoline.

Custos

Shayana cuida de um cãozinho resgatado (Foto: Shayana Camelo / arquivo pessoal)

As despesas com o resgate é outra batalha que os protetores de animais enfrentam. Por menores que sejam os custos, as duas protetoras não contam com apoio do poder público e conseguem fazer os resgates com ajuda de quem se solidariza com a causa. Bingos, rifas e eventos também são realizados para arrecadar dinheiro e pagar despesas em clínicas veterinárias, entre outras.

“Graças a Deus tenho muitos amigos na causa que se tornaram parceiros nesse sentido da ajuda financeira. Sempre faço prestação de contas de cada centavo recebido e pago. Dessa forma, já tenho algumas pessoas que confiam no que faço e sempre me ajudam. Nunca tive medo do valor da conta porque sei que posso contar com ajuda de quem também ama os animais”, contou Luna Karoline.

Já Shayana cita que a ONG só consegue ajudar animais de ruas em situação de risco.

“Infelizmente, não temos como resgatar todos os animais de rua porque não temos abrigo, não temos ajuda do Governo. A gente busca resgatar os mais debilitados, levamos para a clínica onde é feito o tratamento e colocamos pra adoção”.

Convivendo com as perdas

Os resgates de animais de rua se confundem com histórias de sofrimento, sentimento que se estende aos protetores quando não conseguem salvar vidas.

“A história do Castanha me comoveu muito. Ele estava com metade da cabeça devorada por larvas, muito debilitado. O quadro de infecção era alta e passou quase dois meses internado, mas morreu ao tomar uma anestesia que era necessária para que ele passasse uma cirurgia em que seria retirado o tecido de uma outra parte do corpo para colocar na cabeça. A perda é sempre difícil. Alguns casos tocam bastante a gente, pois existem animais que nos conquistam só com o olhar, eles passam aquela vontade de viver, de se recuperar”, relembra a presidente da ONG Protetores de Patinhas que conta atualmente com 21 voluntários.

Castanha morreu na mesa de cirurgia após dois meses de internação (Foto: Shayana Camelo / arquivo pessoal)

Pequenos gestos fazem a diferença

Se dedicar à causa animal é também ouvir: “Ah…devia está cuidando de gente”. Shayana relata que, de tanto escutar isso, já não se importa.

“Existem milhares de instituições que cuidam de pessoas, mas quantas cuidam de animais? Há tantas pessoas comprometidas com a causa? Os animais merecem o mesmo cuidado e atenção e não tem metade das pessoas preocupadas com isso. Então eu faço o meu. Geralmente digo que cada um cuida daquilo que lhe toca o coração”, desabafa Shayana que diz que pequenos gestos fazem a diferença.

“Ser protetor ou protetora de animais, acho que todo mundo pode. Não tem isso de não ter dinheiro…é preciso ter boa vontade, amor e solidariedade . Até mesmo o ato de você sair de casa levando ração já é um ato de amor, de carinho, de proteger e cuidar, pois você pode ajudar algum animalzinho que está há muitos dias sem comer. Cada pessoa tem que fazer sua parte, seja tirar foto, buscar carona, tentar ajudar nos custos, ligar para o socorro e acompanhar. Todo mundo pode ser um pouquinho de protetor. Para quem gosta, não há limitações”, disse Shayana Camelo.

Sobre ser protetora, Luna Karoline diz que basta ter atitude.

“Não posso nem definir o que é ser protetor (a), pois para mim não é como uma profissão que você pode escolher. É algo que nasce no momento em que nos deparamos com um animal, independente de que espécie seja, mas que está precisando de socorro, de um pouco de comida ou ração, de um pouco de água, de um remédio pra dor. Qualquer um de nós pode ser protetor, basta ter atitude de fazer o bem pra salvar aquela vida que Deus colocou diante de você”, ensina Luna Karoline.

Por Graciane Sousa

Fonte: Cidade Verde

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