Juiz de Fora (MG) está sem castrações públicas desde março

Juiz de Fora (MG) está sem castrações públicas desde março
A veterinária Nadja Leite explica que, além do controle populacional, a castração auxilia na prevenção de algumas doenças, principalmente em animais de rua (Foto: Fernando Priamo)

O serviço de castração pública está interrompido desde março de 2021 em Juiz de Fora. Por conta disso, várias entidades e organizações estão se mobilizando para tentar suprir a demanda reprimida e temem um aumento acentuado de animais nas ruas. A legislação municipal não obriga a realização de campanhas de controle populacional de cães e gastos e, conforme a Lei 12.345/2011, as ações ficam a critério do município. Questionado pela Tribuna, o Canil Municipal não soube informar o número de animais que estão na fila de espera na cidade.

Segundo o Canil Municipal, devido à falta de verbas, o serviço de castração também passou por diversas interrupções entre 2018 e 2019. Em reportagem publicada pela Tribuna em setembro de 2020, o programa itinerante de castração de animais, o castramóvel, havia retornado para diminuir a longa fila de espera resultante de três anos de funcionamento em meio a dificuldades financeiras. Na época, o serviço recebeu verba federal e tinha planos de funcionar até dezembro, a fila de animais esperando castração era de mais de 18 mil à época. O serviço permanece desativado desde então.

A Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora afirmou que está estabelecendo metas para retornar com o serviço ainda em 2021. “O processo da contratação da empresa que fará o serviço está em fase final e oportunamente será publicado no Diário Oficial do Município”, comunicou a pasta, em nota.

Sem a oferta do serviço público, a população de Juiz de Fora está recorrendo a organizações não-governamentais, como a Sociedade Juizforana de Proteção aos Animais, que, só em 2021, atendeu mais de 200 cachorros e gatos abandonados ou pertencentes a famílias de baixa renda. Tudo feito com recursos próprios. De acordo com Maria Elisa de Souza, presidente da entidade, o custo para castração desses animais ultrapassa o orçamento, que vem de doações e campanhas que a entidade organiza.

A operação é feita em clínicas veterinárias parceiras, que oferecem um preço mais em conta. “Mas a situação financeira está tão difícil para todo mundo que, quando tenho dinheiro para castração, eu levo. Mas se eu não tiver, não tem como levar e ficar devendo. Hoje em dia, temos mais de 600 animais sob nossa tutela, então só de ração para os adultos, nós gastamos em torno de R$ 20 mil por mês. No total, nossos gastos ficam em torno de R$ 30 mil, com alimentação e cuidado para os animais doentes. Ainda temos muitos animais que estão na fila para serem castrados, em torno de cem, entre cachorros e gatos.”

A demanda reprimida é preocupante, visto que a falta de castração só faz com que ela aumente. Conforme Maria Elisa, um cálculo realizado pela Sociedade Juizforana de Proteção aos Animais apontou que uma cadela, em cerca de dois anos, pode impactar na reprodução indireta de, no mínimo, 2.400 filhotes, considerando o ciclo de gestação continuada de sua descendência.

“Vemos que é um problema que precisa ser solucionado na base. A campanha de controle da Prefeitura ajuda bastante, mas ela precisa ter uma continuidade, não pode parar. Hoje em dia, Juiz de Fora tem uns 30 pedidos de castração para animais. São pessoas que entram em contato com o Canil Municipal e quando descobrem que eles não estão fazendo a castração vêm até a gente. Então esses 30 animais já estão entrando no cio e vão reproduzir de novo, dando luz a pelo menos seis filhotes que, ou vão ser doados irregularmente, ou vão morrer nos montes de lixo por conta do abandono.”

Rifas e arrecadações

Também com o objetivo de suprir a demanda de castrações no município, o projeto “Amor não tem raça”, organizado por cinco amigos, levanta fundos para custear as operações. Miriam Neder, uma das organizadoras, afirma que, desde o início de 2021, quando a Prefeitura interrompeu a castração pública, ela e os amigos custearam 133 castrações, entre cães e gatos. O dinheiro, às vezes, sai do bolso dos organizadores, mas na maioria vem de doações e ajudas de parceiros. “Para poder castrar os animais, a gente divide as despesas, fazemos rifas e arrecadamos dinheiro. No momento, nós estamos levantando fundos através de uma rifa no valor de R$ 10. Se eu vender todas, vamos arrecadar R$ 10 mil, e isso dá pra castrar, em média, 70 animais”, afirma Miriam.

Abandono na pandemia cresceu “desesperadamente”

De acordo com Maria Elisa, na Sociedade Juizforana de Proteção aos Animais, o número de animais resgatados após o abandono “cresceu desesperadamente”. Ela afirma que, além dos telefonemas para recolhimento de animais abandonados em diversos pontos da cidade, a quantidade de gatos e cachorros que são deixados nas portas da entidade também aumentou exponencialmente. “Nós estamos com um número de entradas absurdas. Pessoas deixam o animal amarrado aqui perto, com um bilhetinho dizendo que é para a ONG.”

Outro fenômeno que Maria Elisa ressalta é o que chama de “órfãos da pandemia”, animais que pertenciam a pessoas, geralmente idosas, e que vieram a falecer durante a pandemia. “São gatos, cachorros, que viviam com uma pessoa só e ela veio a falecer, geralmente não tem com quem ficar, são de famílias muito pobres, isso acontece muito.”

Esses animais que hoje lotam os abrigos da cidade para serem doados precisam ter a castração garantida. Miriam Neder, que possui 32 cachorros e gatos sob sua tutela, explica que na adoção consciente que promove, o animal já vai para casa da nova família com data para ser castrado. “Eu já entrego para os donos com a castração marcada. Às vezes, quando a família não tem condição de arcar com os custos, a única responsabilidade é deixar na veterinária e buscar a tarde. O valor a gente se esforça para tentar cobrir.”

Importância da castração

Para a veterinária e também apoiadora da causa animal, Nadja Leite, a oferta de castração pública pela Prefeitura é de extrema importância para o controle populacional de animais na cidade. “Quando o município não destina recursos para realização de castração, os animais de rua irão se reproduzindo de forma desenfreada. Diante disso, teremos cada vez mais animais abandonados, sendo que alguns entram em sofrimento por não terem comida, água e um abrigo, ficando expostos a altas temperaturas no calor e temperaturas baixas no frio”.

Além do controle populacional, Nadja também explica que a castração oferece benefícios à saúde no animal. “Evita tumor de mama, de próstata e biometria. Em gatos, devemos lembrar que existe a esporotricose, uma doença zoonótica. Gatos não castrados possuem mais acesso às ruas com instinto de se reproduzirem; nestas circunstâncias, eles brigam entre si, disseminando a doença”.

Como ajudar

Os interessados em ajudar a campanha de castração da Sociedade Juizforana de Proteção aos Animais podem entrar em contato através de WhatsApp pelo número (32) 99140- 033. A organização “Amor não tem raça” está mobilizando a venda de uma rifa, no valor de R$ 10, de uma escultura em ferro de São Francisco de Assis, feita por Yure Mendes. O segundo prêmio da rifa será uma caixa com 15 garrafas de cerveja Trela, doada pela Cervejaria Antuérpia. Os interessados em participar podem entrar em contato com o número (32) 999611971. Os prêmios serão sorteados no dia 18 de dezembro.

No Canil Municipal, os cadastros já existentes para fila da castração serão triados assim que o serviço for reativado e novos pedidos poderão ser realizados por meio da plataforma “Prefeitura Ágil” ou por ligação direta ao Departamento de Castração do Canil (32) 3234-3738.

Por Mariana Floriano, sob supervisão de Luciane Faquini

Fonte: Tribuna de Minas

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